Acordo, tomo meu banho, vou me arrumando e deixando meu filho dormir mais um pouquinho com pena dele perder o soninho gostoso daqueles últimos minutinhos que ele tem pra dormir. Ele acorda, enrola. Deitado na cama. Preguiça… Agora levanta, filho, já são oito horas, hoje tem judô. Pronto, pra quê falei no judô?
_Filho, levanta, seu pai já saiu pra trabalhar, toma um banho e vamos tomar café pra não nos atrasarmos.
_ Ah, neeeeeeem mããããããe!
_Felipe, entra no banho.
_Felipe, entra no banho.
_Felipe, entra no banho.
_Felipe, entra no banho.
_Felipe, entra no banho.
_Felipe, banho não é pra brincar, passa sabão, chega aqui pra eu lavar seu cabelo. Enxágua o cabelo! Vamos sair. _ Ah, neeeeeeem mããããããe! A água tá quentinha.
_ Eu sei, mas você demorou pra vir tomar banho, agora tem que sair.
_Felipe, vamos sair do banho.
_Felipe, vamos sair do banho.
_Felipe, vamos sair do banho.
_Felipe, vamos sair do banho.
_ Mãe, você não sabe esperar!
Sim, esse deve ser o problema, eu não sei esperar. Sou a pior mão do mundo! Então ele sai do banho, veste o uniforme e vamos pra cozinha. Tomo meu café enquanto ele monta carrinhos de lego entre um pão de queijo e outro. E finge que está tomando o leite. Felipe, vou acabar de me arrumar, acabe de tomar esse leite e venha escovar os dentes.
Pior mãe do mundo
Acabo de me arrumar, arrumo a mochila dele, troco mensagens sobre a festa junina, sobre o informativo do padecendo, resolvo outros assuntos de trabalho e volto à cozinha uns 20 minutos depois. Leite ainda pela metade. Mas eu sou a pior mãe do mundo.
_Minha barriga tá cheia, mainhê!
Quem foi que inventou essa porcaria desse mainhê?! A gente fica doida pro neném começar a falar mamãe, acha a coisa mais linda do mundo quando ele fala, depois vira Oh mãe, beleza, a gente dá conta, mas o tal do MAINHÊÊÊ, é foda! Fala sério? Se você ainda não virou mainhê, levante as mãos para o céu, agradeça e implore para que esse momento seja adiado! Mainhê significa que você se tornou a pior mãe do mundo!
Enquanto ele enrola pra tomar o leite vou calçando as meias e o tênis que nunca está apertado o suficiente.
_Mãe, você não se concentra para amarrar o meu tênis, você tem que ficar em silêncio enquanto amarra senão você não aperta direito…
_Felipe, bebe esse leite e vai escovar os dentes porque já são quase 9 horas e o portão da escola vai fechar.
_Mãe, você não sabe esperar!
_Felipe, eu não sei esperar quando tenho compromissos, quando você tem hora pra chegar na escola e não perder o judô. Vai lá escovar os dentes.
_Daqui a pouco eu vou.
_Felipe, vai!
Mãe não pode gritar, não, grito traumatiza a criança, mas já saí do sério e já estou berrando:
_Escova logo esses dentes que nós precisamos sair!
E ele miando baixinho:
_Mãe, o tênis não está apertado!
_Vai escovar os dentes!
Dia da marmota
Não, eu não aguento mais esse dia da Marmota eu não sei mais lidar com isso! Ligo pro meu marido e aviso, não vou mais levar o Felipe pra escola de manhã, ele vai acordar mais cedo e vai com você!
E mãe é chata, eu fico pensando! Mãe é chata, a gente repete a mesma frase duzentas vezes e ninguém escuta. Não adianta eu ficar falando, repetindo, pedindo, implorando, ninguém me escuta! Eu sou um nada!
