Tenho um filho que nasceu com pé torto congênito, por ter aprendido, na prática, tenho várias dicas e adaptações para mães de bebês com PTC.
A primeira dica é não se deixar abater pela previsão de um bebê com Pé Torto Congênito nos exames de ultrassom. Sofrer é natural, mas que seja passageiro… Que não roube tempo demais da sua gravidez, que é um momento tão especial! Seu filho andará e fará tudo o que outras crianças poderão fazer, tenha paciência e perseverança.
Pé torto congênito – Dicas e adaptações
ENXOVAL
Prepare o seu enxoval evitando investir em muitas calças de recém-nascido. Utilizando o Método de Ponseti, seu bebê terá gessos por, pelo menos, 65 dias e precisará de calças mais largas que as normalmente usadas nessa idade.
Evite calças e macacões com pezinho porque o uso da órtese impede esse tipo de roupa. Caso ganhe ou queira comprar mesmo assim, sugiro levar na costureira e pedir para adaptarem as peças com barrinhas de malha.
O Bebê Conforto que será usado deve ter uma abertura ampla na região das perninhas. Já vi modelos em que a largura era menor que a órtese do bebê e a família ficou em apuros. Utilizei da marca Burigotto sem problemas.
BANHO
Banho é uma hora que preocupa toda família de bebês com PTC. Pesquisei como fazer o banho de fralda molhada, como usar a redinha de banheira e outras técinas. Mas nada disso funcionou bem com Augusto. Para a nossa alegria, a enfermeira enviada pela Unimed para ensinar os primeiros cuidados viu nossa angústia e nos ensinou um banho diferente. O banho sentado na beira da banheira. A partir desse momento, Augusto passou a ter prazer em seus banhos, conseguimos refrescá-lo sempre que necessário e vivemos muitos momentos felizes assim.
CONSULTAS MÉDICAS
Nunca aceite colocar ou retirar gessos com o bebê com fome, sono ou alguma necessidade a ser atendida. Será desgastante para ele e para você. Planeje o atendimento com o ortopedista para um horário em que a criança costuma ficar serena ou adapte a rotina (amamentação ou mamadeira, troca, banho) para que ele esteja com tudo feito antes de iniciar a troca de gessos.
No dia do atendimento, planeje as mamadas para o bebê chegar lá ainda saciado. Assim, ele deve estar mais relaxado. Eu tentava levar o Augusto sempre apagadão e satisfeito. Ele ficava sereno por ter mamado, aí tirávamos os gessinhos e eu o amamentava mais um pouquinho. Leite materno e o contato com a mãe acalma. Ele tomava o suficiente para continuar relaxado e ficar todo molinho. Então colocávamos os novos gessinhos com ele dormindo! Não sentia nada…
Converse com o seu bebê e explique a ele cada etapa do tratamento, do atendimento, do dia dele. Algumas pessoas não tem esse hábito, mas explicar para o bebê ajuda a prepará-lo para estar seguro durante os procedimentos. Ele sentirá a também a sua segurança e isso fará toda a diferença!
Se o seu bebê tiver chupeta, aproveite desse recurso para tranquilizá-lo enquanto os pés são manuseados e o gesso é modelado. Utilizei Funchicorea em todas as visitas ao ortopedista e ela se tornou nossa melhor amiga desses momentos!
GESSO
Quando os gessos forem colocados pela manhã, eles secarão gradualmente ao longo do dia. Mantenha-os ventilados porque a secagem depende da evaporação da água e fique atenta para que o bebê não sinta frio durante esse tempo. Caso o atendimento seja à tarde, pode não dar tempo da água evaporar totalmente até o anoitecer e o bebê se sentir incomodado com o gesso ainda frio.
Certo dia, Augusto ficou miando durante um tempo da noite e, quando fui investigar, os gessinhos ainda estavam um pouco úmidos e gelados. Foi uma noite fria, não sabia o que fazer para aquecê-lo internamente. Coloquei uma bolsinha quente perto das perninhas e cobri com uma manta. Ele voltou a dormir tranquilo. Mas o ideal é secar os gessinhos ao chegar em casa. Principalmente se for colocado à tarde, por não dar tempo de secar sozinho antes do anoitecer. Eu o amamentava e depois ligava o secador de cabelo a uns 15cm, secando a frente. A cor do gesso vai mudando, fica mais branco quando seca. Virava o bebê e secava as costas. Augusto ficava quietinho ouvindo o barulho do secador até dormir.
Com os gessos já secos, escolha alguma estratégia para protegê-los de possíveis incidentes com golfadas, fezes e urina. Você pode recobrir com plástico filme e colar fita adesiva de cores variadas para fixar. Ou, se preferir, manter a criança apenas de meias longas, mas isso não evitará a umidade.
Observe a circulação dos dedinhos dos pés durante as primeiras horas de cada gesso, principalmente. Devem estar com coloração normal, nunca vermelhos ou roxos. Procure atendimento imediatamente se observar qualquer alteração na cor dos dedinhos.
