Nós, adultos, temos muita dificuldade em lidar com a morte. Me pergunto se isso é porque, quando crianças tentaram nos proteger disso. A morte é a única certeza que temos na vida, afinal. E sim, as crianças são capazes de lidar com essa questão. A história que a Ana de Cássia nos contou essa semana mostra que sim, que podemos falar com as crianças sobre a morte. Que elas são capazes de entender.
Sobre a Morte
E hoje eu falo que recebi a maior lição da minha vida, sobre a morte, com meu filho de 6 anos!
Hoje a vovó bisa Jenny (a “Bonitinha” do Bernardo, bisavó paterna) virou estrelinha…
Quando contei pro Bê, ele abraçou forte o Bu (bonequinho inseparável), ficou com os olhinhos cheios de lágrimas e falou:
_Mãe, ontem ela não acordou quando eu fui na casa dela pra dar um beijo. Mas eu dei tchau pra ela na porta do quarto. Essa noite eu rezei tanto pra ela não ir pro céu… mas ela foi hoje…
Aí eu dei um abraço nele e falei:
_Bê, ela já estava velhinha… agora o Papai do Céu vai cuidar dela. Vamos rezar para ela ficar bem e feliz? Onde quer que esteja?
Ele só concordou. E eu continuei:
_Hoje vai ser o velório, para nos despedirmos. Mas é um lugar onde todo mundo fica muito triste, porque fica com saudade de quem morreu. Se você não quiser ir, não tem problema. A mamãe te leva pra escola.
_Mãe, eu também estou muito triste e também quero me despedir da “minha bonitinha”.
Aí eu o levei com o coração apertado e decidida a deixá-lo livre para fazer só o que tivesse vontade. Quando chegamos, o corpo da vovó Jenny ainda não tinha chegado e ele não entendeu muito bem. Mas beijou e abraçou a todos, inclusive o vovô Biso. Sentou em um banquinho do lado de fora e se distraiu com o celular. Quando percebeu que ela “chegou”, gritou por ela e entrou correndo para vê-la. Eu e o Tiago ficamos preocupados e corremos atrás dele. Ao chegar no caixão, pegou na mão dela e fez uma carinha estranha (ela estava bem fria). Eu imaginei que ele fosse tirar a mão, mas não! Ele começou a fazer carinho nas mãos, nos braços e passou para o rosto dela, bem concentrado. Depois saiu, deu um beijinho no vovô biso, foi pro colo do pai e falou:
_É tão triste, né, papai?
Sentou no banquinho de novo e chorou. O Tiago o abraçou e o Bê falou:
_Chegou a hora dela, né, pai? (E começou a falar sobre Deus e o mundo. Como Deus fez tantas pessoas…)
Quando foi embora, falou:
_Eu não quero me despedir da vovó Juju… estou triste e ela vai ficar mais triste ainda se me vir…
E foi embora com a madrinha Maura.
Ao chegarmos em casa, falei pra ele entrar direto no banho e ele foi.
Eu fiquei com ele, que pediu pra eu fechar o olho. Quando eu abri, ele tinha desenhado uma estrela grande no box. Pediu pra eu fechar de novo e desenhou uma estrela pequenininha:
_Mãe, você tá vendo essa estrela “bonitinha”? Essa estrelona é o Papai dela. Ela acabou de nascer. Você sabia que Deus tem o poder de dar a vida?
Aí eu já estava engasgada e ele falou assim:
_Quando as estrelas nascem, elas conseguem andar e falar! Mas se alguém matar uma estrela ou se ela morrer sozinha, ela volta pra cá e vira uma pessoa de novo.
Aí ele saiu do banho cantando e eu perguntei:
_Você tá feliz, Bê?
_Tô muito feliz! Porque minha estrela “bonitinha” anda e fala!
Ele colocou o pijama e deitou. De repente, começou a chorar:
_Mãe! Eu quero ver a minha vovó Jenny agora!
_Bê, fecha o olho e pensa nela… pode conversar com ela na sua cabecinha porque ela estará sempre com vc.
Ele fechou os olhos e falou:
– Pronto, agora estou chorando de felicidade! Ela está protegida pelo Papai do Céu!
Alguém pode me explicar como essas coisas podem sair de um serzinho de 6 anos??? Dizem que as novas gerações são especiais… e eu digo que eles são muito mais preparados do que nós para entender o “inexplicável”…
Leia também: