Sobre amigos e filhos. Nos grupos de mães que participo não é infrequente ver mulheres se queixando sobre como os amigos sumiram após elas terem filhos.
Normalmente as demais mães a consolam dizendo que é assim mesmo:
- “é o momento que você descobre seus verdadeiros amigos”,
- “a maternidade é um ato solitário”,
- “você acaba virando amiga de outras mães, aí sua turma será outra”
– são alguns dos consolos que já li (e que já dei também).
Normalmente nos comentários consolando as mamães solitárias aparecem casos de arrepiar os cabelos: desde desculpas escabrosas dadas por supostos “amigos” para não serem e não estarem presentes em momentos especiais da mãe e da criança, passando por absurdos como cobranças de a puérpera comparecer a festas ou jantares que ocorreram nos primeiros meses do nascimento da criança.
Lógico que há exceções
Há inúmeros casos de turmas em que todo mundo engravida junto (metafórica ou literalmente), ou que a galera acolhe e recebe a mãe e o bebezinho como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Mas esses casos são isso mesmo: exceções.
Via de regra, o que ocorre é que o pai ainda mantém contato com os amigos – sai para a pelada, vê o jogo de futebol, estica pro Happy Hour depois do serviço, viaja a trabalho, segue a vida de forma mais ou menos normal (sem acusações, estamos falando aqui da maioria, apesar de ver – com alegria – que os pais se envolvem cada vez que na criação dos filhos).
Já para a mãe, sair e ver as amigas é algo raro, difícil e requer mais estratégia e provisionamento que foi gasta no dia D – sim, tem hora que parece mais fácil vencer uma Guerra que sair de casa maquiada e de cabelo limpo, deixando o filho com alguém responsável e de boa vontade.
A pessoa que eu era antes
No fundo, a maioria das mães não quer deixar de ser a pessoa que era antes de ter filho: nós gostamos dos nossos amigos, nós gostamos de comer fora, nós gostamos de falar de outra coisa que não seja de bebê. Mas a realidade é que não tem como passar ilesa pela experiência da maternidade, a gente muda, uma transformação ocorreu, não somos mais a mesma pessoa, não tem jeito.
Eu já fiquei dos dois lados: eu já fui a amiga da mãe, agora sou a mãe. E depois de tudo, eu vejo que devo muitas desculpas às minhas amigas que tiveram filho antes de mim. MUITAS.
Eu já fui ingênua (ou insensível?) e achava que àquela minha amiga que tinha um bebê e não podia ir no encontrinho de quinta-feira faltava boa vontade, nada mais.
“Gente, mas porque não chama uma babá? Uma vez na vida…”.
Eu já fui a amiga que achava chato ter que ficar indo em lugar com espaço kids e já fui a amiga que pensou
“nossa, mas ela era tão bacana, depois de ter filho não fala de outra coisa”.
Eu já fui a amiga que falava:
“mas a fulana levava o Arthurzinho pra restaurante quando ele tinha a mesma idade do seu e era tão de boa, isso não é motivo para não ir…”.
Querida (ex) amiga ficam aqui meus mais sinceros pedidos de desculpa. Eu não sabia. Eu era sem noção.
Entendo demais porque a imensa maioria das mulheres só sai com o filho para tudo que é lado, vez que é difícil achar alguém de confiança. Entendo mais ainda quem simplesmente abdicou de sair. Dá trabalho demais.
Eventos
Tem evento que requer tanta preparação anterior, tanta preocupação no durante, tanta frustração por não conseguir manter mais que três minutos ininterruptos de conversa, tanto cansaço no retorno para casa, que você, ao chegar exausta e se deparar com a quantidade de serviço que lhe aguarda, repensa seriamente se esse esforço para manter uma aparente normalidade de rotina vale a pena
Voltar de festa e evento é como primeiro dia após mudança na casa nova: CAOS. Você tem uma lista infinita de tarefas, tipo dar banho, meu Deus, como eles ficam sujos, parece que criança é imã de sujeira; dar de comer, pois não importa para onde você vá, a criança não vai querer comer lá, o que vai te obrigar a preparar algo para ela em casa; lidar com birras homéricas – crianças cansadas ficam birrentas, ficam bravas e isso tira qualquer um do sério.
