MiEstava assistindo agora a pouco o Globo Esporte e a matéria era falando sobre a vitória do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro e as expectativas dos times para a final da Copa do Brasil nesta próxima quarta. Aí, em uma estratégia de chamar atenção do telespectador, a repórter diz algo mais ou menos assim: os torcedores dos outros times estão com inveja branca dos cruzeirenses pelo Tetra campeonato conquistado – e explica -Inveja branca, aquela inveja boa, aquela sem maldade, sabe? São as expressões banais e o veneno que destilam.
Expressões banais e o veneno que destilam
De uns tempos pra cá tenho me tocado sobre algumas dessas expressões que a primeira vista parecem tão inocentes mas que no fundo carregam um carga histórica fortíssima de racismo.
São expressões utilizadas de forma tão banal, muitos usam até por repetição sem muito pensar sobre a mensagem que destilam como um veneno no ambiente quando as pronunciam.
Inveja Branca
Não existe inveja boa. Inveja é inveja. E mesmo se houvesse, é péssimo chamar de branca ou de preta.
Que associação mais tosca é essa?
É inaceitável ainda nos dias de hoje uma raça ser associada a coisas negativas, a coisas ruins, como sempre aconteceu e ainda acontece.
Alguns dirão: Ah! Mas eu não falo por mal! Não é nada disso. Que exagero…
Entendo que somos responsáveis pelo que falamos e precisamos estar atentos, sim, a isso. Errar acontece. Todos estamos nessa vida para aprendermos. Reconhecer que erramos, que há formas mais apropriadas para nos referirmos é um primeiro passo para quebramos esses paradigmas equivocados que temos e muitas vezes nem percebemos de tão automatizados que estão os nossos pensamentos e nossas ações. E quando percebemos, por uma razão ou outra, fugimos do assunto e preferimos não pensar nisso. Deixa como está.
Por outro lado, frequentemente, vemos e participamos de associações da cor branca a coisas positivas, corretas, sérias e limpas.
Outros dirão: Nossa, mas não tem maldade nenhuma nisso! Olhe o dicionário! Essa palavra quer dizer isso sim!
Claro que sim. Afinal, são séculos de cultivo a valores racistas e no mínimo desinteressados ou desatentos em respeitar e em tratar todos com inclusão. Séculos se passaram mas a cultura continua sendo alimentada, reforçada por nós no nosso dia a dia. A mídia faz isso? Faz. São pessoas fazendo notícia. Isso explica ainda que não justifique.
Sabe como eu percebi o quanto de racismo existe ainda em mim?
Resolvi me fazer algumas perguntas simples e me assustei com as minhas respostas. Se você quiser se perguntar também… Não precisa responder pra ninguém além de você mesmo.
Quando alguém fala cabelo “ruim”, o que vem a minha cabeça?
Se a resposta for a imagem de um cabelo crespo, está aí a associação racista.
Cabelo bom é o cabelo bem cuidado. Cabelo ruim é o cabelo mal tratado.
Não importa se é anelado, liso, crespo.
A situação está preta…
Quando ouve isso, você entende que a situação está fácil ou difícil?
Aí está de novo a cultura do racismo entranhada na nossa mente e nos nossos valores.
Só mais uma, essa ouvi na mídia e li demais nas redes sociais no último domingo, inclusive escrita por pessoas que gosto muito, amo e sei que não tem noção do que fazem ao falar assim.
Segunda-feira é dia de branco.
Como assim?
Segunda-feira é dia de todo trabalhador, não importa a etnia.
E está aí mais um discurso que reforça a cultura racista na qual estamos tão inseridos.
Se você está aberto à uma reflexão, leia também:
http://nerdpai.com/a-coisa-esta-preta-e-uma-expressao-racista/#.V5i0zCNv_qB
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