A mudança que vem de dentro – Por Isabel Rodrigues

Arquivo Pessoal: Isabel Rodrigues

Boa tarde, padecitas lindas!

Uma anônima mandou um post demonstrando sua insatisfação consigo mesma, ao ver-se “menos bonita” diante de outras mães, no primeiro dia de aula. Sentiu-se um “mulambo” e quis saber se há como mudar. Há. Com certeza! Estou escrevendo porque, não só uma, mas várias outras quiseram saber como aconteceu a mudança em minha vida.

Primeiro, vou resumir os últimos anos. Sou casada há 9 anos, e a minha filha mais velha tinha 1a4m quando o meu filho nasceu. Sou advogada, tinha um emprego que amava (amava muito) e sofri forte assédio após a licença maternidade da primeira filha. No entanto, ao descobrir a segunda gestação, meu chefe não me poderia demitir e transformou minha vida num inferno. Tive uma gravidez complicada, meu filho teve uma má-formação e acabei sendo afastada do trabalho por depressão. No pós-parto, então….Eu era a depressão andando por aí. E como problema nunca anda sozinho, perdi meu pai, o que me doeu profundamente.

Engordei muito. Muito mesmo. 30kg, que, somados aos quilinhos restantes da primeira gestação, me levaram aos 98kg!!!! E, pra completar, meu marido tomou posse num concurso público e teve que mudar-se para o interior. Fiquei, também, sozinha. Literalmente, eu e dois bebês. Até a empregada chorava, às vezes, na hora de ir embora e me deixar naquela situação.

Não consegui minha recolocação no mercado, e acabei sendo “apenas dona de casa”, afinal, com dois pequeninos… E digo “apenas” porque sei o quanto é dificil esta função, o quanto se trabalha e não há qualquer valorização. Não há. A vida da mulher fica restrita a fralda, Galinha Pintadinha, assuntos de mãe. Só. Os outros papéis (mulher, profissional, esposa, etc) são todos postos em segundo plano, para atender primeiramente a eles. Assim foi comigo e creio que seja com quase todas. Nos anulamos para servir à família. E é aí que mora o perigo.

Pois bem. Em dezembro de 2013, a estagiária do meu marido se formou. Postou no Face uma foto dela, agradecendo a todos que colaboraram, blá blá blá e a ele, pelos ensinamentos e apoio. Tudo muito normal. Mesmo. Deixo claro: não houve traição, não tenho dúvidas quanto a isso e não foi esse o motivo do agradecimento.  A questão é: ele respondeu ao agradecimento dela, tecendo elogios ao comprometimento, garra, dedicação, empenho, que o mundo jurídico ganhara uma profissional brilhante.

Ele NUNCA, nunca mesmo, havia me elogiado. Nem uma vez. Ei! Eu ganhei medalha de ouro na minha colação de grau, passei na OAB com nota máxima. Era Gerente Juridico antes de engravidar. Mas eu, naquele momento, era “só” alguém que conhecia Galinha Pintadinha, fralda, leite e produtos de limpeza. Não havia da minha parte, nenhum cuidado com meu visual. Afinal de contas: ficar bonita pra fazer faxina? Pra quê? Fazer unha hoje, pra lavar banheiro amanhã? Pra quê?

Brigamos. “Vc deixou de ser minha esposa e é só a mãe dos meus filhos. A gente não tem nem assunto mais”. A resposta dele foi o estalo que me faltava. Aqueles eram os valores que importavam, e que ele admirava. E eu não tinha nenhum destes. Decisão tomada, e como diria Rita Lee: “um belo dia eu resolvi mudar, e fazer tudo que eu queria fazer”. Mudar era urgente! Como eu queria ser daqui a 5 anos?

Segmentei meus problemas, numa lista:

  1. Disposição sexual: zero. (teve post sobre isso aqui, hein!);
  2. Visual: mulambo (anônima, eu era confundível com os panos de limpeza);
  3. Profissão: cadê meu amor por ela?
  4. Autoestima: retirar do fundo do poço.
  5. Amizades: onde estavam?
    Tudo urgente.