O choro constante pode ser sinal de que há algo errado. Tenha paciência para aguardar o bebê se acalmar e se adaptar aos gessos. Isso costuma acontecer nas primeiras 24 horas. Depois desse tempo, espera-se que o edema provocado pelo gesso comece a ceder e ele se sinta mais confortável.
Os gessinhos podem bater durante o manuseio do bebê ou quando ele se movimenta voluntariamente.
Use sempre meias sobre o gesso porque reduz o barulho e o impacto. As meias com antiderrapantes são as melhores porque são mais grossas. Augusto assustava muito ao bater as perninhas e melhorou demais quando começou a usar as meias. Passou a balançar as perninhas para todo lado à vontade e sem susto. Compre meias de 6 a 12 meses e experimente. Elas vestem quase a perninha toda, diminuem o contato dos gessos, ajudam a mantê-los limpinhos. É possível usar os gessos decorados com meias coloridas, meias de bichinhos, combinando com as roupas do bebê, ou colando adesivos e fitas coloridas. Mas, certamente, a melhor criação dessa fase foi o meião branco (gesso) e preto (fita isolante) para acompanhar o uniforme do Atlético em dia de jogo! Use a sua criatividade e registre os momentos felizes com o seu filho, independente do uso de gessos!
Coloque uma fralda dobrada entre as pernas do bebê quando colocá-lo para dormir de lado.
Assim, as duas pernas ficam mais confortáveis. Cuidado para não afastar muito. É só o espaço suficiente para ficarem paralelas, como as grávidas fazem com o travesseiro. Augusto dormia mais tranquilo assim.
Quando o Augusto estava agitadinho, procuro reproduzir o som do útero e ele ficava relaxado em pouco tempo. O importante é criar uma chieira, não precisa ser alto. Existem vários livros que ensinam essa técnica. Os bebês tendem a ficar mais serenos e pode-se usar esse recurso de muitas formas: radinho fora de estação, panela de pressão, secador de cabelo, babá eletrônica com apenas um terminal ligado, etc. Augusto adorava um radinho chiando… Levava até para a troca de gessinho, e quando ele acordava no carro ou durante o atendimento já ia acalmando antes de se sentir incomodado. Aliás, o radinho dele era seu segundo melhor amigo! Nem sei quantas baterias usei quando ele nasceu… Valia muito a pena!
Evite passar qualquer tipo de creme, pomada ou óleo entre as trocas de gessos.
Faça isso apenas depois da retirada do último gesso, quando você poderá acompanhar a pele do bebê de perto.
Observamos feridas nas dobras de pele e uma dermatologista prescreveu pomada específica. Em relação a descamação da pele, utilizados óleo vegetal algumas vezes ao dia e gradualmente observamos melhora.
Fique atenta ao espaço entre os dedinhos dos pés. Ele é apenas um bebê, mas fungos se encontram em toda parte. Podem aparecer feridinhas pela transpiração e imobilidade dos pés. O uso constante de meias na fase da órtese 23 horas também pode favorecer a transpiração e pequenas frieirinhas. Utilizei Polvilho Antisséptico Granado entre os dedinhos após os banhos.
A qualidade da órtese do seu filho fará toda a diferença. As botinhas precisam “abraçar” bem os pezinhos, serem delicadas e firmes, ao mesmo tempo. É essencial que uma boa palmilha seja utilizada na confecção da órtese para dar conforto aos pés e evitar crescimento de micro-organismos devido à transpiração. O contraforte deve estar bem posicionado para também auxiliar no conforto e evitar que a criança retire um dos pés e a órtese fique presa apenas no outro pé.
Aprenda a colocar a órtese com o seu ortopedista.
Não tenha vergonha de pedir esclarecimentos. Retire e recoloque algumas vezes na presença dele para evitar uso incorreto quando estiverem sozinhos em casa.
Os calcanhares costumam não “encaixar” na órtese imediatamente após a retirada do último gesso. No máximo em uma semana, espera-se que os pés devem estar totalmente encostados na palmilha. Meias antiderrapantes são ideais nessa fase porque ajudam a firmar os pés dentro das botas, sem escorregarem.
Se estiverem na fase das 23 horas, durante o banho do bebê, peça alguém que faça a higiene e manutenção rápida da órtese do seu filho. Aproveite para passar um pano úmido nas botas, trocar os cadarços por outros limpos e apertar novamente os parafusos. Usei muitas cores de meias e cadarços nessa época também.
As órteses brasileiras costumam vir com borboletas fixando os parafusos, mas elas costumam se prender em mantas, e até machucar mães e outros cuidadores. Peça ao seu ortopedista para trocar as borboletas por porcas cegas, que manterão os ajustes fixos e nos incomodam menos. Elas podem ser encontradas em lojas de ferragens, parafusos, etc.
Busque se aproximar de famílias que estão vivendo os mesmos desafios que vocês ou que já superaram o Pé Torto Congênito.
A troca de experiências é preciosa para nos fortalecer e solucionar problemas que podem ser muito difíceis no momento, mas outras pessoas já podem dispor de soluções. Existem blogs e grupos de apoio para troca de informações no Facebook, Yahoo Grupos, etc. Coloco-me também sempre à disposição, caso possa ajudar em algo. Vocês não estão sós!