“Por que Deus levou a Bisa?” Foi a primeira pergunta que Catarina me fez quando minha avó Gegê nos deixou…
Catarina teve a sorte de conviver com três bisavós, minha avó paterna Vó Gegê, e meus avós maternos Vó Tecla e Vô Gustim. Apesar de morarem longe, nós sempre fizemos questão de estimular esse contato carinhoso, que ela ainda desfruta com meus avós maternos.
Por que Deus levou a Bisa?
Carina Caliman
A Bisa Gegê é a que morava mais perto e era uma verdadeira doçura. Catarina sempre foi apaixonada pela Bisa que tinha 92 anos, 11 netos e 13 bisnetos! E a Bisa se derretia toda por ela. Eram presentes, carinhos e beijinhos sem fim toda vez que íamos visitá-la em Juiz de Fora. E sempre que ela podia estava aqui para ver os filhos, netos e bisnetos Belorizontinos. Era uma avó presente, carinhosa e muito querida!
Eis que em Maio de 2014 Deus decide que é a hora da Gegê partir, e a doce rainha da primavera (sim, ela foi coroada Rainha da Primavera da Melhor Idade!) foi dançar em outros salões. Quanta tristeza se despedir da avó que de tão pequenina e delicada tinha o apelido de Passarinha…
Mas a minha tristeza estava só começando. Não levei Catarina ao enterro, ela só tinha 3 anos, na época não achei que convinha. E eu estava tão triste que não conseguiria consolar minha filha naquele momento. Resolvi contar e explicar tudo a ela quando voltasse. Deixei minha filha com minha cunhada e fui pra Juiz de Fora enterrar minha Passarinha querida.
Quando voltei contei a ela que a Bisa tinha morrido, como o Eliseo (nosso cãozinho que morreu quando ela tinha 1,5 ano), que ela agora estava com o Papai do Céu, que estava bem e feliz e que podia nos ver de onde estava.
“Mas mãe, por que Deus levou a Bisa?”
Perguntou ela com os olhos cheios d’água. “Filha, um dia todos nós vamos encontrar com Deus e a vovó Bisa estava bem velhinha e ela se machucou muito e estava sofrendo, então Deus tirou toda a dor dela e a levou para o céu filha, que é um lugar lindo!”. Somos Cristãos e essa foi a melhor explicação que encontrei na hora para uma criança de 3 anos.
Mas nada consolava a Catarina, os choros eram longos e sofridos e meu coração que já estava doendo nessa hora ardia! Ela me pedia para ver a bisa e me dizia que estava chateada porque não a tinha visto com os olhos fechados. Entendi que estava chateada porque não viu a bisa morta e nessa hora me arrependi de não ter levado-a ao velório, hoje penso que todo ritual do funeral faz parte desse luto e tudo isso nos ajuda a passar pelo sofrimento de uma forma natural.
Eu sempre respondi a todas as perguntas da Catarina com honestidade:
“Não filha, você não vai mais ver a Bisa”
“Sim meu amor, todos vamos sentir saudades”
“Sim filha, o vovô não tem mais mamãe e papai, mas ele tem eu, você, a vovó, o tio Felipe e por isso ele é muito feliz!”
“Não filha, Deus não é mau”
… milhões de perguntas…. mas uma me intrigou e eu tive dificuldade ao responder…
“Mamãe, eu preciso falar com Deus! Quem é Deus? Quero vê-lo agora!”
Liguei imediatamente pra uma amiga que é espírita!
“Carina, pede pra ela fechar os olhos e sopra o rostinho dela, fala que Deus é o vento, a luz e tudo de lindo da natureza!”.
Não adiantou… Resolvi pedir ajuda na minha Paróquia… O Padre veio e deu um abraço carinhoso nela e contou a história do Menino Jesus, do Natal e até da Criação e ela não se convenceu que não podia conversar com Deus cara a cara! Fui ficando aflita!
De repente ela me perguntou onde se reza a missa e se lá “tinha” Deus! Levei a Catarina ao altar da Igreja e me sentei na primeira fileira. Ela olhou bem pra imagem de Jesus Crucificado e começou a chorar… Quando cheguei pra abraçá-la ela começou brigar com Deus.
“Deus, por que você levou a minha Bisa?
Isso não é justo, você sabia?
Traga minha Bisa de volta agora!
Eu quero ver ela agora!!!”
Naquela hora eu me abracei à minha filha e choramos juntas.
Mas foi o pico do luto dela. Aos poucos os choros foram dando espaço a boas lembranças e a Bisa Gegê começou a fazer parte de histórias, brincadeiras.
Ela sofreu muito, com certeza, foram 15 dias seguidos de choro, mas tudo isso deixou um ensinamento muito lindo pra Catarina.
Ela já sabe o que é a morte, ela não tem mais raiva de Deus, e ela já sabe que a saudade é uma coisa gostosa de se sentir…
O medo dela hoje em dia é que os avós morram, mas esse é o meu também! Então já expliquei que ela pode ficar tranquila porque tem bastante tempo pra curtir ao avós.
Um dia ela me perguntou se teria um jeito de ver a Bisa mais uma vez. Ela estava indo dormir na casa dos meus pais. Quando ela estava entrando no carro eu disse a ela que sim, bastaria ela conversar com Deus, que é bom, e pedir a Ele pra ver a Bisa Gegê em um sonho.
No dia seguinte, meu pai, bem choroso ao telefone, disse que a vó tinha vindo visitar a Catarina no sonho! Ansiosa, pedi pra falar com ela:
“Filha, me conta seu sonho!”
Ela arfante de tão feliz:
“Mamãe, Deus deixou!
A vovó Bisa veio no meu sonho!
A gente conversou um montão mãe e ela falou que morre de saudades de mim e me deu um beijo!”
Minha filha estava tão feliz que só pude agradecer a Deus.
Hoje em dia quando vemos um Bem-Te-Vi ela sempre diz:
“Olha mamãe, é a vovó Bisa Passarinha tomando conta da gente!”
Claro que é filha…
Carina Caliman
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