Parti para a socialização e, neste ponto específico, devo muito ao Padecendo. Muito. Aqui eu encontrava mulheres iguais a mim, com as mesmas angústias, mesmas dúvidas. Tudo igual. Vc acha que é melhor que alguém: tá enganada. Aqui somos todas mães, umas com mais ou menos condições financeiras, com filhos sãos e filhos doentes, com ou sem ajudante em casa. Com maridos e sogras bacanas, ou não (!!!) Tudo igual. Porque, bem no fundo, a maternidade é um estado de espírito, não simplesmente de ter parido um bebê. Temos em comum o espírito da maternidade.

Eu, que não conhecia ninguém, fui a um encontro “Efervecesndo no Paraíso”. Lá, lembro-me bem, a Geralda disse: libido tem que estimular na sua mente, vc tem que pensar, ler, ouvir, para que seu corpo queira. OK. Li aqui, nem sei quem deu a dica, sobre o floral Hibiscus: OK. Use lingeries, promova noites romanticas sem filhos, faça isso, faça aquilo. Fiz tudo. Hoje, quem me conhece de perto sabe, sou a própria depravação kkkkkk

Parece piada, mas não é. Leve a sério sua sexualidade e que você quer. COLOQUE-SE EM PRIMEIRO LUGAR NA SUA VIDA, inclusive sexual. NÃO HÁ COMO MUDAR SUA VIDA SE VOCÊ NÃO FOR A SUA PRIORIDADE. Até mesmo os filhos, tem que estar depois de vc nesta ordem de coisas, porque se a mãe não está feliz, o filho sentirá. O filho saberá. É em benefício deles que eu cuidei de me alegrar com a minha vida.

Emagreci. Aos poucos, sem loucuras, sem angustiar-me numa dieta perigosa. Fui aos poucos, com determinação. Passei a me alimentar melhor, dentro do horário, com mais qualidade. Deixei de comer os restinhos dos filhos, o que toda mãe faz, não é?. Mas sem neurose. Queria comer big mac, comia. Depois ficava sem o arroz por uns dias. Costumava por duas colheres de arroz, diminuí para uma. Reeduquei meus hábitos, porque sem isso, nunca haverá resultado. É o hábito que faz a dieta, não o contrário.

E aí, perdi minhas “roupas de gente gorda” (não vou mudar a expressão para amenizar o ego de nenhuma de vcs). Tive que comprar roupas novas. Oportunidade de mudar o visual. Deixei o cabelo crescer, fiz um corte bonito, que eu nem era acostumada. Arrisquei e gostei. Parei de roer unhas (a ansiedade é um problema sério) , mudei a cor do cabelo.

Retomei minha profissão, montando meu próprio escritório com minha amiga linda, parceira de longa data.  E, como eu, mãe de duas crianças, com dificuldade de horário, disso e daquilo.

Sobre a vida profissional, uma observação importante: respeito muito quem OPTA por ficar em casa. Mas se essa não foi SUA opção, mas sim uma imposição de vários fatores, saia dessa já! Retome sua atividade. Seja  no comércio, seja profissional liberal, seja puta, seja o que for: desde que seja aquilo que TE realiza. Faça uma reflexão honesta com vc mesma e perceba se vc realmente quis, ou se a vida está te obrigando a isso. Se houver um quê de obrigação, cuide para não haver frustração depois. E lembre-se: independencia financeira é o que limita o seu cabresto.

Retomei antigas amizades, que foram sendo deixadas pra trás. E fiz novas amizades. Muitas! Com pessoas de todas as regiões, de todas as classes sociais, da mesma profissão, de outras áreas. Gente diferente de mim, mas com tanta história comum. De novo, aplausos ao Padecendo, onde conheci lindas amigas, que hoje moram no meu coração!!! Bebel Soares, muito obrigada por colocar seu projeto em execução. Muita luz em sua vida e em todas que te ajudam na realização disto tudo.

