Era verão e estávamos em viagem de férias em Porto de Galinhas, Maria Eduarda, começou a beber muita água compulsivamente, apresentou uma alergia na pele e sono muito inquieto. Minha filha é um doce, a princípio achei que era porque estava muito calor, mas a cada dia achava que ela parecia estar com mais sede, até que ela começou a fazer xixi na cama, então comecei a suspeitar que tinha alguma coisa errada.
Resolvi que, assim que retornasse a Belo Horizonte, a levaria ao médico. Permanecemos por 14 dias em Porto de Galinhas e destes 14 posso dizer que ela apresentou estes sintomas de uns 8 a 10 dias. Durante a volta Maria Eduarda passou o voo todo bebendo água e indo ao banheiro.
Chegamos uma sexta- feira a noite, no sábado tínhamos um aniversário de criança, fomos com a Duda e foi aí que a coisa desandou mesmo. Depois de diversos salgadinhos e docinhos não poderia dar em outra coisa, passei a madrugada toda dando água a ela e trocando a roupa de cama com xixi. Parece inacreditável mas ela chegou a tomar 6 copos de 500 ml em um intervalo de uma hora e meia.
Minha filha é um doce por Luciana Normanha
Fui então direto para internet e coloquei todos os sintomas que ela vinha queixando e que estavam aparecendo e tudo se encaixava com o diabetes, já comecei a ficar com um medo e coração muito apertado, comentei então com meu marido e ele me disse para não sofrer antecipadamente.
Na segunda bem cedo ligamos para um amigo proprietário de um laboratório e contamos a ele o que estava acontecendo e ele nos disse para levá-la para fazer o exame. Era uma segunda-feira, 4 de fevereiro, primeiro dia de aula, primeiro dia da escola nova, professora nova, colegas novos.
Maria Eduarda realizou o exame em jejum logo cedinho e o resultado pegaríamos as 15 horas. Posso dizer que estas horas que antecederam o resultado foram tensas. Ela estava muito empolgada e ansiosa com a escola e quem olhava para ela não dizia que tinha algo errado.
Recebi o envelope, entrei no carro e o abri. Duda apresentou uma glicemia jejum de 240, realmente ela estava diabética. Entramos em contato com o pediatra dela e ele disse para levá-la imediatamente para o hospital. Durante todo o caminho ela parecia ótima contando todas as novidades da escola nova.
Quando chegamos ao hospital, uma equipe já esperava por ela e logo foram levando-a para a sala onde mediram a glicemia que estava em 295. Apareceu uma médica que pediu para nos sentarmos e disse:
Ela está com diabetes tipo 1. Vamos interna-la e não será uma internação rápida.
Minha filha chorava muito, sem entender muito bem o que estava acontecendo e eu ali parecendo estar vivendo um pesadelo. Minha pequena guerreira que lutou muito para viver estava, mais uma vez, enfrentando momentos difíceis.
É uma sensação muito estranha e dolorosa. A vida muda de repente, o diabetes ele não te dá tempo nem para se acostumar com a ideia. Você tem que aceitar, mudar e ponto final.
Duda apresentava uma leve cetocitose e isso permitiu que eu acompanhasse os nove dias de internação junto com ela. O diabetes não vem sozinho. Junto com ele vem o preconceito e aí começou um novo problema.
Quando Maria Eduarda pode voltar para escola, para minha surpresa, começou a enfrentar a rejeição de seus colegas e o desinteresse da professora. As crianças não a queriam perto, diziam que não queriam pegar, não pensem que é colégio público não, é particular, fica na zona sul onde os pais são muito bem formados, instruídos e estudados.
Procurei a direção do Colégio e pedi ajuda. Ofereci que a médica dela fosse até lá para dar uma palestra ou uma aula para a turma dela.
Infelizmente o colégio não teve interesse e, com isso, Duda estava sempre sozinha nos recreios e ouvindo coisas do tipo:
“Você sabia que quando você tiver filhos eles vão nascer com esta coisa nojenta que você tem e eu não quero pegar?”
Enfrentando um desinteresse enorme da professora, que chegou a dar suco de uva e pão para ela, sem se importar com o diabetes, fazendo com que sua glicemia chegasse a quase 500.
Vocês devem estar se perguntando o porque eu não a troquei do colégio. Eu até tentei, ligava para alguns perguntava se tinha vaga diziam que sim, eu ia até lar para conhecer e quando dizia que ela é diabética eles davam um jeitinho de me dizer que não tinham estrutura para ela pois a responsabilidade é muito grande, os cuidados são muitos, por fim a Duda me disse:
“Me troque de sala mãe porque acho que se eu for para outro colégio posso passar pela mesma coisa.”
Ali estava eu, na frente da minha menininha de apenas 7 anos, que estava amadurecendo tão precocemente a ponto dela me dizer:
“Mãe quando eu pensava no meu futuro, jamais imaginei isso para ele.”
A trocamos de sala, ela foi bem recebida e hoje tem amigas.
Minha vida se resume em medição de glicemia a cada 3 horas, fazer contagem de carboidratos com tudo que ela vai comer, insulinas, hipo e hiper. Não posso trabalhar fora, quase todos os dias tenho que ir ao colégio antes da merenda aplicar insulina.
Confesso que cansa muito e, às vezes, ainda me pego chorando na hora de dormir.
Maria Eduarda é uma guerreira, uma criança muito feliz apesar das varias picadas diárias. Minha filha é um doce.
E assim estamos recomeçando nossas vidas.
Essa história continua: