História das Padês é uma coluna onde damos espaço para que as participantes do grupo secreto contem suas histórias. Hoje reposto um texto de agosto de 2013 escrito pela Cris Oliveira, Infância feliz/ pai ausente. Muitos pais não tem a dimensão da falta que eles fazem na vida dos filhos. Muitos se comportam como meros doadores de esperma. Que bom que hoje muitos pais estejam engajados e mostrando a outros pais o que é a paternidade responsável e ativa.
Infância feliz/ pai ausente
Tive uma infância feliz, cercada de muito carinho, cuidado e amor. Só não tive a presença do meu pai na minha criação… Meus pais separaram-se quando eu tinha 5 para 6 anos.
Nossa convivência se restringia aos finais de semana no clube, aos passeios ao Parque Municipal, às férias na casa dos meus avós paternos. Isso quando ele aparecia, pois inúmeras foram as vezes em que meus irmãos e eu nos aprontávamos à espera do passeio prometido e ali ficávamos, vendo a manhã virar tarde, a tarde virar noite, sem ninguém aparecer para nos buscar. Lembro-me de irmos dormir chorando… De tristeza e decepção…
Até a minha adolescência, tínhamos contato e nos falávamos. Mas quando ele constituiu família com a mesma mulher que o havia tirado de dentro da nossa casa, perdemos completamente o contato. Foi ele ter outros filhos que se esqueceu de nós por completo! Nenhuma satisfação, nenhuma atenção, nenhuma ajuda, sequer financeira.
Minha mãe foi uma verdadeira heroína e deu conta de todo o recado sozinha!
O mais engraçado é que nossa relação (minha e dos meus irmãos) com a família dele (avós, tios, primas) se manteve a mesma, ou seja, ele se afastou por opção!
Cresci achando que a ausência do meu pai na minha vida havia sido completamente compensada pela minha mãe, com a ajuda dos meus avós maternos e da minha tia. Nunca havia relacionado a timidez, a baixa auto estima, a insegurança, a dificuldade nos relacionamentos afetivos ao fato do meu pai ter ido embora de casa e depois, da minha vida.
Foram necessárias algumas boas sessões de terapia, já na vida adulta, para entender melhor, aprender a lidar e a superar sentimentos como medo, carência, rejeição, abandono…
Não foi fácil, mas consegui!
Deixei de cultivar os amores impossíveis como forma de me proteger para que eles nunca me rejeitassem, aprendi a confiar em mim, nas minhas escolhas, me abri pro mundo, abri meu coração para as pessoas, aprendi a ouvir e aceitar elogios. Vi que, sim, eu era importante na vida de muitas pessoas.
Hoje as marcas disso tudo são leves, mas ainda estão aqui… Sou fruto desta minha história de vida! Algumas características da minha personalidade que foram moldadas de acordo com as experiências que vivi não consegui mudar muito…
Sou casada, sou mãe, sou realizada e feliz!
Não tenho nenhum contato com meu pai há muitos anos. Não consigo descrever o que sinto com por ele… É um misto de mágoa e pena…
Vejo o amor que meu esposo tem pelas nossas filhas, o cuidado e a preocupação dele com elas e me emociono!
Que elas tenham sempre este colo espaçoso, este abraço apertado, esta mão firme, este ombro amigo, este olhar de cumplicidade, este modelo masculino, esta figura paterna que eu, infelizmente, não tive!
Homem e mulher podem deixar de ser marido e esposa… Pai e filho é uma relação para toda a vida! Ou pelo menos deveria ser…
Cris Oliveira
Foto: Bruna Tassis