A coqueluche é uma doença extremamente contagiosa, causada pela bactéria Bordetella pertussis e ainda bastante prevalente em todo o mundo. Por ano, ocorrem aproximadamente 60 milhões de casos e 500 mil mortes por coqueluche, sendo 60 – 65% destes casos relatados em adolescentes e adultos.
A doença natural ou a imunização por meio da vacina não conferem proteção completa e permanente contra uma reinfecção ou doença. Na verdade, nenhuma vacina tem a capacidade de proteção completa, mas reduz significativamente as chances de desenvolvimento de uma determinada doença e, muitas vezes, as chances de evolução para quadros clínicos complicados. A proteção contra a coqueluche começa a diminuir 3 a 5 anos após a vacinação, sendo indetectável após 12 anos. Desta forma, adolescentes, adultos jovens e idosos possuem imunidade inadequada contra Bordetella pertussis e são os principais transmissores da doença para as crianças susceptíveis. As crianças menores de 6 meses, que não receberam as 3 primeiras doses da vacina devido à baixa idade, são as que têm maior potencial de apresentarem quadros graves e fatais.
Classicamente, a coqueluche é uma doença prolongada e subdivive-se em 3 fases: catarral (1-2 semanas), paroxística (2-6 semanas) e covalescente (2 semanas ou mais). No início, predominam sintomas inespecíficos, tais como obstrução e secreção nasais, espirros, febre baixa e lacrimejamento, semelhante a um resfriado. Ao longo dos dias, a tosse passa a ser a marca registrada da doença. Aos mínimos estímulos, a criança doente apresenta crises súbitas e prolongadas de tosse, que podem ser acompanhadas de rubor facial (rosto avermelhado), cianose (lábios azulados devido à dificuldade de oxigenação) e guincho inspiratório ao final. De uma maneira simples de descrever, a criança tosse-tosse-tosse-tosse-tosse (sem respirar adequadamente e com aparência angustiada) e puxa o ar rapidamente ao final (o que resulta no guincho). À medida que a fase paroxística passa, iniciando-se a fase de covalescença, o número, a intensidade e a duração das crises de tosse diminuem.
Deve-se suspeitar de coqueluche em crianças pequenas que estejam apresentando apneia (pausas respiratórias prolongadas), cianose ou episódios de tosse com características coqueluchóides. Quanto menor a criança, em especial nas menores de 3 meses de idade, maiores serão as chances de hospitalização (82%), pneumonia (25%), convulsões (4%), encefalopatia e óbito. Dentre outras complicações, incluem-se apneia, insuficiência respiratória com necessidade de ventilação pulmonar mecânica, infecções bacterianas secundárias (otite média e pneumonia), hipertensão pulmonar, hemorragia pulmonar, hemorragia cerebral, sequelas pulmonares e cerebrais permanentes.
Antes da vacinação em massa da população, a coqueluche era a principal causa de óbito relacionada a doenças transmissíveis entre as crianças menores de 14 anos. Depois do uso generalizado da vacinação específica, houve um declínio de mais de 99% dos casos. Países com baixa cobertura vacinal ainda possuem alta incidência da doença e número elevado de óbitos.
Atualmente, recomendam-se 3 doses da vacina tríplice (DTPa) no primeiro ano de vida, em geral com 2, 4 e 6 meses de idade, uma 4ª dose (1º reforço) entre 15 e 18 meses de idade e uma 5º dose (2º reforço) entre 4 e 6 anos. Adolescentes entre 11 e 18 anos devem receber uma dose da vacina tríplice bacteriana acelular tipo adulto (Tdpa), conferindo proteção contra tétano, difteria e coqueluche. Profissionais da área da saúde que tenham contato com crianças e contactantes familiares que cuidem de recém-nascidos também merecem atenção especial.