Pronto, perdi o controle, já estou chorando e assim vamos para a escola, uma mãe louca pela rua com a maquiagem borrada e óculos escuros enormes pra esconder as lágrimas. O portão da escola já está fechado, os meninos já foram para o judô e ele vai perder a aula. Aviso que não vou busca-lo na hora do almoço como faço todos os dias, ele vai ficar lá como todas as crianças do integral.
Eu tenho certeza que estou fazendo tudo errado, eu não consigo mudar esse padrão, é todo dia assim, toda manhã eu enlouqueço, mais em alguns dias do que em outros.
Quero minha vida de volta!
Eu sei que existem problemas muitos mais sérios que esse, que isso é estúpido. Mas hoje, agora, eu queria muito a minha vida de volta. Eu queria muito ter o controle, fazer as minhas coisas, do meu jeito, ter o meu tempo, fazer a minha hora.
Na teoria é muito fácil ser uma ótima mãe, na prática a gente se sente sempre a pior mãe do mundo! A gente nunca sabe o que fazer, a gente perde o controle e deixa a criança ganhar, porque eles sabem exatamente o que nos tira do sério e eles fazem isso o tempo todo. Não tem teste mais difícil na minha vida. Hoje esse é o maior problema do mundo, porque é o meu problema e eu não sei como resolver na prática. Não me fale em teorias!
Me disseram que o Terrible Two acontece por volta dos dois anos! Ele começa por ali mesmo! Mas ele não termina, acho que ele vai emendar logo na aborrecência, e depois reclamam que as mães são distraídas, que tem a memória fraca, que não sabe de nada…
Não vejo a hora do meu despertador tocar e ser um outro dia! Na verdade às vezes isso acontece, ai tenho aquela esperança de que as coisas estão melhorando, então vem um outro dia e o despertador volta a tocar aquela velha música de filme de terror.
Ai Chico Buarque, aquele cotidiano de “todo dia ela faz tudo sempre igual” virou meu sonho de consumo, mas vai passar!Cada dia uma novidade, leia a sequência: ZENITUDE
Arquiteta mineira morando em São Paulo desde 2017. Fundadora da Padecendo no Paraíso, organizadora do livro “Manual da Boa Mãe”, dona de casa, agitadora social, feminista,paciente oncológica (câncer de mama). Antiga aluna do Colégio Loyola.
Casada e mãe de um menino, sempre gostou de se envolver com as questões do universo feminino. Tem grande preocupação com o coletivo e acredita que é necessário unir forças para melhorar o mundo.
Parto Adoção – Pela padecente Renata Metzker e seu marido Daniel
Depoimento de um casal sobre outra via de parto, o Parto Adoção.
Renata
Há 12 anos casei-me, morava na cidade de Campinas-SP, que fica a 1000 km da minha cidade natal, Governador Valadares-MG. Com 1 ano e meio de casados resolvemos largar tudo em Campinas e voltar para Minas Gerais, pois o nosso maior sonho era ter filhos, e gostaríamos que estes tivessem uma qualidade de vida melhor, e na época, vivíamos uma intensa violência no interior de SP.
Desta forma iniciamos a nossa longa trajetória na tentativa de ter filhos. Foram tratamentos hormonais, fertilizações in vitro. Ficamos grávidos, ufa….. Primeiro ultrassom, gravidez de trigemelares. Um misto de emoções, alegria intensa proporcional a preocupação. E entrando no sexto mês, a grande surpresa, entrei em trabalho de parto. Nasceram o Pedro, o Gustavo e a Beatriz, com prematuridade extrema, e não sobreviveram. O mundo veio abaixo, foi uma punhalada pelas costas. Dias escuros, muito escuros…. perguntas sem respostas… vida sem rumo… enterrar 3 filhos não é fácil.
Mas vamos lá, me contaram que a vida continuava…. mas a minha não….. a dor passava, mas a minha não….. E com a ajuda da psiquiatria e da psicologia as coisas foram se acalmando. Mudamos de casa, fizemos viagens e resolvemos enfrentar nova fertilização. Que loucura, o que eu estava fazendo ali? Não estava preparada para viver todas aquelas assombrações de novo. E veio o resultado: negativo. Mais uma vez um misto de emoções, frustração do resultado negativo, e alegria em não ter que vivenciar todo aquele trauma novamente.
