Desde que resolvemos que era hora de engravidar, Alexandre e eu conversamos e decidimos ter filho único, dois caso viessem gêmeos. Naquela época, final de 2007, o principal motivo era que o mundo já tem gente demais. Tem muita gente passando fome, muita gente consumindo em excesso e, num futuro não muito distante, alguém vai pagar o preço pela nossa irresponsabilidade com o planeta.
Filho único
Em 2008 parei de tomar a pílula e começamos a tentar. Engravidei em agosto de forma natural. Não, eu não tive o segundo filho por problemas de fertilidade! No ultrassom vimos que não era uma gravidez gemelar. Eu tinha certeza que era um menino, outro ultrassom confirmou. Tudo conforme o planejado.
Naquela época a questão financeira também era um ponto importante, e ainda é. Um filho custa muito dinheiro. Manter o padrão de vida que queremos:
- escola particular,
- cursos extras,
- plano de saúde,
- viagens,
- passeios,
- bons restaurantes, etc.
Tudo isso custa muito dinheiro.
Algumas pessoas dizem que é egoísmo ter filho único. Isso depende mesmo do seu ponto de vista. O mundo não comporta tanta gente, estamos acabando com os recursos naturais e é uma decisão consciente, racional e não egoísta. Um filho só já dá pra rir é pra chorar e não tem nada de egoísta em não querer cuidar de mais de um ou abrir mão de ter outros.
Irmãos
Então me aparecem com aquele argumento que eu preciso dar um irmão para o meu filho. Irmão não é presente. Irmão você dá se você quer ter outro filho. Não tem documento que garanta que irmãos vão se dar bem. Não tem documento que garanta que, na sua velhice, os filhos vão dividir os cuidados com você. E, se a questão é a velhice dos pais, estamos tendo filhos ou garantindo cuidadores para a velhice? Se precisa de outro filho para dividir os cuidados com você na velhice, junte dinheiro para pagar um cuidador, uma enfermeira ou morar em uma casa de repouso bacana.
Maternidade atípica
Tenho amigas, mães de crianças atípicas que resolveram não ter o segundo devido ao risco. Elas também são julgadas, dizem que têm que ter outro para cuidar do primeiro. Escolhas são muito pessoais, mas não é um peso muito grande para se colocar nas mãos de uma criança?
Embora ser mãe de filho único seja um questão encerrada para mim, hoje eu também penso muito nos riscos de ter um filho com problemas de saúde. Ou com problemas de desenvolvimento. Conheço tantas mães que passam por isso e sei como é difícil para elas.
Eu sei como pesa para mim ser mãe de um menino um pouco fora do padrão, eu sei de tudo que mudei na minha vida por causa dele. Meu filho é AH, muito mais fácil lidar com as questões dele do que com as de um autista, uma criança com apraxia da fala, síndrome de down, alergia alimentar severa.
Amo muito esses pequenos que precisam superar tantos obstáculos, faço o que posso para abrir-lhes portas. Para buscar uma sociedade mais inclusiva. Sabemos de todo o esforço extra que uma criança fora do padrão exige os pais. Conheço as batalhas diárias de amigas muito amadas. Sabemos que o amor supera tudo, mas é difícil, racionalmente, querer passar por tudo isso. Como não entender a amiga que não deseja correr o risco? Empatia, amigos, é fundamental.
Nunca está bom!
Seja qual for o número de filhos que você tem, sempre vai ter alguém pra cutucar e tentar te fazer mudar de ideia. Abstraia e finja demência, quem decide quantos filhos um casal vai ter é o casal.
Eu escolhi ter um só, já fui tratada como mãe de garoto problema com o rótulo do filho único. Eu sei o que é a maternidade graças a ele, se é para viver essa experiência de ser mãe, um já resolve a questão.
Hoje a sociedade considera dois filhos o ideal, de preferência um casal, melhor ainda se o menino foi mais velho que a menina. Perfeição em forma de família.
Se um dia eu resolver e mudar de ideia, a escolha será a adoção. Nenhuma criança está preparada para ser órfã, se for para eu ter mais um, a via de parto será essa, buscar uma criança que esteja esperando por uma família. Esse sim é um desejo que eu tenho, mas falta-me coragem, evolução, e uma boa dose de irracionalidade para pensar mais seriamente no assunto.
Ter filho é ótimo, mas ser mãe é foda!
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