Existem vários tipos de parto. Parto normal hospitalar, parto humanizado, parto natural, domiciliar, parto cesárea eletiva, cesárea de urgência, cesárea intraparto, parto vaginal após cesárea, etc. Qual é o parto mais seguro?
Mas só existem duas VIAS de parto: vaginal ou cesariana.
Capítulo 3
Parto mais seguro – qual é?
Cada um deles tem seus benefícios e seus problemas, em termos de saúde. Não cabe aqui falar em vantagens e desvantagens, porque isso é uma questão de opinião. O que é uma vantagem pra uma mulher pode não ser pra outra.
A maioria dos estudos científicos não consegue separar os vários TIPOS de parto. Em geral, separa-se somente a VIA de parto para comparações. Nos melhores estudos, consegue-se no máximo separar as cesáreas eletivas (fora do trabalho de parto) das cesáreas de urgência (em decorrência de falência de tentativa de parto vaginal). E o que podemos aprender com estes estudos?
O acesso à informação inclui saber usar e interpretar a informação.
De forma bem resumida, bons estudos mostraram que o parto normal é mais seguro que a cesárea. Fato. O que isso quer dizer? Que parto normal não complica? Não. Que parto cesárea sempre complica? Não. Então o que é? Primeiro: os estudos demonstram que, hoje em dia, o número de mulheres e bebês que morrem ou têm complicações em qualquer via de parto bem assistido é muito pequeno. Ou seja, o RISCO ABSOLUTO de morte ou complicação, em geral, é muito baixo. Parto normal e parto cesárea, com boa assistência dos profissionais de saúde, são ambos muito seguros. Mas, de uma forma relativa, ou seja, comparando um com o outro, o parto normal é ainda mais seguro do que a cesárea, tanto para a mãe quanto para o bebê.
Sobre a grande discussão no facebook, acerca de parto domiciliar, há poucos estudos bons sobre esse assunto, por isso as conclusões não são definitivas.
Mas os dados bem analisados até o momento demonstraram que o parto domiciliar é tão seguro, quando PLANEJADO, quanto o parto hospitalar de baixo risco. Sim, em alguns raros casos há mortes ou complicações que poderiam não ter acontecido, caso o parto tivesse ocorrido no hospital. MAS, o que a maioria das pessoas esquece, é que, por outro lado, há também raras mortes e complicações que ocorrem JUSTAMENTE pelo parto ter ocorrido em hospital, e um equilibra o outro. Ou seja, algumas complicações ocorrem só no hospital. Outras, só no domicílio. Em termos estatísticos, a chance de ocorrer morte e/ou complicações da mãe e/ou bebê é muito baixa e semelhante nos dois grupos. Os últimos estudos inclusive sugerem que, para as mulheres que já tiveram um filho de parto normal, o parto domiciliar é ainda mais seguro. Só que vale ressaltar que esses dados são de pesquisas de outros países. Ainda não temos dados sobre isso no Brasil.
É importante ressaltar que essa discussão sobre a segurança só é possível no contexto específico de gestantes que não têm indicações obstétricas de cesárea.
Há uma série de indicações de cesárea. Mas, ainda nestas situações, às vezes é possível aguardar o início do trabalho de parto para realizar a cirurgia com mais conforto para o bebê.
As indicações de cesárea são chamadas de relativas e ou absolutas. De acordo com os estudos científicos, as indicações absolutas são as situações em que a cesárea de fato salva vidas, uma vez que neste contexto o parto vaginal oferece mais riscos para a mãe e/ou bebê do que a cesárea.
As indicações relativas, no entanto, são aquelas que dependem de uma série de fatores de cada situação. A cesárea pode ser mais segura ou igualmente segura ao parto vaginal. Nestes casos, cada via tem riscos diferentes, que deviam ser discutidos abertamente com a gestante, para que ela possa escolher o perfil de riscos e benefícios que combina mais com seus desejos.
Há uma margem de subjetividade nas indicações relativas e, no sistema atual, isso leva a excesso de cesáreas por essas indicações. Os(as) obstetras alegam o temor de processos judiciais, que podem julgar errônea a opção pelo parto vaginal em casos em que havia a indicação relativa de cesárea e que tenha ocorrido alguma consequência ruim para a mulher e/ou bebê. Talvez este problema fosse menor se a decisão pela via de parto tivesse sido de fato tomada pela mulher, após ter recebido todas as informações para tanto.
Mas esta é só uma pequena parte do problema. Veja no próximo capítulo: A maioria das mulheres escolhe cesárea?
As boas fontes dessas informações:
- Outcomes of planned home birth with registered midwife versus planned hospital birth with midwife or physician. Janssen PA, Saxell L, Page LA, Klein MC, Liston RM, Lee SK. CMAJ. 2009;181(6-7):377.
- Perinatal and maternal outcomes by planned place of birth for healthy women with low risk pregnancies: the Birthplace in England national prospective cohort study.
- Guiadobebe: parto domiciliar
- Amorim M, Souza A, Porto A. Indicações de cesariana baseadas em evidências: parte I. Femina. 2010;38(8).
- Souza A, Amorim M, Porto A. Indicações de cesariana baseadas em evidências: parte II. FEMINA. 2012;38(9).
- Gibbons L, Belizán JM, Lauer JA, Betrán AP, Merialdi M, Althabe F. The Global Numbers and Costs of Additionally Needed and Unnecessary Caesarean Sections Performed per Year: Overuse as a Barrier to Universal Coverage. World Health Report.Background Papered: World Health Organization; 2010.
- Freitas PF, Savi EP. Desigualdades sociais nas complicações da cesariana: uma análise hierarquizada. Cadernos de Saúde Pública. 2011;27:2009-20.
Capítulo 4
Vamos construir juntas o tema Parto? Parte 4 – Por Luíza de Oliveira Rodrigues