Junto com o resultado negativo veio uma certeza, não enfrentaremos novamente uma FIV. Então é assim, a vida não nos presenteou com filhos, mas nos ofereceu um amor e companheirismo muito bacana, vamos aproveitar, passear, viajar, curtir um ao outro.
No início tudo mágico, programar as viagens, viajar, rever as fotos era demais. Mas voltar a realidade era muito duro, pois tudo continuava exatamente no mesmo lugar.
E agora? Sempre pensamos em adoção…. mas quando a sua única alternativa é esta, as análises tem que ser diferentes (na nossa concepção, claro!). Este filho nunca poderá cumprir um buraco dos filhos falecidos, e nem do luto pela infertilidade, este é outro filho. Estamos preparados pra esta espera?
E uma bela noite, surgiu a adoção nas nossas conversas, e fluiu naturalmente, e estava tão claro pra gente o que realmente queríamos que logo em seguida enfrentamos todo o processo de habilitação e aprovação para a adoção. Pronto, agora estamos na fila!
E mais uma vez a espera é longa. Foram 6 meses para habilitação. E num belo dia, dois anos depois, 25/02/13, o telefone tocou no meio da tarde. Era a assistente social, falando que tinha uma criança no nosso perfil, se gostaríamos de conhecê-la. Mas é claro que sim!!!! Faltaram palavras, perguntas, argumentos…. pernas bambas, coração disparado, eu quero falar com o meu marido!! Pode deixar, eu mesma ligo!! E marcamos para o dia seguinte!
Conhecer a história do Bernardo, ou o Bernardo? Não, vamos conhecer primeiro a história, não queremos antes conhecê-lo para não nos apegarmos. No conselho Tutelar, ficamos sabendo da história, depois vamos ao abrigo, mas não vamos conhecê-lo, só amanhã. E não conseguimos não conhecê-lo.
Foi amor a primeira vista? ACHO que não…… eu estava tão doída, tão calejada com perdas que não me permitia ter um amor a primeira vista, pois ele ainda não era meu….. Acompanhamos todo o processo burocrático, e no dia 28/02/13, nasceu o Bernardo. Quando o peguei no colo para trazê-lo pra casa, despedi de cada uma das cuidadoras e chorei, chorei muito o nascimento dele. Era verdade, nosso filho tinha nascido, era inacreditável!! Nasceu com 5 meses e meio!
Como detalhe, nós não tínhamos uma peça de roupa ou enxoval no dia que nos ligaram, pois eu não me permitia elaborar novamente um enxoval, criar expectativas e ficar tão frustrada. Além do mais o nosso perfil era extenso, menino(a) de 0 a 1 ano! Mas as coisas fluíram, em dois dias o nosso Bernardo chegou sem faltar nada pra ele…. Nossos familiares, amigos e até conhecidos vibraram e o receberam com tanta intensidade, com tanto amor, que nos deixou profundamente sensibilizados.
E agora estamos aqui, com nosso Bê, de 1 ano e 1 mês, atropelando a casa, nossas vidas, e sendo a nossa razão de viver!
Daniel
Não sei se seria tolo dizer isso, mas sempre me imaginei, quando adulto, sendo pai. Parece-me que sempre foi meu destino natural. Porém, nem sempre, ou quase nunca, estamos com as rédeas do nosso destino firmes nas nossas mãos… Após quase dois anos de casamento, resolvemos que era hora de ter filhos, e providenciamos tudo que pudesse ser favorável ao crescimento da família, inclusive uma mudança de cidade, buscando um ambiente mais saudável e harmonioso…Tentativas e investigações, durante muito tempo, revelaram-se literalmente infrutíferas. A única coisa que crescia era nossa frustração.
