Minha preocupação constante nos últimos tempos tem sido encontrar a forma de trabalhar em casa, ganhar dinheiro sendo dona do meu nariz e do meu tempo. Já pensei em tanta coisa e continuo no meu emprego e na minha vida de escritório de segunda a sexta das 8:30 as 18:30. Por fim, esta semana eu tive uma ideia que vai fazer meu sonho realidade! Vou escrever um manual sobre como ser uma boa mãe. Isso mesmo, Manual da boa mãe.
Sério, esse é um livro que faria muito sucesso, já estou imaginando as filas nas livrarias e os dinheirinhos se multiplicando, aumentando zeros e mais zeros a minha conta no banco.
Manual da boa mãe
Um Manual da Boa Mãe que fosse mais forte que as tradições, um manual que ensine para as mães coisas importantes com métodos padronizados que funcionem para todos os tipos de crianças.
Pense comigo, não teríamos mais pirraça, nem brigas, nem terrible two. Nada de chilique adolescente, nem ciúmes do novo irmão. Comer no restaurante, cumprimentar os adultos desconhecidos. Amar todo mundo no parque, dividir os brinquedos, dormir no quartinho, largar o bico, deixar as fraldas, tudo isso sem mexer um fio do seu cabelinho escovado e sem perder uma noite de sono. Não mais dilemas sobre castigos ou palmadas, sem dramas para impor limites.
Viu como tudo é bem simples? Bastaria comprar meu livro, ler, concordar e seguir rigorosamente esses conselhos.
Mas até aqui você já riu bastante e já entendeu onde eu quero chegar. Se a ideia fosse tão boa, alguém já estaria aproveitando a fama não é?
Até aqui você já descobriu que ser uma boa mãe, é um pouquinho mais trabalhoso.
- É necessário, em primeiro lugar, abrir o coração e encarar a criação do seu filho como um aprendizado totalmente novo
- É necessário desaprender tudo que achamos que sabemos e encontrar uma nova forma de ver o mundo.
- É necessário se distanciar das mágoas, dos preconceitos e se conectar com seus instintos mais puros.
No fundo, no fundo, a gente sabe que vai conseguir, só não descobriu como.
- Você vai precisar conhecer o filho que tem e se conectar com ele, para ir junto.
- Não adianta tentar educar a criança que você “deveria ter” porque o pai é inteligente e a mãe e calma, porque nunca na família se viu nada igual.
- A forma como a gente foi criado talvez funcione. “Eu cresci apanhando e ficando de castigo, não morri e virei gente”. “Eu fui criada sem um único grito”. Quem sabe né?
- Talvez se eu bater, meu filho não morra. Talvez eu só mate algumas partes dele.
- Talvez ele precise de umas frases em tom mais alto e eu não tenha coragem de levantar a voz.
Em longas e tediosas polêmicas sobre forma de educar os filhos, aprendi que esse é um assunto cabeludo onde não existe alternativa A,B ou C para marcar como certa.
Aprendi que educar um filho é como ser o técnico da seleção de futebol, todo mundo sabe fazer melhor o seu trabalho, mas você precisa confiar no seu taco e meter a cara. Você ainda terá mais sorte que o treinador e não vai ser demitida depois de uma partida ruim.
Criar um filho é como cultivar uma flor
Você vai investir sua alma nessa tarefa e a flor irá se abrir quando você não estiver olhando.
Seja sensata, leia todos os livros sobre maternidade, sobre psicologia, sobre astrologia, culinária e futebol. Leia tudo que possa ajudá-la e faça seu próprio manual da boa mãe, aquele que combina com a sua forma de ver a vida, aquele que você vai seguir pela razão mais simples do mundo: acreditar que está fazendo o melhor para seu filho com todo seu coração e sua coragem.
Faça como um bom treinador de futebol: quando errar, enfrente a coletiva de imprensa e diga que ainda tem muitas partidas pela frente, que vai tentar um novo esquema tático e que bons resultados virão. Ignore os palpites sem noção e guarde os conselhos bons.
No mais, creio que ainda me restam muitos anos de escritório de 8:30 as 18:30, de segunda a sexta.
Esse e muitos outros textos da Michelle Lapouble do Verge fazem parte do livro Manual da Boa Mãe que você pode comprar na Loja Padecendo.