Padecendo pelo Mundo é uma coluna que mostra a vida de brasileiras que foram morar em outros países, hoje temos a história da Bárbara Gurgel na Califórnia onde foi passar seis meses com a família viajando.
Bárbara Gurgel na Califórnia – uma aventura de seis meses
Eu amo viajar. Sempre amei. Acho que me encontro mais andando pelo mundo do que na minha vida de dia a dia. Isso é quase uma necessidade, uma ginástica pra mente e um carinho pra alma. Quando meu filho nasceu minha rotina de viagens não mudou. Meu marido é do Rio de Janeiro e toda a família dele está lá então, idas para o Rio são frequentes. Minha irmã que é madrinha do meu filho mora em Goiânia sendo assim, Goiânia também é um destino certo.
Quando meu filho tinha 1 ano, resolvemos que faríamos um Sabático, por seis meses, na Califórnia, Califórnia com criança! Nos organizamos para isso e quando ele tinha 1 ano e 06 meses partimos. Os “causos” deste sabático são vários porque o cenário era de um casal que não falava inglês com um filho de 1 ano e 06 meses e que precisava alugar casa, abrir conta em banco, colocar filho na escola, passear, estudar e se divertir!!
Mas, mesmo sendo muitos os momentos engraçados resolvi contar uma passagem específica: no final do nosso sabático (quando já conseguíamos falar inglês) resolvemos fazer uma viagem pela costa da Califórnia, de Los Angeles até San Francisco. Esta viagem é feita em 2 dias e é maravilhosa. Neste momento meu filho há havia completado 2 anos. Então consideramos que ele já estava super maduro para este tipo de aventura.
Nós que tínhamos nos “controlado” financeiramente até então, resolvemos fazer uma graça e alugar um carro conversível. Afinal de contas, não é todo dia que você cruza a costa da Califórnia. Lá fomos nós, lindos, felizes e com cara de ricos.

O primeiro dia de viagens foi ótimo, Theodoro se comportou como um lord, curtindo a viagem, curtindo a paisagem e curtindo mais ou menos o vento na cara quando a gente abria a capota do carro. Sendo assim, resolvemos seguir de capota fechada. Primeira lição, carro conversível não é carro pra criança, mas e daí? Se fosse pra alugar de novo alugaríamos o mesmo carro. A viagem não pode girar em torno só da criança. Todo mundo que está ali tem expectativas e desejos e todo mundo tem que sair feliz desta experiência.
Durante este dia de viagem foram, duas paradas para comida, três paradas para troca de fraldas e várias paradas para tirar fotos e curtir. Tudo ok, tudo certo, tudo lindo. Paramos a noite para dormir em um hotel de uma cidade linda que ficava no meio do caminho – CARMEL.
Não tínhamos programação de parar nesta cidade, mas também não tinhas programação de não parar. Aconteceu de anoitecer quando estávamos lá e resolvemos ficar: Hotel delícia, cidade linda, mas a comida nos EUA é uma tragédia (para o meu paladar e para os hábitos alimentares da minha família).

Viajar com criança é possível, sempre! Mas a gente precisa estar aberto a algumas mudanças na rotina. Viagem não é dia a dia. Tem que relaxar, tem que jogar com as peças que tem em mãos. Não dá pra programar tudo. Prefiro que meu filho tome suco natural, mas na viagem ele toma o suco que tiver. Prefiro que ele não coma batata frita mas entre o bacon do café da manhã e a batata frita, eu fico com a segunda opção. Todo lugar do mundo tem fruta, mas, se você se deparar com algum que não tenha, coma biscoito e seja feliz. Macarrão é comida universal, não me importo do meu filho comer macarrão por uma semana, se for esta a opção disponível. E foi assim que jantamos e fomos dormir.
Viajar sempre fez do Theo um menino super adaptável. Dorme em qualquer cama, com ou sem barulho, com ou sem luz. Simplesmente dorme. Ama um quarto de hotel. Ama a novidade.