Tentamos de tudo, inclusive a Fertilização in Vitro, quando minha esposa engravidou de trigêmeos. Evidentemente, entrou em trabalho de parto prematuro e a despeito de todas as medidas ao nosso alcance à época (inclusive uma transferência via UTI Aérea para Belo Horizonte), nossos bebês nasceram. Todos, com pouco mais de 400g. Apenas sobreviveram algumas horas. Minha árdua tarefa foi me dirigir ao cartório no dia seguinte para registrar meus filhos e ao mesmo tempo emitir suas certidões de óbito, para que pudessem ser sepultados. Fui pai por breves minutos, ao constatar que nas certidões havia os seguintes dizeres: “foi declarante, o pai”. Ponto, parágrafo.
Desnecessário dizer a dor que sentimos, a frustração e a revolta. Por que nós? Tínhamos tudo tão bem arquitetado, e de repente, uma tragédia interrompe nossos maiores sonhos. Alguns anos depois, e muitas noites sem dormir tentando descobrir o sentido da vida, resolvemos que não seríamos pais, definitivamente. Sempre nos demos muito bem, e sempre nos completamos, então que tal curtir um pouco a vida, viajar, conhecer outras pessoas, outros hobbys, outros lugares. Foi o que fizemos durante algum tempo.
Mas a sensação de ser uma família incompleta nunca nos abandonou. Numa das várias conversas, depois de anos sofrendo por se sentir deslocados em festinhas infantis, e vibrando a cada visita dos nossos queridos sobrinhos, surgiu o tema adoção. Particularmente, sempre achei uma alternativa maravilhosa, a maior demonstração de amor que um ser humano poderia ter. Sei, pela minha formação, que genética não é tudo. Aliás, é a menor parte do nosso ser. Somos reflexo do nosso ambiente, da nossa criação, dos nossos amores e desamores, e isso é inquestionável. Portanto um filho que não seja apenas geneticamente meu, vai ser o meu reflexo, a minha imagem, o meu legado, da mesmíssima forma, e isso é uma responsabilidade enorme e maravilhosa ao mesmo tempo!
Dúvidas, inseguranças, incertezas, vamos descobrir qual é o caminho? Fomos atrás, e percalço após percalço, em Novembro de 2011 finalmente fomos “habilitados” a entrar na fila de adoção. Ok, vamos esperar. Ligávamos todo mês pra saber qual nossa posição na “corrida”. Alguns meses a fila andava mais, outros andava menos, e a ansiedade só crescendo.
Eis que um belo dia (nem sei se era assim bela, pra mim foi um dia maravilhoso…), estou em minha rotina normal, trabalhando no Bloco Cirúrgico, quando meu telefone toca, e pude atender. Era a Assistente Social da Vara da Infância, me explicando que havia uma criança dentro do nosso perfil, Bernardo, se queríamos saber inicialmente da história dele. Não enxerguei mais nada. Minhas pernas tremeram, apenas imaginando a idéia que sim, meu filho estava nascendo! Liguei pra minha esposa e desmarquei todos meus compromissos profissionais da semana.
Chegamos pra conversar com a Assistente Social na Vara da Infância, que nos contou toda a história do Bernardo. Não consegui prestar atenção. Queria demonstrar sobriedade, equilíbrio, mas meu coração batia tanto que eu achei que dava pra ouvir. Queria conhecê-lo. Marcamos de ir ao abrigo, mas com a condição de não o conhecer, apenas saber mais um pouco da história. Afinal, estávamos surrados por tantas perdas na nossa vida, não queríamos ficar expostos mais uma vez.
Obviamente, não resistimos. A Assistente do abrigo nos perguntou se queríamos vê-lo, mesmo sabendo que não havíamos combinado. Mais que imediatamente dissemos que sim. Meu coração saía pela boca… Ela nos trouxe um pequeno bebê de 5 meses de idade, não me recordo qual roupa ele vestia, mas o colocou no colo da minha esposa. Desconcertada, e tão machucada pela vida, ela não sabia o que fazer. Mas lá no fundo já tinha a resposta. Quase não ficou com ele no colo, mais uma vez sucumbindo ao instinto de autopreservação, e logo passou para que ficasse no meu colo. Ele se ajeitou, e calmamente encontrou uma posição aconchegante para passar o resto do tempo da visita no colo do seu pai.
