Bullying é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder.
Bullying – por Adriana Abijaodi
O bullying se divide em duas categorias:
- bullying direto, que é a forma mais comum entre os agressores masculinos, e
- bullying indireto, sendo essa a forma mais comum entre mulheres e crianças, tendo como característica o isolamento social da vítima. Em geral, a vítima teme o(a) agressor(a) em razão das ameaças ou mesmo a concretização da violência, física ou sexual, ou a perda dos meios de subsistência.
A Forma Escolar da Tortura
Rubem Alves – colunista da Folha de São Paulo
Eu fui vítima dele. Por causa dele, odiei a escola. Nas minhas caminhadas passadas, eu o via diariamente. Naquela adolescente gorda de rosto inexpressivo que caminhava olhando para o chão. E naquela outra, magricela, sem seios, desengonçada, que ia sozinha para a escola. Havia grupos de meninos e meninas que iam alegremente, tagarelando, se exibindo, pelo mesmo caminho. Mas eles não convidavam nem a gorda nem a magricela. “Bullying” é o nome dele.
Dediquei-me a escrever sobre os sofrimentos a que crianças e adolescentes são submetidos em virtude dos absurdos das práticas escolares, mas nunca pensei sobre as dores que alunos infligem a colegas seus. Talvez eu preferisse ficar na ilusão de que todos os jovens são vítimas. Não são. Crianças e adolescentes podem ser cruéis.
Vez por outra, crianças e adolescentes têm desentendimentos e brigam. São brigas que têm uma razão. São acidentes. Acontecem e pronto. Não é possível fazer uma sociologia dessas brigas. Depois delas, os briguentos podem fazer as pazes e se tornar amigos de novo. Isso nada tem a ver com “bullying”. No “bullying”, um indivíduo -o valentão- ou um grupo escolhe a vítima que vai ser seu “saco de pancadas”. A razão? Nenhuma. Sadismo. Eles “não vão com a cara” da vítima. É preciso que a vítima seja fraca, que não saiba se defender. Se ela fosse forte e soubesse se defender, a brincadeira não teria graça.
A vítima é uma peteca: todos batem nela e ela vai de um lado para outro sem reagir. Pode-se fazer uma sociologia do “bullying” porque ele envolve muitas pessoas e tem continuidade no tempo. A cada novo dia, ao se preparar para a escola, a vítima sabe o que a aguarda. Até agora, tenho usado o artigo masculino, mas o “bullying” não é monopólio dos meninos. As meninas também usam outros tipos de força que não a dos punhos. E o terrível é que a vítima sabe que não há jeito de fugir. Ela não conta aos pais, por vergonha e medo. Não conta aos professores porque sabe que isso só poderá tornar ainda pior à violência dos colegas. Ela está condenada à solidão. E ao medo acrescenta-se o ódio. A vítima sonha com vingança. Deseja que seus algozes morram. Vez por outra, ela toma providências para ver seu sonho realizado. As armas podem torná-la forte.
Na maioria dos casos, o “bullying” não se manifesta por meio de agressão física, mas por meio de agressão verbal e de atitudes. Isolamento, caçoada, apelidos. Aprendemos com os animais. Um ratinho preso numa gaiola absorve a informação rapidamente. Uma alavanca lhe dá comida. Outra alavanca produz choques. Depois de dois choques, o ratinho não mais tocará a alavanca que produz choques. Mas tocará a alavanca da comida sempre que tiver fome. As experiências de dor produzem afastamento. O ratinho continuará a não tocar a alavanca que produz choque ainda que os psicólogos que fazem o experimento tenham desligado o choque e tenham ligado a alavanca à comida.
Experiências de dor bloqueiam o desejo de explorar. O fato é que o mundo do ratinho ficou ordenado. Ele sabe o que fazer. Imaginem, agora, que uns psicólogos sádicos resolvam submeter o ratinho a uma experiência de horror: ele levará choques em lugares e momentos imprevistos ainda que não toque em nada. O ratinho está perdido. Ele não tem formas de organizar o seu mundo. Não há nada que ele possa fazer. Seus desejos, imagino, seriam dois. Primeiro: destruir a gaiola, se pudesse, e fugir. Isso não sendo possível, ele optaria pelo suicídio.
