Há cerca de 60-70 anos, o desenvolvimento tecnológico voltado a facilitar a vida das pessoas, as mudanças no papel da mulher e no estilo de vida das pessoas contribuíram para o aumento na utilização de mamadeiras e leites artificiais na alimentação das crianças, em detrimento do aleitamento materno/ amamentação. Houve um período, inclusive, que esse leite era distribuído por programas de assistência. Na década de 80 começam a surgir os programas que buscam resgatar o aleitamento materno no Brasil, entretanto, ainda hoje vivemos os reflexos daquela cultura. O Brasil apresenta uma média assustadoramente baixa de 54 dias de aleitamento materno exclusivo, quando o ideal preconizado são 6 meses, e menos de 1 ano de aleitamento total, sendo que deveria seguir até os 2 anos ou mais, segundo a OMS.
Veja a pesquisa completa https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pesquisa_prevalencia_aleitamento_materno.pdf)
- Amamentação: é papel de todos apoiar
Por Luciana Morais
Atualmente, existem diversos programas que visam à conscientização da importância do aleitamento, inclusive proteções legais, com a NBCAL (https://www.anvisa.gov.br/propaganda/cartilha_nbcal.pdf) e a lei que protege mães que amamentam. Porém, sabemos que na prática a coisa não é tão simples.
Sabemos que o aleitamento materno deve ser mantido de forma exclusiva até os 6 meses de idade da criança, mas como é possível se temos uma licença maternidade de apenas 4 meses? Como garantir que essas mães sejam capazes de voltar a trabalhar e ainda assim amamentar seu bebe em livre demanda?
Mesmo com os intervalos preconizados por lei (2 intervalos de meia hora ao longo do dia), a prática, em sua maioria, não permite que aconteça da melhor forma e muitas mães acabam introduzindo outros tipos de leite ou mesmo alimentos precocemente a seus bebês. Começa aí, muitas vezes, o caminho para um desmame precoce.
Mães que trabalham longe de casa, serviços exaustivos e pesados que acabam dificultando uma ordenha adequada, bebês que vão pra creches e escolinhas… A luta pelo aumento da licença maternidade (e paternidade também porque, cá pra nós, 5 dias corridos e nada, é quase o mesmo, né?) é uma que eu espero que possamos, em breve, vencer.
Já existe um beneficio pra empresas que aumentarem a licença para 6 meses, mas a adesão infelizmente é facultativa. E o que eu, você e todo mundo tem a ver com isso? Tudo! O sucesso no aleitamento depende de uma rede de apoio firme e segura. É preciso conscientizar mães, pais, avós, tios e todos que estão envolvidos da importância do apoio, de estar ao lado, de não deixar desistir à primeira dificuldade.
Hoje vejo que é muito mais fácil dizer “ah, dá uma mamadeira que resolve!”, “pra que insistir?”, “os leites são muito bons hoje em dia, dá na mesma!”.
Mas será que realmente dá na mesma? Não dá. Ainda bem que hoje podemos contar com leites excelentes, capazes de suprir bem as necessidades nutricionais dos bebes, para aqueles que, por algum motivo, não puderam ser amamentados. E realmente existem algumas situações que o aleitamento materno não será viável. São poucos, mas existem.
Acontece que hoje a quantidade de mulheres que ‘não conseguem’ ou ‘não podem’ amamentar parece ser maior do que as que conseguem sucesso no aleitamento. Será que o problema é realmente a mulher? Precisamos lutar contra a banalização da suplementação artificial. Não é que não se deve dar nunca, mas deve ser prescrita com critério, dando-se preferência sempre a reforçar o estimulo a amamentação, a produção materna, a complementação com o leite da própria mãe. Infelizmente, muitas vezes, esse esforço é visto como radicalismo, exagero, desnecessário. Simplesmente porque hoje é muito fácil dar uma mamadeira, do que apoiar, insistir, estar à disposição. Requer paciência, esforço, tempo…
E aí chegamos às campanhas. Qual a importância delas? Já sabemos um pouco de como a história da sociedade contribuiu neste quadro e da importância da rede de apoio à mulher. Mas mesmo assim vemos muita gente que ainda acredita que o aleitamento materno não possui tantas vantagens assim. Vemos profissionais que continuam orientando de forma errônea, contra as orientações de entidades nacionais e internacionais de saúde. Vemos mães que sofrem por ainda acreditarem em mitos (que são muitos) em torno da amamentação, e acabam agindo de forma não favorável.
Muitas substituem o Leite materno pela mamadeira por motivos irreais. As campanhas são de extrema importância para a promoção do aleitamento materno, difundir as boas práticas, desmitificar, e ressaltar a importância e benefícios do mesmo. Informação! Esse é um ponto chave, a meu ver, das campanhas. Informação. Como podemos fazer escolhas ou tomar atitudes se não temos informações adequadas a respeito? E não existe forma melhor de passar esse conhecimento adiante que através de campanhas, como a Semana Mundial de Aleitamento Materno, onde, inclusive, artistas conhecidas participam, uma vez que são grandes formadores de opinião.
Muitas são as iniciativas em prol do aleitamento materno – ONGs, bancos de leite, grupos de apoio e programas governamentais. Se não existisse todo esse movimento, como mostrar às pessoas os benefícios do leite materno? Mães que amamentam de forma prolongada (2 anos ou mais), ou mesmo aquelas que passam dos 12 meses de amamentação, passam por situações, muitas vezes desconfortáveis por amamentaram uma criança que, na cabeça das pessoas já está grande ou passou da idade.
Mães que, como eu, amamentam seus pequenos (2 anos, 4 meses e contando aqui) onde quer que esteja, enfrentam comentários indiscretos e olhares críticos, seja na rua, na família, onde estiver, carregados da ideia que o leite materno perde todas suas capacidades após determinada idade, sobre o comportamento ser inapropriado e a “dependência” de ambas as partes. Ué, desde quando bebês são independentes?
O contrário da não amamentação, o aleitamento prolongado também é um assunto que requer uma maior visibilidade por parte da população, uma “quebra de tabus”. Quantas histórias de desmame por pressão da sociedade (família, médicos) vemos por ai, quando as mulheres não queriam realmente levar esse desmame?
Desmame, esse, muitas vezes abruptos e traumáticos às crianças. Não podemos esquecer que amamentar é um ato fisiológico, natural, que nutre nutricional e emocionalmente bebes e crianças desde sempre. É preciso reforçar a capacidade da mulher/mãe em nutrir seu bebê, em oferecer o seu melhor para ambos, e que não se deve desistir em frente a primeira dificuldade. Pois elas existirão, sempre. Independente da situação. Com elas crescemos, aprendemos, revemos atitudes. E se, por algum motivo, mulher se ver diante de um impedimento real, que tenha sua consciência tranquila, uma vez que é capaz de fazer o que está ao seu alcance pelo seu bem e de seu bebe. Acolhimento e sensibilidade são fundamentais nesse mundo da maternidade, principalmente quando falamos em AMAmentação!