Desde que começaram as aulas na nova escola do meu filho fico pasma com o comportamento dos pais, tão elegantes, parando seus carrões na fila dupla, ou na esquina, onde é proibido parar e estacionar, para que seus filhos desçam “rapidinho”. Existe uma deficiência e da educação para o trânsito que parece uma doença incurável. A vaga para deficiente, sempre ocupada por um carro de alguém cuja deficiência era só de bom senso e coisas piores. Péssimo exemplo para os próprios filhos e para os filhos dos outros. Fora todos aqueles que dão uma “paradinha” a fila dupla porque precisam parar na porta da escola. Será que ninguém mais pode usar as próprias pernas para caminhar?
Num outro dia, cheguei lá à noite, de carro, haviam vagas disponíveis na rua, mas dá trabalho demais fazer baliza, então, uns 5 carros estava ali, parados na fila dupla para ficarem na porta da escola. Tentei estacionar em uma das vagas e não pude, porque precisava chegar o carro mais para a frente para fazer baliza e tinha um imbecil parado na fila dupla impedindo que eu ocupasse a vaga. Desisti, segui por mais uns 30 metros e parei em outra vaga. Depois desse dia resolvi que vou a pé até debaixo de chuva para não ter que aguentar esse tipo de coisa.
Comentei sobre isso com várias pessoas, sei que o colégio orienta, pede! Mas quem tem o rei na barriga nunca pensa nos outros, o universo gira ao redor do seu próprio umbigo.
Da Deficiência e da educação para o trânsito
Ontem foi a gota d`água! Vi o post de uma mãe, ela tem dificuldades motoras e de locomoção devido à esclerose múltipla. Tenho vários amigos que com o mesmo diagnóstico, Adriana Abijaodi, minha amiga há mais de vinte anos, colunista aqui do site, o Lucas, irmão da minha amiga Raquel e marido da Fabiana, ambas padecentes e uma prima do meu marido. Outro dia vi o post dessa mãe e meu sangue ferveu!
_____________________________________________________________________________________
A Mariana escreveu:
“Ninguém tem nada a ver com isso
Não sou dessas de alardes ou de brigar para defender minhas ideologias políticas. Mas como todo cidadão quero fazer valer meus direitos e sei muito bem dos meus deveres.
Meu nome é Mariana de Sousa Buldrini Filogonio, tenho 40 anos sou casada e mãe de uma filha. Hoje vivi o que para Clarice Lispector pode –se chamar de momento epifânico.
Há aproximadamente vinte anos atrás descobri, depois de vários exames: de liquor, ressonâncias ,potencial evocado e outros que tinha ESCLEROSE MÚLTIPLA. Doença desmielinizante, muitas vezes progressiva que vai acabando com nossas forças físicas e psicológicas. Mas não é disso que quero falar. Essa patologia fez com que me tornasse uma deficiente física. Tenho uma paraparesia espástica dos dois membros, ou seja, ando mal, equilibro mal, tenho pouca tolerância a ficar em pé e canso-me antes do ponteiro marcar 60 segundos.
É da deficiência que quero falar. Aliás da deficiência e da educação para o trânsito. Desde o início de fevereiro minha filha começou a estudar no Colégio X. Achamos a filosofia e a parte pedagógica muito interessantes. Ela tem amado. Mas foi também no início do mês de fevereiro que começou meu suplício.
Todo dia, ao leva-la para escola, tenho que brigar para parar na vaga de deficientes, que não está lá à toa. Hoje especialmente havia uma senhora parada na parte amarela da vaga legalmente destinada ao deficiente, eu gentilmente pedi para que ela desse uma ré para que eu pudesse entrar na vaga sem que tivesse que fazer uma manobra arriscada e parar o trânsito. A senhora foi logo me inquirindo sobre a veracidade da minha condição. Pronta e energicamente, quase com orgulho, falei que sim.
Lembro a vocês que deficiente não é só aquele na cadeira de rodas e totalmente limitado. Minha deficiência me permite uma independência modificada, e a trancos e barrancos vou vivendo. Saí do carro, com minha peculiar dificuldade, para abrir a porta de trás. Fiz isso e entrei novamente. Foi quando a senhora infratora grita “ Deus castiga! Fingir que é deficiente… ”
Nesse momento virei bicho, quis voar no pescoço da meliante. Mas ainda bem que não deu tempo. Apenas chorei, cheguei em casa e escrevi essas mal traçadas linhas.
Fica aqui minha tristeza e perplexidade!”
______________________________________________________________________________________
Passou da hora de termos mais educação, principalmente no trânsito e na porta das escolas. Vamos dar um bom exemplo para os nossos filhos! Não tem esse papo de dois minutinhos só usando a vaga para deficientes. Nem parar na fila dupla e abrir a porta do carro para o filho sair “rapidinho”. Todo mundo está com pressa, mas todo mundo pode ser organizar para estacionar o carro no lugar certo, descer e levar a criança até a porta da escola.