Edimar era um jovem tímido de 18 anos que vivia na cidade de Taiúva, no Estado de São Paulo. Seus colegas fizeram-no motivo de chacota porque ele era muito gordo. Puseram-lhe os apelidos de “gordo”, “mongoloide”, “elefante cor-de-rosa” e “vinagrão”, por tomar vinagre de maçã todos os dias, no seu esforço para emagrecer. No dia 27 de janeiro de 2003, ele entrou na escola armado e atirou contra seis alunos, uma professora e o zelador, matando-se a seguir.
Luis Antônio era um garoto de 11 anos. Mudando-se de Natal para Recife por causa do seu sotaque, passou a ser objeto da violência de colegas. Batiam nele, empurravam-no, davam-lhe murros e chutes. Na manhã do dia fatídico, antes do início das aulas, apanhou de alguns meninos que o ameaçaram com a “hora da saída”. Por volta das 10h30, saiu correndo da escola e nunca mais foi visto. Um corpo com características semelhantes ao dele, em estado de putrefação, foi conduzido ao IML (Instituto Médico Legal) para perícia.
Achei que seria próprio falar sobre o “bullying” na seqüência do meu artigo sobre o tato que se iniciou com: “O tato é o sentido que marca, no corpo, a divisa entre os deuses Eros, do amor, e Tânatos, da morte. É por meio do tato que o amor se realiza. É no lugar do tato que a tortura acontece”. O “bullying” é a forma escolar da tortura. “ Trabalhamos demais, o mundo nos cobra demais, estressamos muito, trânsito, viagem, aeroporto, metas a serem cumpridas, casa a ser organizada com ou sem ajuda… Tanto para homens, quanto para mulheres, outro diferencial do mundo contemporâneo, tudo isso se somam ao fazer o “Para Casa” com filhos, festinhas, festas , reunião de escola, provas, natação, balé, academia… Mistura tudo e…boom!
“Bullying.” Fica o nome em inglês porque não se encontrou palavra em nossa língua que seja capaz de dizer o que “bullying” diz. “Bully” é o valentão: um menino que, por sua força e sua alma deformada pelo sadismo, tem prazer em bater nos mais fracos e intimidá-los.
Este é o assunto mais atual, mas também o mais antigo que já ouvi… Rubem Alves , 71 anos, é um pensador desorganizado. A leitura do livro “Fenômeno Bullying”, de Cleo Fante (Verus, 224 págs.), que ele considera obrigatória, o provocou a escrever este artigo, que eu achei ótimo e resolvi trazer aqui para vocês.
Bom, já vi acontecer quando estudava e quando era professora e em nenhum dos casos fiquei calada. Mas se parou por aí não sei e nunca saberei. Hoje, com outro “olhar”, o de psicóloga, me preocupo bastante. De brincadeira de mau gosto de criança se tornou um crime, uma questão de saúde pública!
Espera aí! Estamos falando de crianças? Agressor, vítima, plateia, mas não é escola? Local de socialização e aprendizado? É padecentes, temos várias crianças, criadas por pais de diversas culturas, valores e crenças, crianças únicas, com personalidades, índoles diversas…. Tá bom, antigamente também era , portanto a educação era outra.
Muitas vezes, o bullying passa despercebido, porque quem sofre não conta, se sente humilhado. E o Bully, nome dado ao agressor, e seus companheiros não contam, por medo e por saberem que é errado. No livro BULLYING – ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA PARA CRIANÇAS E ADULTOS, de Jane Middelton-Moz e Mary Lee Zawadsky, Artmed, 2007, as autoras tem como objetivo alertar que se reconhecessem o Bully como tal, ele mudaria seu comportamento. São bastante esperançosas e acreditam, como eu, que é necessário confrontar e ser um “espelho honesto” para eles, a fim de que se vejam e comecem o longo caminho de mudança. Segundo elas, “a fim de parar o bullying e a violência no mundo de hoje, precisamos deixar de ser testemunhas silenciosas …”
A maioria dos Bullies vem de ambientes abusivos e também sofreram esse tipo de abuso, ou em casa, ou na escola, ou na rua. Enfim, eles também sofrem. Aprenderam a sobreviver, como diz o livro “(…)nunca devem se permitir estar vulneráveis.”
Temos que romper esse círculo vicioso!
E com o crescimento tecnológico, tem-se o Cyberbullying: a violência virtual. Na internet e no celular, mensagens com imagens e comentários depreciativos se alastram rapidamente e tornam o bullying ainda mais perverso. Como o espaço virtual é ilimitado, o poder de agressão se amplia e a vítima se sente acuada mesmo fora da escola. E o que é pior: muitas vezes, ela não sabe de quem se defender!
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