No outro dia cedo descobrimos que, em frente ao hotel, no Oceano, haviam leões marinhos, aquele lugar era tipo a casa deles de sempre. Era só atrasar a rua. Agora para e pensa: Não vale a pena comer batata frita no café da manhã para poder deixar seu filho viver uma experiência destas?! Eu acho que vale.
Seguimos viagem e os problemas começaram: Como ainda estávamos dentro da cidade, resolvemos abrir a capota do carro, para andar devagar e pagar de gatões! Eis que, a capota explode, o vidro estilhaça e o Theo que estava na cadeirinha do banco de trás fica pior do que a Elza do Frozen coberto de vidrilhos.
Providência: Precisamos trocar de carro. Pesquisamos onde teria uma filial da empresa em que alugamos o carro e descobrimos que havia uma uns 15 minutos dali. Limpamos o menino dos vidros e seguimos viagem para trocar o carro.
Começa a chover… Na Califórnia nunca, nunca, nunca chove nesta época do ano mas neste dia choveu. E a chuva durou exatos 20 minutos. Seguimos viagem com a capota estilhaçada, com o menino, na chuva e de guarda sol aberto. Pensem na cena, por favor. A viagem que demoraria 15 min demorou meia hora porque não dava pra correr com o guarda sol aberto, senão ele voaria.
Chegamos à locadora e não tinha nenhum – NENHUM – carro disponível para a troca. Esperamos por uma hora e conseguimos um carro tipo um Palio. Beleza, pagamos pela BMW e levamos o Palio. No momento me pareceu um ótimo negócio.
Nesta altura do campeonato o humor do marido tinha ido para o espaço sideral, o filho já estava chato de cansaço e eu lá, rezando pra chegar rápido.

Depois de mais um dia de viagem, chegamos à San Francisco. Chegamos às 18h, hora de um transito infernal na cidade e demoramos mais 2 horas para andar uns 6km da entrada da cidade até o hotel.
A fome o cansaço e o mau humor dominavam a família. Mas tudo bem, já estava muito perto de entrar no hotel e descansar, certo? Errado!
Chegamos ao hotel e nossa reserva não foi encontrada. Mas tudo bem, era só nos dar um quarto, mesmo sem a reserva, certo? Errado de novo. Não havia quartos nem neste hotel e nem em nenhum dos outros que estavam próximos. Havia um evento na cidade e estava tudo lotado. Nessa hora eu quase chorei. O filho já estava chorando de fome, de cansaço de irritação e de tudo mais que vocês puderem imaginar. O marido estava mudo, sem saber o que fazer.

Eu sentei abracei meu filho e fiz uma cara de retirante do nordeste no hall do hotel. Eu me neguei a sair de lá. Não tinha mais animo pra entrar em carro, não sabia para onde ir, sente e esperei.
Até que uma boa alma veio ao me encontro e disse: Senhora, temos a suíte presidencial liberada e senhora pode ocupa-la pelo preço do quarto normal já que o hotel errou na sua reserva.
Gente, pensa se não é o Universo conspirando pra me compensar o dinheiro do carro alugado. Hein, hein?? Claro que era!!
Fogos, luzes, raios, e bom humor. Como num passe de mágica a viagem ficou maravilhosa de novo. San Francisco é um dos lugares mais lindos que já fui. Lá vivemos dias sensacionais que não vão sair da minha memória. O trajeto virou piada e os problemas hoje são motivos de risada em mesas de bar.
Viajar é isso: é deixar se marcar de coisas boas e transformar as ruins em comédia.

Sempre que lembro de lá, lembro de coisas ótimas, de momentos incríveis. Nunca me lembro dos perrengues. Faria tudo de novo. Faria tudo de novo 1000 vezes!
Bárbara Gurgel Ferreira
Mãe do Theodoro