Viagem programada naquele pacote básico da CVC pra Porto Seguro, eu estava tentando um programa diferente da dobradinha praia/piscina.
Mas achei poucas coisas na internet fugindo de cloro/sal. Aí me deparei com uma operadora de turismo oferecendo uma visita a uma aldeia indígena. Achei que era a maior pegadinha.
No hotel descobri que varias outras operadoras fazem. Mas é estilo drive-thru: tome um chá com o pajé, coma um peixe e assista uma dança. Desanimei. Mas fiquei cismada. E resolvi enfiar meu pai e dois meninos num táxi e ir por conta própria. E paguei língua pro resto da vida.
Visita a uma aldeia indígena
Do asfalto, você entra numa estrada de terra e chega numa cabana onde um índio fica lá de plantão. Ele será seu guia pela aldeia. Responde tudo! Até as perguntas mais sem noção do meu pai sobre se existe divórcio entre os índios e o que rola se pintar traição. Pra ver o nível…🙈
Tem uma conversa oficial na entrada que não fiz porque meus filhos arrumaram dois indiozinhos e sumiram. Aí vem o lado bom de ir sozinho: você fica o tempo que quiser. Rodamos a aldeia pelo olhar das crianças. Meus filhos perguntavam de um tudo. E os indiozinhos respondiam. Quando cansaram, aí fomos atrás do nosso índio-guia que circulou e mostrou armadilhas usadas até hoje para caçar animais, como eles cozinham os peixes, que depois devoramos, contou das aulas que rolam na aldeia… e depois vimos uma dança tradicional, tomei chá, enfim, fiz tudo e mais um pouco.
Feminismo na Tribo
Foi aí que descobri a história da aldeia. A reserva da Jaqueira, dos Pataxós, que fica na praia de Coroa Vermelha, em Porto Seguro foi aberta à visitação em 1998, quando 3 irmãs, 3 MULHERES, fugiram do do Fogo de 1951: um conflito armado no sul da Bahia causado pelo interesse de expropriação das terras dos indígenas. A aldeia Barra Velha onde viviam foi invadida, incendiaram as palhoças, violentaram mulheres e mataram integrantes da tribo.
Como sobreviventes, Nitynawã, Jandaya e Nayara rodaram sem rumo até fincar raízes nesta região, em meados dos anos 90. E já que precisavam de recursos para o sustento da tribo e preservação do lugar, as três optaram por abrir a aldeia para o turismo. Mas uma delas me contou que foi uma luta, porque os homens da aldeia não queriam.🙄🙄🙄
A área é de 827 hectares onde vivem 32 famílias, aproximadamente 120 pessoas. Elas moram lá, estudam, trabalham e preservam a Mata Atlântica. Mais que um modelo de turismo numa aldeia indígena, meus filhos vivenciaram uma experiência inesquecível. Sem palestra, sem ensaio, batendo papo, tentando cada um entender o outro. Um maravilhoso programa de índio. ❤
Sobre a vista à reserva:
1) Fica na praia de Coroa Vermelha, finalzinho de Porto Seguro;
2) Várias agências de turismo levam. Mas VÁ sozinho. Você pode ficar o tempo que quiser;
3) A entrada custa R$ 45. Criança paga meia.
4) Um índio será seu guia e vai rodar com você pelas matas, mostrar armadilhas para animais, tomará chá com o pajé e sua mulher, comerá frutas, visitará as escolas para crianças e adultos, além de comer o peixe incluso na entrada;
5) você tem liberdade para circular sozinho pelo local, por isso meus filhos amaram, já que as crianças indígenas queriam mostrar tudo a eles;
6) Eles mantém um local onde comercializam artesanato feito por eles;
7) Funciona de segunda a sexta das 8 às 17 horas e tem jeito de dormir na aldeia também!
Simplesmente, vá!