O resultado de tanta história: eu me refiz. Como uma fênix. Deixei de ser tão criteriosa quando me julgo, e passei a agir com mais generosidade em relação a mim mesma. Ao me colocar como prioridade, eu vi que posso conquistar tudo que eu quiser, porque eu tenho este poder. Eu conquistei o amor de minha vida: o amor-próprio, massacrado por inúmeras cobranças e regras que me foram sendo impostas. E hoje, não aceito que me tentem diminuir. Se vai dar certo ou errado, sou eu quem vai sofrer as consequências, então sou eu quem deve decidir.

Defeitos, tenho aos montes. Tenho celulites, mas nem por isso, deixo de mandar nudes pra seduzir. Tenho cansaço monstro pela rotina de trabalho e casa (sim, ainda é minha tarefa), tenho. Mas me chama pra tomar uma cervejinha? Lá vou eu! Porque a pia de louças pra lavar pertence a todos da casa e a minha vida, pertence só a mim.

Meu pai morreu de repente, nem conseguimos rezar um pai-nosso inteiro. E se eu morrer de repente, também? Entre o “nascer” e o “morrer”, está o “viver” e é somente sobre ele que podemos agir. E então, eu agi. Eu quis ser uma esposa melhor, eu quis ser uma mãe melhor, eu quis ser diferente daquilo tudo em que eu havia me transformado. E acabei encontrando em mim tanta força, tanta alegria de viver, que hoje, não há retorno. Muitos se aborreceram com isso, porque perderam a subserviente que lhes atendia a tempo e modo. Faz parte. Nem Nutella é unanimidade, não serei eu a agradar a todos.

Anônima e todas as outras que me perguntaram como fazer: não sei. Faça do jeito que você souber e conseguir. Errou, tente de novo. Tenha ousadia. Até acertar. Não se permita diminuir para agradar ao outro. Vc não é tapete, é uma pessoa.

Olhe no espelho: o que você tem de bonito? O sorriso? Ótimo! Batom nele! Ah..meu cabelo é feio… mude. Foco no que é bonito, dentro e fora de você. Sou divertida, engraçada, brincalhona. Tenho celulite, tenho pouco peito, minha  barriga é flácida, mas sabe, quando vejo o todo, há equilibrio. O que eu posso mudar, mudei. O que eu não posso, eu administro. Convivo com meus defeitos. Policio meus maus hábitos e busco corrigi-los.

Olhe pra você no espelho: teste novos penteados, novas maquiagens. Novas amizades, novos desejos, novos projetos. Como vc quer estar daqui a 5 anos? Hoje sou a DIVA que sempre quis ser: sou linda, inteligente, independente (penso por mim, falo por mim, trepo por mim). Sim, “estou me achando”. Eu estava mesmo à minha procura.

Comentários:

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  1. Obrigada por compartilhar a sua história e servir de inspiração para nos mulheres que estamos passando por esse momento! Estou com uma filhinha de 26/dias, estou muito cansada pois além de não conseguir me afastar completamente do meu serviço, agora tenho que me desdobrar com a fazeres de casa e cuidar de bebê!!
    Mas vou achar um tempo pra mim!

  2. Nossa Isabel! Me fez reacender, ter vontade de agir e parar de lamentar. Tabalhamos juntas antes de 2013. Sei o qto td foi tenso, profissionalmente, pra vc e ve-la resurgir assim,.depois de tudo que passou, me fez admira-la ainda mais.

  3. Conheci essa lindeza de pessoa através de um grupo q tbem é fruto do padecendo. E como é linda e como é forte essa mulher. Ela é daquelas que a gente quer colocar no colo e levar pra casa. Bel, Belzinha te admiro demais vc é nota mil.

  4. Simplesmente sensacional! Parabéns! Um dia, ahhh um dia ainda vou escrever esse retomar as rédeas da mnha VIDA. Amei seu texto, suas palavras e sua determinação!

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