Quando vamos ao cinema e assistimos um filme com cenas fortes, violentas, de estupro ou pedofilia, acreditamos que os roteiristas (ou diretores) sejam favoráveis à essas práticas ou estejam expondo realidades cruéis e mazelas humanas através da obra, propositalmente?
Os criadores desse filme são pedófilos e estupradores ou querem nos fazer pensar?
Mazelas humanas, realidades cruéis e arte
Me incomoda (muito) que crianças tenham sido levadas a um museu para ver conteúdo inadequado a maturidade delas.
Me incomoda (muito) que crianças assistam cenas de sexo da novela das 8 ou utilizem a internet para esses fins.
Me incomoda (muito) que o governo se abstenha de investir R$ 800.000,00 em projetos artísticos de comunidades carentes para financiar uma exposição proposta por um banco que fatura – Bilhões – por ano e pode com folga, assumir esse custo.
Não me incomoda o conteúdo forte ou violento de uma obra artística, porque não a enxergo como um ultraje às minhas escolhas.
Vejo nesse tipo de arte polêmica uma oportunidade para pensar que crimes como pedofilia e zoofilia estão aí, muitas vezes dentro das casas onde conservadores colocam tapumes em exposições devassas.
Aproveito a arte subversiva para enxergar que existem diversas formas de prazer ou de violência, das quais não experimento, mas que existem… como ignorar?
Aproveito as imagens perturbadoras do Cristo e de símbolos sagrados para refletir sobre como os cristãos e demais religiosos têm caminhado, de forma bélica ou fraternal?
Como e onde, vivendo em um país majoritariamente cristão podemos evoluir?
Quando uma obra artística me perturba, não me interessa escondê-la e fingir que as mazelas humanas não existem.
Prefiro lidar com essas questões com maturidade e realismo mesmo dando pinote na minha cabeça.
Há muitas formas de resolver problemas, a mais eficiente é enxergá-los de frente.
Excluir, censurar, entorpecer e colocar tapumes não farão com que desapareçam, só os deixarão lá, existindo de forma velada.
Vamos separar os problemas racionalmente.
A questão que está incomodando a sociedade são as classificações etárias inadequadas, os tipos de financiamentos artísticos ou a exposição de imagens perturbadoras que “imitam” nossa sociedade, mostrando quem somos, nus.
Pensemos nisso, sem tapumes internos, antes de chegarmos a conclusões.
Estamos falando entre adultos aqui.
A arte sempre possuiu inúmeras linguagens e vertentes de pensamento.
A arte subversiva não existe para ultrajar o expectador de forma pueril, ela é uma ferramenta importantíssima para sacudir a sociedade quando os problemas se avolumam e pouca gente se dispõe a pensar sobre eles.
A arte atua, de tempos em tempos, como um acelerador do desenvolvimento humano.
Como? Amansando nossos pensamentos?
Não! Nos inquietando.
O conforto não gera evolução.
A foto que ilustra esse texto é da Bruna Tassis, uma cena do teatro que foi apresentado aos pais antes da palestra do Casé Fortes, no NÓS – Workshop de Prevenção e Combate ao Abuso Sexual Infantil que aconteceu em 12 de setembro de 2016 organizado pela Padecendo no Paraíso.