Já era mãe de dois meninos, João Ivo e Murilo, quando engravidamos mais uma vez. Nunca achei que teria uma menina. Mas Deus nos presenteou com uma princesa que passou por muita coisa, incluindo uma bolha no pulmão.
Minha gravidez corria muito bem como as duas outras, completaria seu tempo por volta de 15 de abril. Porém, na madrugada de 04 de janeiro de 2011, com 26 semanas de gestação, tive uma ruptura de bolsa. Como moramos no interior, e fazia o pré-natal em Juiz de Fora, fomos para o hospital, e deixamos nossos dois pequenos, com 4 anos e 1 ano e meio, em casa, com minha sogra.
Nascida para vencer
Ana Paula Campolina
Por sorte não entrei em trabalho de parto. Fiz um ultrassom que mostrou que ainda tinha líquido amniótico. Tomei a primeira injeção para fortalecer o pulmão do bebê e prepara-la para o parto. À noite tomei outra dose, e, na manhã seguinte, mais uma. Durante o dia, um pediatra amigo da família que faria a sala de parto, estava muito receoso e nos preparou para a possível perda do bebê. Conversou muito conosco, disse que seria tudo diferente dos outros dois partos, que o clima da sala de parto seria tenso, que não eu poderia vê-la, teriam que entubá-la imediatamente e puncionar a artéria umbilical para passar os medicamentos. À noite o parto foi feito, meu marido esteve comigo o tempo todo, e nossos meninos na nossa cidade! Helena nasceu, com 875 gramas, consegui escutar um barulhinho que ela fez ao nascer, vi seu rostinho de perfil enquanto era entubada!
Passada a anestesia, fui para o quarto, sabia que a enfermeira não ia trazer nosso bebezinho para mamar. A madrugada foi longa, eu e meu marido aguardando ansiosos pela primeira visita na UTI. Na manhã seguinte lá estava eu na UTI. A primeira sensação que tive foi uma mistura de amor, pena, vontade de pegá-la no colo, de sair correndo dali. Nossa princesa era muito diferente do bebezinho dos nossos sonhos: seu corpinho eram ossinhos, órgãos e uma pele, quase transparente, vermelha, enrugada e muito fina. Sua cabecinha e seu tronco quase todo cobertos por aparelhos. Tão pequena, tão magrinha! Era a nossa princesa!
Começou a batalha
Infectada no primeiro dia, perdeu mais peso. Chegou a pesar 735 gramas. Ficou entubada por 15 dias tomando apenas nutrição venosa. Quando começou a tomar leite materno pela sonda, 1 ml de 8 em 8 horas, foi uma felicidade! Eu ordenhando quase meio litro de leite, e ela tomando 3 mililitros por dia! Quando aumentaram o leite, já estava tomando doses a cada 3 horas, nos informaram que ela estava com outra infecção. Uma Enterocolite. Não evacuava, a barriga estava muito inchada.
Radiografaram e viram as fezes paradas. Suspenderam meu leite e começaram a dar uma fórmula, procederam vários cuidados. Ela estacionou o peso de um quilo por uns 20 dias, enquanto tratava a infecção. Os grandes sustos – infecções, transfusões, idas e vindas para o oxigênio, apneias – eram mesclados com grandes sucessos: todos os resultados das ultrassonografias transfontanela (da cabecinha) demonstravam integridade cerebral, nenhuma micro hemorragia aconteceu!
Os filhos
Era difícil conciliar meus filhos em outra cidade> Três vezes por semana ia dormir com eles, após a visita da noite. Retornava antes da visita das 10 da manhã. Por sorte a viagem é curta, e com 15 dias, eu já estava dirigindo! Não podia perder as visitas, nem deixar de ordenhar o leite que sabia que teria muito, pois tinha amamentado meus dois filhos! Mesmo a Helena não mamando, os médicos me deram a esperança da intolerância dela ser transitória, por causa da prematuridade.
Com uns dois meses de internação, tudo correndo mais tranquilamente, o chefe da UTI nos chama para falar que, nas imagens das radiografias da Enterocolite, era detectada sempre uma bolha no pulmão esquerdo da Helena, e que a tendência era ela ser reabsorvida com o crescimento dela.
