Voltando de um encontro de família. Eu, insegura, me achando mamãe mais ou menos, viro para os filhos e jogo a bomba:
– Gente, seu tio (chato) disse que seu pai é melhor pai do que eu sou melhor mãe pra vocês… – silêncio de auto-vergonha-comprida – O que vocês acham?
– O quê? Ficou doida, mãe?
Não… Claro que não…
– Seu tio (chato) disse que seu pai é melhor do que eu. Ele como pai e eu como mãe. O que vocês acham?
O mais novo, 8 anos, coloca a mão na testa, sério:
– Nossa. Sobre isso eu tenho que pensar muito!
Me assustei:
– Por quê? – com ódio de não ter ouvido imediatamente que sou a melhor mãe do mundo.
E ele realmente analisando a questão:
– Mãe, você faz tudo pra gente, mas às vezes fica brava e é meio maluquinha. Meu pai não sabe falar não, e a gente acaba fazendo um monte de coisas erradas quando está sozinho com ele. Preciso pensar nisso. Preciso pensar muito!
Mamãe mais ou menos
Além do orgulho acerca da capacidade analítica do meu filho de 8 anos, fiquei chocada! Mas engoli o pulo e me virei para o de 10 anos que mantinha o silêncio como um manto de invisibilidade:
– O que você acha, filho? Quem é melhor?
– Pra que você quer saber, mãe? – entoando, lá vem ela de novo…
– Uai, pra saber o que você acha. Tipo, quem você prefere, o papai ou a mamãe?
– Ai, ai… Mãe, você e o papai não são muito bons não. Vocês são distraídos, às vezes ficam rindo quando brigam com a gente, demoram a fazer o que a gente pede, brigam porque a gente tá fazendo barulho ou bagunça – sendo criança. Esquecem de mandar a gente fazer tarefa… Me obrigam a comer o que eu não quero…
Calou meu coração. Mas engoli o silêncio e insisti:
– Mas a gente é tão ruim assim, filho? – por favor… Misericórdia…
– Humm… Na verdade não, vocês são mais ou menos. Fazem muitas coisas boas também. Ensinam muitas coisas, escutam a gente quando não estão vendo filme, fazem leite de manhã, deixam a gente ter os nossos bichos, compram algumas coisas que a gente quer…
Eu estatalei o olho na rua. Nem se quisesse falava mais. Depois de um tempinho, não sei se por culpa, pena, compaixão, verdade mesmo, ou tudo junto, completou:
– Mas, sabe? É bom que vocês sejam mamãe mais ou menos, e papai mais ou menor. Se vocês fossem os melhores pais do mundo, iam querer que a gente fosse os melhores filhos do mundo. Iam querer que a gente fizesse tudo certinho também, cheio de regrinhas, cheio de horas. A gente não ia poder derramar tinta, sujar a casa, espalhar brinquedo, trazer um monte de colega, dormir na sala… Ia ser chato (igual ao tio que começou a conversa). Melhor vocês serem mais ou menos, porque assim, a gente também pode ser mais ou menos.
– É mesmo. – concorda o irmão!
EU TENHO OS MELHORES FILHOS DO MUNDO INTEIRO!
E nem sou uma boa mãe!
Em homenagem a esta aventura maravilhosa de ser mãe a que me propus ao decidir (mais ou menos) ter filhos. Em homenagem à minha mãe, melhor de todas, que me fez tão mais ou menos de perfeita que pude gerar essas duas criaturas incríveis!!!
Em homenagem à todas as mamães, perfeitas ou mais ou menos como eu.
Leia também: