Diante de uma infinidade de pensamentos, sonhos, medos, questionamentos que fazemos durante a gravidez a gente só entende que tudo vira supérfluo no momento em que aqueles olhinhos nos encaram. Tudo fica pequeno, tudo muda em um segundo. Em um segundo!
Nesse período de pós-parto imediato, todo esforço deve ser feito de não separar mãe e bebê, desde que ambos estejam clinicamente estáveis. Tudo pode esperar: pesar, examinar, aplicar vacinas ou colírios, dar banho e vestir a roupinha. Porque nesse momento o contato pele a pele é único.
Quem teve a possibilidade de estar com seu bebê ainda cheio de vérnix (secreção esbranquiçada que fica na pele quando o bebê nasce) sabe bem disso! Longe de ser um momento de caras e poses para fotos. Este é um tempo decisivo para o binômio do ponto de vista fisiológico e psicológico.
Está comprovado que o contato “pele a pele” estimula a liberação de ocitocina, que provoca a contração uterina e é responsável pela ejeção do leite. Também ajuda estabilizar a temperatura corporal do recém-nascido, auxilia na estabilização dos batimentos cardíacos e respiração, reduzindo o choro e o estresse e aumenta os níveis de glicose no sangue do bebê. Além disso, bactérias maternas começam a colonizar a pele do filho como forma de defesa. O contato pele a pele contribui significativamente para o estabelecimento do vínculo mãe- bebê. Ruim foi o sair de um local confortável e vir para um mundo cheio de luz e barulho sendo minimizado com a segurança de um colo de mãe, cheiro de mãe e calor de mãe.
Entretanto, ainda em alguns hospitais, todos aqueles os cuidados que mencionei (pesar, medir, banho, roupinha) são considerados mais importantes que esse momento de contato entre mãe-filho. Muitas vezes é comum, logo após o nascimento, o neném ser levado para a mãe dar uma olhadinha por poucos minutos e dizerem: “vou levar seu neném pra fazer os cuidados e em algum tempo ele vai pro quarto ficar com você”.
E é esse tempo de cuidados longe da mãe, que chamamos de fase de alerta e que dura aproximadamente quarenta minutos de vida, que deveria estar sendo estabelecido o contacto pele a pele. O bebê chora vigorosamente e apresenta um reflexo de sucção muito forte, procura instintivamente a mama, através do cheiro, e começa a mamar com bons reflexos de procura, sucção e deglutição. Neste momento, os olhos do recém-nascido permanecem abertos, sugerindo uma ótima oportunidade para que se estabeleça contacto visual e vinculação. Em seguida, logo depois dessa primeira hora mágica, o recém nascido entra em um período de sonolência excessiva que o desconecta do mundo por algumas horas. Quando ele chega no quarto, o que se vê é um bebê cheiroso, limpo, muito sonolento e que não quer mamar! Mais problemas. Com isso, a chance desse contato importantíssimo entre “mãe-bebê-pai” acaba sendo suprimido por rotinas hospitalares.
Portanto, é fundamental (obviamente, se tudo correu bem, se o neném não precisou de nenhuma manobra para respirar ou para fazer a transição na vida intra útero para o extra uterina) deixar “mãe-bebê-pai” sem nenhuma interferência na primeira hora de vida. Isso faz a diferença!
Para maiores esclarecimentos há um manual do ministério da saúde, disponível na internet, que pode ajudar a respeito do assunto contato pele a pele a aleitamento materno no pós parto imediato pag 16-22: Chaparro CM, Lutter C. Além da sobrevivência: Práticas integradas de atenção ao parto,benéficas para a nutrição e a saúde de mães e crianças. Organização Pan-Americana da Saúde: Washington D.C., dezembro de 2007.