APLV – Alergia Proteína Leite Vaca

Meu nome é Fabiana e sou mãe de duas crianças que tiveram Alergia a Proteína do Leite de Vaca (APLV).

Resolvemos que já estava na hora de engravidar, mesmo morando fora do Brasil e longe da família. Três meses depois, já estávamos comemorando a chegada de uma menina. Com 36 semanas de gravidez, ela parou de crescer. Começamos, então, uma dieta rica em proteína, sem muito sucesso. Com 38 semanas e um aumento insignificante no crescimento intrauterino, fizemos a indução do parto.

Padecendo-APLV-fabiana
Arquivo Pessoal

APLV – Alergia Proteína Leite Vaca
por Fabiana Maciel

Lara nasceu me convidando a despedir da vida de filha para dar as boas-vindas a vida de mãe. Já no primeiro dia, ela não pegou o meu peito, e introduziram a primeira mamadeira de leite da vida dela. Eu sempre soube que os bebes choram, mas que também dormem. A minha só chorava, e de uma forma que eu nuca tinha visto.

Com 2 meses de vida, Lara ainda não ganhava peso e era acompanhada, semanalmente, pela pediatra.  A recomendação era sempre a mesma: amamente em livre demanda. Eu o fazia, mas sabia que alguma coisa estava errada. Lara nunca dormia mais de 30 mim por soneca e, quando ela estava acordada, ou estava mamando ou chorando.  Era um choro de dor, um choro que doía dentro da cabeça e que, literalmente, estava nos deixando loucos.

Ela era sempre pesada sem fralda nas consultas, porque até o peso da fralda fazia diferença na balança. Com 3 meses foram pesa-la e a fralda estava repleta de sangue. Esse sangramento, associado aos outros sintomas, foi fundamental para o diagnóstico de APLV. Me culpei e chorei todos os dias pelas coisas que eu poderia ter feito ou comido para causar tudo aquilo.

Os choros descontrolados, eram de dor. Sim, dor de uma inflamação intestinal. Foi nesse dia eu briguei com Deus. Briguei porque eu achava que aquilo era uma carga muito pesada para eu carregar e que ela era muito pequena para sofrer daquele jeito.

No dia em que entramos com o leite especial, ela dormiu por quase 3 horas. Fiquei ao lado do berço, para ter certeza de que ela estava respirando, porque era a primeira vez que isso acontecia desde o nascimento. Entrei em dieta porque queria amamenta-la. Tive que fazê-lo, porque ela estava reagindo ao que eu comia. Fiquei firme na dieta por 3 meses, até não aguentar mais e ficar doente. Mais uma vez, me culpei pela minha fraqueza.

Chegando a hora da introdução alimentar, me deparo com uma lista de restrições e uma outra de alimentos que ajudam na absorção do cálcio. Aprendi a ler rótulos, trocar ingredientes nas receitas, e dia após dia, fomos nos adaptando. Mesmo assim, várias reações como diarreias severas intercaladas com prisões de ventre; assaduras com fungos causadas pela acidez das fezes; noites sem dormir por cólicas; mas continuamos firmes, porque a única certeza que eu tinha era que eu não poderia desistir.

Fui muito criticada, em vários sentidos, um filho que pede comida e a mãe não poder dar, não é frescura.  Segui em frente com as minhas verdades e objetivos, mas ainda estava brigada com Deus.

Quando a Lara fez um ano e reagiu ao leite especial, fomos a mais um especialista. Chegando lá, nos deparamos com crianças com os mais variados tipos de doença, e eu tive vergonha de estar lá, porque ela era a única que andava e não se alimentava com sonda. Foi aí que eu percebi, que a mão de Deus estava comigo o tempo todo amenizando a minha dor. Pedi perdão a Ele pela minha revolta inicial e pela minha falta de fé.

Pedi também que Ele entendesse o meu sofrimento; que era pequeno diante de todos aqueles, mas para mim, era a pior dor que eu já tinha sentido. Existem outras dores, claro; mas aprendi que nenhuma dor deve ser julgada, comparada ou medida. Que não existe qual é a maior ou qual é a menor; simplesmente a minha, e a sua dor.

Engravidei pela segunda vez, temos o Eric, de 1 ano de 10 meses. A história se repetiu como na primeira; além de ter nascido prematuro com 36 semanas.  Eric foi diagnosticado logo com APLV no início, o que amenizou muito o sofrimento de todo mundo.  Ele só mamou no peito por 3 meses, e não sofri e não me culpei por isso. Lara foi curada aos 18 meses e Eric com 1 ano.

Ainda peço perdão pela ignorância de não saber aceitar as coisas e agradeço por ter executado a minha missão bravamente, apesar de achar que poderia ter feito um pouquinho melhor, mesmo sabendo que ninguém é perfeito. Me tornei quem eu sou hoje, pelos meus filhotes, meu marido, e por pessoas maravilhosas que encontrei ao longo do caminho. Somos uma família completa, saudável, feliz, cheia de amor para dar e receber.

Falo com orgulho, que tenho duas crianças curadas, lindas, amáveis, saudáveis e cheias de vida. Mas se continuassem com a alergia? Os descreveria da mesma maneira, porque a vida de uma pessoa com alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é à base dieta e não de remédio. E, para mim, isso já basta.

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