Sempre que eu vejo vídeos de violência na internet, eu me pergunto quem os divulgou e o porquê de fazê-lo. E sempre me pergunto quem está assistindo e que tipo de sentimento esses vídeos estão mobilizando naquelas pessoas, inclusive eu mesma.
Vídeos de violência na internet
Eu me lembro quando eu assisti o vídeo da morte daquele jovem chinês que caiu do alto de um prédio. E me arrependi tanto de ter assistido! Aquelas imagens me perseguiram, eu perdi o sono. Uma parcela da minha culpa não se devia ao fato de ter passivamente assistido uma tragédia sentada no meu sofá, via tela do meu computador. Mas pelo fato de que aquele garoto ter se matado para satisfazer as pessoas. Ele tinha um canal pago de vídeo e os assinantes pagavam, anonimamente, para vê-lo em situação de risco. E eu sentia que quando o vídeo da sua morte viralizou, cada um que deu um play estava dando mais um empurrãozinho para a queda, inclusive eu.
A humanidade
Vejam bem, a humanidade sempre ofereceu a si mesma a violência como espetáculo, a morte como fonte de gozo estético.
- na Antiguidade era o Coliseu,
- na Idade Média eram os castigos em praça pública,
- na Idade Moderna são os filmes e espetáculos audiovisuais de violência.
Ou seja, como passo civilizatório a gente sublimou a nossa necessidade de gozar pela violência. Ao invés de pessoas sendo despedaçadas na nossa frente, a gente vê o Stallone Cobra matando qualquer quantidade de gente numa única voada da moto.
Agora, com a internet, os vídeos de violência na internet, parece que isso tudo está se fundindo, que a gente está dando um passo pra trás.
Porque antes a gente sabia quem estava ofertando aquele tipo de atração (os imperadores, a Igreja, a indústria de entretenimento) e com que objetivo. Hoje as fontes são muitas e o anonimato é a regra. Como se estivéssemos sempre espiando pelo buraquinho da fechadura. Há uma pulverização e uma ausência física. E essa mediação, o fato de que você não está sentado numa arquibancada ao lado do outro que também vibra, te dá mais liberdade para também vibrar sem pudores.
Mas não esqueçamos que o rapaz que caiu do prédio realmente morreu, a menina no supermercado realmente foi abusada, a policial na porta da escola realmente cometeu um assassinato (mesmo que justificado).
O desumano
Aquilo que a gente aprendeu na escola, sobre o Coliseu e os castigos na Idade Média, sobre o não civilizado, sobre o desumano, aquela platéia que sempre nos chocou e nos assombrou com o seu desejo insaciável por morte e sangue, aquelas pessoas somos nós mesmos.
Lembrando que as pessoas que eram:
- entregues aos leões,
- esfoladas vivas,
- enforcadas,
- queimadas,
- desmembradas
Sempre foram:
- apátridas,
- infiéis,
- bruxas,
- ladrões,
- assassinos,
Toda a sorte de escória social para os pactos sociais de cada época e o gozo pela violência sempre esteve associado ao medo e ao sentimento de insegurança por parte da população, mesmo que seja insegurança moral, como no caso das bruxas.
E aí, eu te pergunto, você realmente deseja estar nessa platéia? Você realmente deseja ser aquele que vai jogar pedra ou aplaudir?
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