Nos despedimos dele e da equipe do abrigo, sem uma palavra sequer por uns cinco minutos, mas já sabendo no fundo do nosso coração, que nosso bebê havia nascido. Sim, era meu filho, e eu finalmente seria pai. Rodamos quase todas as lojas da cidade em busca de um berço de pronta entrega, missão quase impossível. Afinal, quem engravida e ganha um bebê em três dias? Resposta: nós. Chegamos na Av. Silviano Brandão, polo moveleiro de BH e em UMA loja havia um berço para pronta entrega. Pesadíssimo, todo desmontado, sem manual de instruções (apenas uma folhinha muito da sem-vergonha que pouco ajudou). Oras bolas, se eu dou conta de montar peças do meu jipe, montar o berço é o mínimo que posso fazer! Comecei às 17h e terminei lá pelas 2h da manhã. Missão dada é missão cumprida!
No dia seguinte fomos às mais diversas lojas de roupas, carrinho, bebê conforto, cadeirinha. Acabávamos de fazer uma compra, chegávamos em casa, e constatávamos que faltava mais um monte de coisas. Chegamos a voltar duas vezes na mesma loja, no mesmo dia, para alegria da vendedora e da operadora de Cartão de Crédito….
Mas era questão de honra. Teríamos nosso lar pronto pra receber nosso filho!
Corremos contra o tempo, pulamos refeições, emagrecemos três quilos cada um, mas ao final de três dias (nos quais em TODOS fomos vê-lo e acompanhá-lo em consultas) tínhamos uma casa pronta pra receber nosso bebê. Nem dormíamos à noite, pensando em como ele estaria longe da nossa companhia. Nasciam neste momento, os pais do Bernardo. Nossa família estava finalmente completa.
Desde então, ele é nosso raio de luz, nossa pilha, nossa razão de existir, de lutar, de respirar. Nossa vida sem ele não é uma opção, nunca mais… E somos cada dia mais felizes e realizados, com nosso pequeno milagre do destino!
A humanização do parto, em qualquer via de parto, é possível. Passos importantes neste processo já vêm sendo dados. A discussão já ganhou a mídia e as redes sociais.
E tantos outros, que têm um conjunto extenso e completo de informações e preparo que aprofundam e expandem o que eu estou discutindo aqui. Resumidamente, a humanização do parto deveria contemplar TODAS as parturientes.
Há alguns centros de atenção ao parto do SUS com condições de oferecer respeito aos corpos e escolhas das mulheres, em um ambiente acolhedor, com pessoas preparadas para amparar a parturiente de forma adequada:
Sem ter que fazer episiotomia (o corte na vagina para o bebê sair),
Sem receber toques vaginais frequentes (e “estimulantes”, que descolam a bolsa e aceleram o trabalho de parto),
Sem lavagem intestinal,
Sem ficar deitada e amarrada.
Sem puxar o corpo do bebê pra fora logo que a cabeça sai (com risco de fratura de clavícula).
Podendo usufruir de métodos diversos de alívio de dor, como analgesia de parto, banheira quente
Podendo contar com a presença de uma doula.
Enfim, alguns hospitais do SUS oferecem isso. Em Belo Horizonte, só conheço o Sofia Feldman. Que eu saiba, não existem ainda, nem pelo SUS nem pelos convênios, equipes capacitadas para atender parto domiciliar. Mas esses grupos responsáveis pelos links que eu coloquei acima vão poder ajudar quem quiser ter um parto domiciliar particular.
As mulheres atendidas por convênio ou particular também precisam de respeito a seus corpos e escolhas, precisam da humanização do parto.
Poucos hospitais privados em Belo Horizonte oferecem o parto fora do centro cirúrgico.