Minha falta de empatia se voltou contra mim inúmeras vezes:
Eu já fui questionada de porquê eu não deixava meu filho com a minha mãe para poder ir ao casamento do próximo sábado. Já “esqueceram” de me convidar para aquele almoço de domingo após eu ter sugerido de irmos a um espaço maiskids friendly. Já me disseram que eu estava de frescura porque a fulana sempre saiu com o filho dela para tudo que é canto após eu ter negado de levar meu filho de meses a um evento em pleno fevereiro, com sol a pino.
Você fica querendo não ser a mãe louca que largou sua vida social porque teve filhos mas há limites. Eu até posso ir no casamento, mas quando meu filho acordar às seis da manhã, quem vai ter que estar lá? Eu. Eu até posso ir a um restaurante francês com o meu bebê, mas quem vai ter que aturar olhares de julgamento porque ele chorou ou jogou a comida no chão? Eu (aliás, como há restaurantes sem acessibilidade! Em muitos mal consigo passar com o carrinho entre as mesas, outros têm escadas na entrada. Coitados dos cadeirantes no país). Digamos que eu encare um evento a céu aberto num calor de 40º com meu filho, mas porque eu faria isso? Se eu odeio calor e fico incomodada em aglomerações, imagina um bebê?
Sobre amigos e filhos
Nisso acaba-se criando aquela situação “nem eu te ligo nem você me telefona”:
- por nunca ir, acabamos por não sermos lembradas,
- por não sermos lembradas, ficamos mais imersas ainda na maternidade.
Num ciclo vicioso ruim e difícil de ser quebrado.
Sentimos falta de nossos amigos. Sentimos falta de quem éramos com ele. Sentimos falta de saber de suas vidas e poder dividir a nossa. Tem horas que de fato não temos muito a dizer. Quatro meses de licença maternidade e todos meus casos engraçados envolvem coco de bebê, mas gostamos que nos perguntem. Tem horas que um convite pro Happy Hour é como ser convidado para um casamento quarta-feira na Tailândia, não dá para ir, mas gostamos do carinho da lembrança.
Comparecer mais na vida da sua amiga com filho não é apenas bom para você, mas para ela. E quando ela reclamar da solidão da maternidade, saiba que ela não está cobrando ninguém. Ela está apenas desabafando e compartilhando o susto e a responsabilidade que nos acometem quando a realidade nos toma de assalto.
Crianças
- Pode ser que você não tenha jeito com crianças,
- pode ser também que crianças nem lhe interessem tanto assim,
- pode ser que você tenha preguiça de crianças,
- mas você não necessariamente precisa falar de filho com a sua amiga!
Juro! Somos mulheres normais, só mais cansadas e com menos nojo de meleca. Se criança não for seu forte, você pode (e deve!) contar uma fofoca, compartilhar um meme, levar uma pizza, perguntar se ela precisa de alguma coisa. Amigos e filhos podem ser compatíveis!
Tenho amigas que quase nunca tocam no assunto filho comigo. Claro que perguntam se o JM está bem etc., mas como não têm muito embasamento para conduzir uma conversa integralmente sobre isso. Me contam o caso engraçado do chefe delas. Comentam sobre política. Me mandam um print com o vestido que Kim Kardashian usou no Met Gala. Ou mesmo me perguntam (com genuíno interesse) sobre como me sinto sobre esse momento da minha vida.
Maternidade é renúncia.
A gente sabe, a gente aceita. Dizem também que viver é perder amigos. Os perdemos para a morte, pro acaso, pra politica, pro tempo. Mas por que deveria-nos perdê-los porque ganhamos um filho?
Eu faço minha parte. Às vezes mando uma mensagem. Às vezes me convido pros lugares. Às vezes finjo que não estou irritada com aquele amigo que furou comigo pela quijnta vez e que ainda não conhece meu filho, mas que eu adoro de coração.
Às mães que se sentem sozinhas, todo meu apoio. Saiba que é verdade: novas amigas virão e elas terão filhos e será mais fácil. É verdade também que as amigas de antes precisam de tempo (e às vezes de viver essa experiência) para se ajustarem à nova realidade que você vive. Tenha tolerância com elas. Às mulheres que não sabem o que fazer ou falar com as amigas que tiveram filho, meu conselho: apenas esteja lá. É tudo que a gente precisa.
Mariana Tavares Muniz de Oliveira
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