A mãe que não protege – Por Padecente Anônima

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Quando eu tinha 15 anos meus pais eram divorciados e eu passei a dormir mais dias na casa do meu pai porque ficava perto da escola e das baladas. Meu pai sempre foi da farra e ao mesmo tempo uma pessoa super querida por todos em ambos os lados da família. Seu problema sempre foi a bebida juntamente com a infidelidade.

Eu continuei na casa dele a mania de dormir na cama dos meus pais e uma certa noite ele chegou e ficou alisando minhas pernas por muito tempo, fiquei gelada sem conseguir me mexer porque senti algo estranho. Eu, apesar de 15 anos, só havia beijado e acariciado um garoto na vida, era totalmente inexperiente e com a auto estima oscilante. Depois de algum tempo consegui perguntar “O que foi?” e ele disse, “Nada” e foi dormir. Notei que ele estava bêbado. Contei pra minha irmã pois minha mãe estava empolgada e sempre fora com seu novo namorado. Minha irmã falou pro meu irmão que ferozmente confrontou meu pai em plena festa de família.

Meu pai disse que isso não aconteceu e eles mandaram minha irmã me perguntar. Eu morri de medo de todos não se falarem mais, o divórcio pra mim já foi um trauma, eu sempre achava que tinha sido minha culpa, como toda criança acha. Então eu disse a minha irmã que não tinha sido nada demais que eu sabia que era por causa da bebida, e daí não sei o que ela disse, mas meu irmão se acalmou. Depois disso eu comecei a ter RAIVA da minha mãe, muita, e minha auto estima também caiu demais.

EU bebia muito e virava outra pessoa, fazia coisas que sempre atribuía a bebida e era uma forma de “entender” que foi isso que aconteceu com meu pai. Você bebe e faz coisas que não lembra ou “passa uma impressão” errada, foi essa a mensagem que eu aprendi. Aos 18 eu estava no auge da revolta e mais uma vez quando dormi na cama dele acordei com ele se esfregando em mim. Ele estava dormindo, pude ver, mas eu petrifiquei. Gente nunca achei que fui “abusada” por meu pai, não consigo dizer isso. Fui a uma psicóloga pra tirar tudo do peito, mas ela fez o erro de comentar que conhecia meu pai. Deixei ela no outro dia.

Essas duas situações mexeram demais com minha vida em todos os sentidos, mil coisas passam na cabeça de uma adolescente: achar que era minha culpa, pela minha forma de vestir, ou por não ter namorado, várias noias que poderiam ter sido resolvidas e não estariam me perseguindo até hoje SE minha mãe tivesse conversado abertamente. Culpo ela mais do que ele até hoje pois anos depois ela me perguntou o por quê de tanta revolta na minha vida e eu disse “Você NUNCA deveria ter me deixado morar com meu pai com a vida desregrada que ele tinha.” Enchi meus olhos de lágrimas e ainda disse que ela não sabia de nada que passava na minha cabeça e na minha vida. Ela só me disse que IMAGINAVA. Pronto, só isso.

Mês passado, conversando com uma amiga assistente social, ela comentou como a maioria das crianças abusadas têm raiva da mãe, pois a MÃE é a imagem PROTETORA.

Acredito que meu pai me ama, que é uma pessoa boa, já fez muita coisa por mim e pela minha família que demonstra isso. Não quero ser injusta na vida, esse sentimento me dói, mas essas duas merdas aconteceram e me fizeram entrar nesse conflito. Como MÃE, eu jamais deixarei meus filhos dormirem com ninguém, exceto comigo. Essa é a marca que ficou, não confio em ninguém.

Como MÃE, jamais serei OMISSA também. Jamais IMAGINAREI o que aconteceu, o diálogo será aberto sempre e qualquer situação esclarecida LOGO pois acredito que perdi muito tempo na vida pensando nisso e me colocando pra baixo.

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