Poucos oferecem analgesia adequada, com anestesistas capacitados em analgesia de parto normal.
Poucos permitem que uma criança participe do trabalho de parto (por exemplo, o(a) filho(a) mais velho(a) da parturiente, se ela e a criança quiserem).
Poucos permitem que a parturiente fique na posição em que se sentir mais confortável para o período expulsivo (sentada, de cócoras, em pé, deitada, ajoelhada). A maioria das mulheres nem sabe que existe opção.
Poucos oferecem a oportunidade de não tirarem o bebê de perto da mãe ao nascer (para pesá-lo e medi-lo e aspirá-lo, etc.), mesmo para partos normais.
Ou seja, poucos hospitais oferecem um parto normal humanizado.
E nenhum hospital, que eu saiba, oferece a opção de humanização da cesárea, ou seja:
Um ambiente menos frio e menos claro para o bebê nascer.
Onde a mãe possa ficar com seu bebê e seu acompanhante de escolha ao seu lado na longa recuperação anestésica, ao invés de ficar sozinha deitada numa maca, por mais de 30 minutos logo após parir.
Onde os médicos não fiquem conversando sobre suas vidas particulares enquanto tiram um bebê de dentro de alguém.
Onde os profissionais respeitem o momento do nascimento e permitam que a mãe amamente ou aninhe esse bebê em seu peito enquanto eles terminam de costurar a barriga (de preferência, mais uma vez, sem ficar conversando sobre suas vidas, como se a parturiente não estivesse ali).
E num sistema que permita ao menos que eles esperem a gestante entrar em trabalho de parto, se a gestante assim o quiser, para realizar a cirurgia com mais conforto para o bebê.
Enfim, é possível humanizar qualquer via de parto.
Passos importantes neste processo já vêm sendo dados. A discussão já ganhou a mídia e as redes sociais. E está alcançando esferas políticas, planejadoras e gestoras dos sistemas de saúde, tanto privados como públicos, para que “O Sistema” possa criar as soluções para seus dilemas. Como, por exemplo:
Remuneração mais atraente para a assistência ao parto humanizado.
Descentralização da assistência e criação de alternativas ao modelo médico-hospitalar.
Investimentos em profissionais capacitados não-médicos para assistência integral e humanizada ao parto.
Essas medidas são inclusive benéficas para o sistema, uma vez que estudos indicam que são alternativas mais custo-efetivas do que o modelo atual, especialmente em termos de saúde pública. As mulheres e seus bebês serão mais respeitados e os gastos com a assistência ao parto serão menores. Ninguém tem nada a perder.
Por último, mas não menos importante, é necessário lembrar que a violência obstétrica, seja ela no parto vaginal ou cesariana, é uma forma de violência contra a mulher.
Esta causa é essencialmente uma causa feminista. É uma luta pelos direitos das mulheres sobre seus corpos. É uma luta por autonomia feminina. É uma luta, em última análise, por direitos humanos.
É grande a nossa oportunidade de enxergar as coisas com os próprios olhos e, principalmente, olhos críticos, para sermos intelectualmente autônomas. Um lindo filme para trazer ainda mais vida à essa discussão: “O Renascimento do Parto”.
Fonte:
Armadilhas Da Nova Era: Natureza E Maternidade No Ideário Da Humanização Do Parto. Carmen Susana Tornquist. Estudos Feministas 483 2/2002.
Cost effectiveness of alternative planned places of birth in woman at low risk of complications: evidence from the Birthplace in England national prospective cohort study. Schroeder E, Petrou S, Patel N, Hollowell J, Puddicombe D, Redshaw M, Brocklehurst P; Birthplace in England Collaborative Group. BMJ. 2012 Apr 18;344:e2292. doi: 10.1136/bmj.e2292.
Possui graduação em Medicina (2005) e Residência Médica em Clínica Médica (2008) pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Concluiu o mestrado (2011) em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Foi professora substituta concursada pelo Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG e preceptora do ambulatório de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da UFMG. Atualmente trabalha com Avaliação de Tecnologias em Saúde. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Clínica Médica, Disfunção Endotelial, Neurofibromatoses e Medicina Baseada em Evidências.
