A Talita Sampaio namorava há 6 meses, quando seu namorado recebeu uma proposta da empresa que ele trabalhava pra desenvolver um projeto na China. Em 3 meses eles se prepararam, se casaram e partiram juntos para esse desafio: morar na capital. Essa é a história do parto em Pequim da Talita.
Talita Sampaio, parto em Pequim
Depois de mais de 2 anos de casados, já ansiosos pelo positivo, em uma das nossas vindas ao Brasil eu engravidei. Voltei pra China enjoada e com um “jetlag” (11 horas a mais) que não passava. Era o bebê dando sinais.
Fiz o exame de farmácia (lá o exame laboratorial só é feito com pedido médico), e logo liguei para o hospital para marcar a consulta com um médico canadense que já tinha acompanhado a gestação de algumas brasileiras lá. Ele era mais velho, super tranquilo e me passava muita segurança. A consulta era em inglês e as respostas às minhas dúvidas eram quase sempre:
“no problem” e “don’t worry”
Só tinha um probleminha, a data prevista para o parto era 05/11. Ele iria se aposentar dia 23/10. Estaria em Pequim até o dia 28, e se disponibilizou para fazer o meu parto enquanto tivesse na cidade.
“Tudo bem, essas crianças de hoje são apressadas, vai dar tudo certo!”_ pensei.
A gravidez
A gravidez foi super tranquila, lá não fazem muitos ultrassons, basicamente as 3 recomendadas. Na China não se pode falar o sexo do bebê por causa da lei do filho único e a prioridade aos meninos, por isso saber o sexo foi um pouco tenso. O hospital era internacional e era uma chinesa que fazia os exames. Eu estava com 24 semanas de gestação quando ela imprimiu a imagem da ultrassom e eu corri pro Dr. Brooks pra mostrar. Ele com a mesma tranquilidade e sem o mínimo de análise me solta:
“It’s girl”!
Eu e meu marido nos sentamos num sofá e ali mesmo fizemos várias ligações.
Era madrugada no Brasil e eu nem esperei amanhecer, liguei pros meus pais naquela hora. Eles já estavam de passagem comprada e chegariam quando eu estivesse com 38 semanas. O tempo foi passando e meu maior receio era que a nossa Maitê chegasse antes da minha mãe. Como eu faria?!
Dia 21/10, 38 semanas, e meus pais chegaram! Quanta emoção recebê-los na minha casa e agora nossa pequena já podia chegar a qualquer momento. Estávamos prontos… mas ela não!
Na consulta do dia 23, o último dia de atendimento do médico, ele já adiantou que ela não nasceria na próxima semana. Eu argumentei sobre induzir o parto para que ele me assistisse, mas ele não indicou porque o colo não estava preparado. Eu saí do consultório aos prantos, mesmo sabendo dessa possibilidade, eu me enganei a gestação toda pensando que não aconteceria.
Ele me indicou uma colega e eu marquei consulta com ela para o dia seguinte, nesse mesmo hospital. Ela uma chinesa super simpática, com um inglês muito bom, me recebeu super bem e já me mostrou no calendário que estaria fora do dia 2 ao dia 8/11 para um seminário nos EUA.
40 semanas
Pronto! Não podia contar com ela também, dessa vez foi menos frustrante mas, novamente, me senti desamparada para o meu parto em Pequim. Resolvi que a Maitê viria ao mundo com o médico do plantão.
Na minha consulta de 40 semanas foi uma chinesa super engraçada quem me atendeu. Ela era durona, tinha sido médica do exército chinês, falava rápido (o que nós chamávamos de chinglês). Perguntou se eu estava fazendo caminhadas e já adiantou que eu não podia esperar mais que 41 semanas.
No exame de toque ela fez um procedimento que chamou de incentivo para o bebê e na hora eu comecei a ter contração. Ela ria sem parar e falava muito eufórica com as enfermeiras que só de encostar eu já tinha começado as contrações. Pediu que eu voltasse pra casa e caminhasse rápido quase uma corrida e me ensinou um jeito de pular que não causava impacto. E assim eu fiz 2 vezes ao dia.
Nesse mesmo dia à noite fui pro hospital, não tinha dor nenhuma, mas sentia fortes contrações de 7 em 7 minutos. Cheguei no hospital já me internaram e pasmem, dormimos os quatro (eu, marido, pai e mãe) no quarto.
Amanheceu, tomei café e o médico veio me avaliar, nada de dilatação, me mandou voltar pra casa. Angustiante, achei que aquele dia sairia dali com ela nos braços, era dia 05/11.
Chegamos em casa almocei, caminhei, corri e pulei por volta das 14 horas. No final do dia já estava começando a sentir dor, mas mesmo assim caminhei de novo, estava fazendo minha parte. A médica falou que se eu fosse paciente dela já teria ganhado. Que ela não deixaria passar nem de 39 semanas e que eu deveria ter feito atividades físicas.
Sabe aquele ditado:
“Nasce uma Mãe nasce a culpa”?!
Maitê não tinha nascido, mas a culpa da mãe, sim! Por volta das 22 horas já não aguentava de dor, já tinha entrado na banheira, rezado, ouvido música tudo que se faz para relaxar e facilitar o parto.
Fomos novamente para o hospital, contrações muito fortes a cada três minutos. Um centímetro de dilatação. Muita dor. Pedi anestesia. A anestesista veio e me ofereceu um SPA, meu marido foi conferir o espaço e era só uma banheira, e da banheira eu tinha acabado de sair. Nessa altura do campeonato meu pai já segurava o terço dele na minha mão.
A anestesista me explicou que a anestesia atrasaria a evolução do trabalho, mas não me importei, afinal de contas eu já estava a mais de sete horas sentindo dor e não tinha dilatado nadinha. Instalaram uma bomba de infusão com um dispositivo que eu apertaria somente quando a dor tivesse muito forte, apertei somente 3 vezes até o parto e achei aquilo fantástico!
Meus pais foram dormir em casa. Voltaram ao meio dia, pouco antes de começar o processo expulsivo. Uma parteira ficou me acompanhando e eu fazendo força de 13:15 até 15 horas. Quando a médica chegou gritou que eu estava fazendo força da forma errada, que daquele jeito eu morreria e minha filha não nasceria.
Eu nunca tinha parido e não fui orientada. Meu marido ficou muito nervoso e eu já não tinha mais forças, foi desesperador ouvir que todo meu cansaço físico tinha sido em vão. Era inverno lá, as temperaturas negativas lá fora e eu escorria suor lá dentro
Depois disso fui orientada a fazer força correta e não demorou pra que ela nascesse.
Parto em Pequim
Quanta emoção! Foi a vovó quem viu primeiro os cabelinhos loiros! Ela ficou o tempo inteiro me dando força, segurando minhas mãos, meu porto seguro. Meu marido na minha cabeça enxugando o suor e me hidratando com o amor e cuidado de sempre, e o vovô no corredor grudado no terço. Assim que ela nasceu meu pai entrou e também assistiu os primeiros cuidados com a Maitê. Uma amiga muito querida registrou tudo!
E se eu mudaria alguma coisa do meu parto em Pequim? Nadinha! Nem as horas de esforço! Foi mágico! Depois de irmos pra casa e colocarmos as coisas em ordem, tivemos a preocupação de além de fazer a certidão de Nascimento na Embaixada do Brasil em Pequim, emitir também o passaporte, afinal de contas ela era brasileiríssima e precisava de um visto para residir ali.
Tive meu primeiro parto em Pequim, atualmente moramos em Belo Horizonte onde tive meu segundo filho, o Raul, em Junho/2016.
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