Colo de mãe
No dia 12 de março pegamos nossa pequena no colo pela primeira vez. Sua pela já era macia e rosinha, a penugem nas suas costas sumido, as bochechinhas estavam começando a ter gordurinhas. Foi muito emocionante! Quando completou 1,8 quilos os médicos pediram para que eu tentasse amamentar. Veríamos como ela reagiria. Amamentava de 3 em 3 horas. Das 6:00 da manhã às 21:00 e pela madrugada, ela tomava leite materno no copinho. Meu leite tinha diminuído muito, mas não tinha secado, e com a sucção dela, voltou com força total!
Alta da UTI
Ela não teve problemas gástricos e consegui, então, amamenta-la! Dia 31/03 ela teve alta da UTI, com 1,990 quilos, 86 dias de internação! Dormimos uma noite, eu e meu marido, com ela no hospital! Era muita felicidade! Olhávamos para ela o tempo todo, fotografávamos, uma festa em família! No dia seguinte fomos para a casa com nossa pequena nascida para vencer!
A emoção de sair com ela do hospital, posso sentir até hoje! Imaginar que, com quase três meses de vida, era a primeira vez que ela sentia o ventinho nas bochechas, a primeira vez que via o céu ensolarado, que não ouviria mais o barulho dos aparelhos, e que poderia dormir com as luzes apagadas! E melhor: a primeira vez que veria seus irmãos e sentiria o carinho deles! Estaríamos todos juntos, pela primeira vez!
Chegamos em casa! O irmão mais velho muito atencioso, cheio de perguntas, querendo saber de tudo, ajudar com a irmãzinha, e o menor, muito novinho, no primeiro choro da irmã, perguntou se ela ia voltar para o hospital! Estavam inseguros e foram meses para que se restabelecesse por completo o relacionamento dos meus filhos comigo..
As alegrias eram cada dia maiores: colinho dos irmãos, bons resultados nas consultas, fisioterapia para engatinhar!
Bolha no pulmão
Em agosto fomos fazer uma tomografia para ver como estava aquela bolha no pulmão. A bolha comprimia todo o pulmão esquerdo, o coração estava deslocado para o lado direito, esôfago e traqueia desviados, vários pontos escuros no pulmão direito. Fomos para Belo Horizonte. Nos consultamos com três equipes de Cirurgia Pediátrica. A cirurgia era certa! Não tinha outra alternativa!
O diagnóstico provável para aquela bolha no pulmão era Malformação Adenomatóide Cística. Deixamos a cirurgia marcada para a outra semana. Nesse intervalo, tivemos indicação de um médico em Porto Alegre, que era especializado em Cirurgia Pediátrica Pulmonar. Com insistência, conseguimos consulta para o dia seguinte e fomos na madrugada para Porto Alegre.
Tivemos muita segurança no médico que aventou uma hipótese diagnóstica diferente para a bolha no pulmão, Enfisema Lobar Congênito. Doença que se cura com a cirurgia. Na segunda-feira seguinte ela foi operada, e a cirurgia foi um sucesso! Foi removido o lobo superior do pulmão esquerdo, ela ficou três dias na UTI, mais uma semana internada.
Fazia fisioterapia pulmonar, o que permitiu que ela saísse do hospital com seu pulmão em pleno funcionamento. Durante esta semana pós-operatória, já tivemos que aumentar o volume da mamadeira que ela chegou tomando. Saímos do hospital direto para o aeroporto, e viemos para casa muito felizes! nascida para vencer! Ela estava curada!
Nascida para vencer
Hoje, com cinco anos, nossa princesa traz muita alegria a nossa casa! Que nossa vitória sirva de alento para quem vive momentos difíceis com seus filhos! Momentos difíceis trouxeram fortalecimento para nossa família, foram muitos, muitos mesmo. Aprendemos a comemorar cada vitória com ela e com seus irmãos.
Nosso fortalecimento maior foi nossa fé! E passamos para eles, diariamente, em nossas orações. Nada acontece por acaso! Mostramos para eles que Deus está conosco a cada dia, e que passamos o que temos para passar, não devemos ficar lamentando. Devemos tomar atitudes de luta e esperança.
Temos certeza que a força da oração de toda a família, e da nossa cidade, que se mobilizou, nos sustentou nos momentos que fraquejávamos, e precisávamos de conforto.
Deus abençoe cada família!
Ana Paula Campolina
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