As doenças alérgicas surgem da exposição aguda ou crônica de um indivíduo geneticamente predisposto a alérgenos específicos. Dentre eles, os alérgenos inalados e, em grande parte, presentes dentro do ambiente domiciliar, são os principais responsáveis pelos quadros de alergia respiratória em crianças.
Alergia respiratória e controle ambiental
A rinite alérgica é a doença alérgica mais comum e atinge 20 a 40% da população, especialmente crianças em idade escolar. É comum o uso de medicações anti-alérgicas por pessoas portadoras de algum tipo de alergia respiratória, tais como a rinite e a asma, porém, o controle dos sintomas alérgicos não depende apenas disso e dependerá, também, de um bom controle ambiental.
As crianças passam a maior parte do tempo em ambientes fechados, tais como sua residência, creches e escolas. Isso dificulta a circulação do ar e a manutenção de um ambiente arejado. Ao mesmo tempo facilita o acúmulo de alérgenos e irritantes no ar. Os ácaros da poeira doméstica, alérgenos de gato e baratas são os irritantes mais frequentemente encontrados. A exposição a fungos, animais de estimação, pragas e fumaça de cigarro também podem causar quadros de alergia.
Roupas de cama, travesseiros, colchões, tapetes e estofados são os principais reservatórios de ácaros e alérgenos de gato. Os ácaros podem sobreviver em mobílias por pelo menos 2 anos e suas substâncias alergênicas podem persistir em residências por períodos de 4 anos. Já os alérgenos de gato possuem grande poder de aderência em uma variedade de superfícies, como tapetes, carpetes, estofados, roupas de cama e vestuário de seus donos. Isso facilita o seu transporte para locais públicos e até mesmo para outras residências. Mesmo após a retirada do animal da residência, as substâncias alergênicas podem persistir por períodos maiores de 6 meses, o que justifica a não melhora imediata dos sintomas alérgicos.
Como principais medidas de controle ambiental, temos:
Encapar colchões e travesseiros com capas anti-ácaro, que devem ser lavadas uma vez por semana. Não usar travesseiros de penas ou fibras vegetais;
Retirar objetos que acumulem poeira, especialmente dos quartos, como carpetes, tapetes, cortinas, almofadas, livros, brinquedos acumulados e pelúcia;
Fazer a limpeza de tapetes, carpetes e estofados utilizando aspirador de pó com filtro uma vez por semana;
Remover a poeira das superfícies lisas com pano úmido diariamente;
Para as famílias que já possuem animais de estimação, especialmente gatos, banhar regularmente o animal, evitar seu acesso aos quartos e locais de lazer das crianças, utilizar capas de colchão e filtros de ar. Aspiradores com filtros HEPA ou sacos duplos são mais eficientes em remover alérgenos de gato;
Manter a casa arejada e permitir a entrada da luz solar nos cômodos todos os dias.
Fechar as janelas nos períodos do dia com maior poluição do ar;
Evitar o uso frequente de umidificadores de ar (o que facilita a proliferação dos ácaros e surgimento de mofo);
Limpar superfícies com mofo e consertar infiltrações de água;
Dedetizar a residência regularmente, evitando o surgimento de insetos, ratos e baratas;
Evitar o contato com fumaça de cigarro e fumaça de outras origens (lareira, fogão a lenha, carvão, queima de lixo, etc).
Evitar o uso de vassouras e espanadores. Esses espalham ainda mais os alérgenos no ambiente;
Evitar o uso excessivo de produtos de limpeza, especialmente aqueles que deixam cheiros fortes no ambiente.
Novamente, o controle dos sintomas respiratórios não depende só do uso de medicações. O controle ambiental é parte fundamental do tratamento.
É pediatra geral e especialista em Medicina Intensiva Pediátrica. Graduou-se pela UFPE, fez residência em Pediatria e especialização em Medicina Intensiva Pediátrica pela USP. É mãe da Ana Luísa.
