As intolerâncias e reações de hipersensibilidade, alergia aos alimentos, são manifestações comuns na infância, mais prevalentes em crianças menores de 3 anos. Consistem em qualquer reação desfavorável após a ingestão de um alimento ou aditivo alimentar, sendo leite de vaca, ovo, amendoim, nozes, peixe, soja e trigo os responsáveis por praticamente
90% dos casos naquela faixa etária. Exposição e sensibilização para essas substâncias ocorrem muito precocemente, pois, através do leite materno, a criança entra em contato com proteínas alimentares intactas.
A maioria das crianças desenvolve tolerância alimentar dentro de 2 a 3 anos. Porém, cerca de 80 a 90% daquelas com alergia a amendoim, nozes e frutos do mar permanecerão intolerantes por toda a vida.
Reações adversas e alergia aos alimentos
As reações alérgicas podem ser desencadeadas de várias maneiras, sendo o mecanismo IgE-mediado e a hipersensibilidade tardia os tipos mais envolvidos com as alergias alimentares:
- Nas reações IgE-mediadas, ocorre a formação de anticorpos IgE específicos para determinados alimentos, ou seja, o indivíduo portador de alergia a um certo tipo de alimento desenvolve anticorpos específicos e, assim, seu sistema imunológico é prontamente ativado logo após o contato com a substância agressora. Esse tipo de reação ocorre em curto espaço de tempo, havendo uma clara demonstração de causa e efeito entre o consumo do alimento e o surgimento das reações, que podem se manifestar por cólica, náuseas, vômitos, diarreia, urticária, eczema (dermatite), angioedema (edema em face, lábios, língua, laringe), obstrução nasal, rinorreia, espirros, broncoespasmo (crise de chiado) ou anafilaxia (reação alérgica exuberante e potencialmente fatal).
- Nas reações de hipersensibilidade tardia, que podem se manifestar até mesmo após vários dias do contato com o agente agressor, os linfócitos T sensibilizados induzem a uma resposta inflamatória exacerbada, não relacionada à produção de IgE, que também pode afetar a pele, o trato gastrointestinal e o trato respiratório.
As manifestações gastrointestinais são as mais encontradas em lactentes e crianças pequenas, que passam a apresentar irritabilidade, vômitos, regurgitações, diarreia e baixo ganho de peso. Com a persistência da exposição ao fator alergênico, a criança pode apresentar distensão abdominal, diarreia sanguinolenta, anemia e déficit de desenvolvimento. Por ser a hipersensibilidade tardia (mediada por células) o tipo predominantemente mais envolvido, testes cutâneos e RAST têm pouco valor diagnóstico (por dependerem de reações ligadas à IgE). A sensibilidade à proteína do leite de vaca é a causa mais frequente dessa síndrome em crianças menores de 3 anos.
Quadros respiratórios decorrentes de alergias alimentares são incomuns como sintomas isolados e, frequentemente, vêm acompanhados por manifestações em outros locais do corpo.
Determinar se existe alergia alimentar não é tarefa simples. O diagnóstico precipitado pode submeter a criança a dietas altamente restritivas e nutricionalmente prejudiciais, além de provocar uma mudança dos hábitos alimentares de toda a família e ser fonte de estresse e distúrbios alimentares futuros. Através de uma história clínica detalhada, o profissional buscará estabelecer uma relação de causa e efeito entre as manifestações clínicas apresentadas pela criança e o alimento suspeito. Existindo forte associação, testes cutâneos, RAST ou testes de provocação (com retirada e posterior reintrodução do alimento) podem ser utilizados na tentativa de estabelecer o diagnóstico definitivo.
A eliminação das substâncias responsáveis pelas reações de hipersensibilidade são os únicos tratamentos válidos para a alergias aos alimentos. Quanto à prevenção desse tipo de alergia, infelizmente, não há um consenso entre os especialistas, porém, a maioria recomenda adiar a introdução de alimentos com maior potencial alergênico, principalmente se há história de atopia na família:
- Leite de vaca até 1 ano de idade;
- Ovo até 18 a 24 meses;
- Amendoim, nozes e frutos do mar até 3 anos.
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