Quando falamos em família, é urgente que falemos no coletivo e não utilizemos engessamentos. É urgente que pensemos em pessoas que convivem juntas, ainda que separadas, necessitando umas das outras de modo intenso. Família é um coletivo. Qualquer noção de individualismo põe essa instituição em séria crise de identidade e tem consequências nocivas para os seus membros.
Família
Tudo no mundo irá bem se uma família estiver bem. O inverso é de mesmo modo verdade: pessoas infelizes dentro de casa são infelizes fora de casa. É no lar onde forjamos nossas bases identitárias, ainda que depois, façamos ajustes, começamos a ser humanos ligados aos que engendram conosco o nosso cotidiano de maneira mais próxima. Viver em família é constituir-se.
Crianças e adolescentes clamam, todos os dias, cada um ao seu modo, para que as famílias evitem mentiras. É muito triste quando os filhos se dão conta de que os pais não são sinceros. Quando traições existem nas relações familiares, as crianças e os adolescentes sofrem para além do possível. O uso de máscaras é terrível num ambiente familial. Se tem mentira, tem guerra, confusão e conflito, é regra.
Traições dentro de casa são como uma bomba dentro dos estômagos das crianças e dos adolescentes, cedo ou tarde, estouram e provocam erosões de difícil conserto. Pessoas que traem fazem muito mal às suas famílias, pois plantam dentro de seus lares a fragilidade e a perversidade, a desconfiança e a desesperança, a maldade e os vícios. A traição é um perigo sempre, porém é demasiadamente nociva, quando num lar.
É muito importante para a saúde de uma família a existência do diálogo sincero. Os silêncios excessivos e os refúgios nas redes sócias são sintomas de que as coisas não estão indo bem. Os adultos, quando não se deixam tomar pela desatenção e pela preguiça, percebem que as conversas com as crianças e com os adolescentes surtem efeito consistente na orientação educativa.
Famílias loucas geram sociedades loucas. A sentença também serve para o adjetivo “bárbara”. Se queremos sociedades melhores, tenhamos famílias melhores. Melhores aqui é sinônimo de “amorosas”, de “companheiras”, de “acolhedoras”, de “dialógicas”, de “reflexivas”, de “compassivas”. As melhores famílias são aquelas nas quais as crianças e os adolescentes, os adultos e os idosos fazem felizes uns aos outros. Família preconceituosas são uma chaga.
Estamos numa época em que muitos desavisados querem dizer que existe uma família tradicional e que esta família deve ser o padrão para as demais. Esses desavisados se outorgam o direito de falar em nome das sociedades e pregam valores e costumes, normas e regras, modelos e condições, formas e fórmulas, maneiras e procedimentos, porém, de modo geral, não falam em amor. É um grave erro.
Entendemos que a saída para a família e sua crise contemporânea passa pelos bons sentimentos, enganamo-nos quando acreditamos que é uma problemática de normatização, visto que não são estatutos abstratos os quais evitarão o colapso desse dado grupo social, entretanto a emergência das afetividades. Quando pensamos em família, sejamos crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, o que mais queremos é a certeza de que teremos colo para o choro inevitável das experiências da vida.
Quem tem uma boa família tem um canto no mundo e quem tem um canto no mundo, tem sorte de si e sorte dos outros. Somos felizes.
Hugo esteve conosco em Belo Horizonte no dia 23 de maio participando do NÓS onde fez o lançamento do seu livro Os Anjos Estão de Volta.