Eu tenho muitos irmãos, de pai de mãe somos nove, apenas do meu pai temos mais três (que a gente sabe) e não podemos negar que a casa cheia é uma delícia, que sempre tivemos momentos muito bacanas e que crescemos sem necessidade de muitas coisas. Eram outros tempos. E ter um irmão hoje?
Ter um irmão ou não ter um irmão?
Ter um irmão, em geral, é uma bênção, é uma experiência que permite a qualquer ser humano um aprendizado muito amplo do amor, da partilha e da solidariedade.
Nada que não possa ser aprendido e vivenciado mesmo sendo filho único, através do exemplo, de vida e do que a família quer ser.
Meu filho quer um irmão e a gente está tentando por todos os meios engravidar de novo não porque ele “quer” o irmão, mas porque a gente queria ter outro filho.
Chegando numa idade em que essa questão fica cada vez mais difícil conversei com meu marido sobre os nossos verdadeiros motivos… A conversa nos rendeu aprendizados e revelações sobre nós mesmos, sobre as nossas vidas e sobre o futuro da nossa família.
A primeira coisa é que um irmão não é um presente que se dá para o filho que já temos, é um outro caminho, outras responsabilidades financeiras outras renuncias na nossa vida como casal.
Estamos dispostos? Podemos?
Logo depois vieram os questionamentos mais difíceis de responder, um irmão é um laço de amor eterno garantido pela genética?
Pelo poder do sangue?
Não, um irmão é outro ser humano, que criado na mesma casa, na mesma família pelos mesmos valores será como o primeiro um mistério e nada irá garantir que eles serão amigos, que combinarão e serão inseparáveis…
Veja não falo de boa convivência e respeito, estou falando de amizade de companheirismo de amor fraterno na visão ideal.
Ter um irmão para não carregar sozinho com os pais velhinhos?
Eu tenho muitos irmãos e quero bem a todos, mas definitivamente não tenho com todos laços de amizade, com alguns eu tenho desavenças que não discuto porque acho que não leva a lugar nenhum e simplesmente relevo e vou levando.
Com quantos dos meus irmãos eu realmente conto nas horas de aperto?
Quantos dos meus irmãos realmente estão preocupados com o bem-estar da minha mãe?
Não são todos…olha, todos criados com o mesmo amor, com os mesmos valores.
Sim, eu tenho irmãos lindos, que admiro e amo que me matam de orgulho e me enchem de esperança na vida.
Os irmãos do marido, são unidos, são todos bonitinhos…olha que sorte.
Porque refletir sobre isso tudo?
Porque no final decidimos que queremos ter outro filho por amor para que ele seja uma pessoa feliz, para botar no mundo (quem sabe dá certo) outra pessoa legal, um homem ou mulher do bem…como estamos fazendo para o Gabo.
Apaixonada pelas artes e cores, formada em Administração de empresas e Marketing de Varejo. Trabalhava com Comunicação. Casada com o Henrri e mãe do Gabriel.
Quarta-feira, trinta e nove semanas e quatro dias, você está encaixado, mas deve estar gostando muito do quentinho do meu útero. Eu não vejo a hora de ter ver ao vivo, já me cansei das imagens de ultrassom! Meus pés incharam, não tenho mais posição pra dormir, minhas costas doem, morro de azia, minha bexiga deve estar do tamanho de um ovo de codorna. Parece que você vai ficar na minha barriga eternamente.
Consulta com a Iracema às 16 horas.
“Iracema, eu não aguento mais, esse menino tem que nascer logo! Minha barriga vai explodir!”
Ela descola minha bolsa e diz que, se eu não entrar em trabalho de parto em 24 horas, vamos agendar a indução do parto para o sábado.
Esperando sua chegada
Vou pra casa, tudo pronto esperando sua chegada, durmo. Acordo à uma da manhã sentindo uma dor forte, a primeira contração. Não consigo mais dormir porque as contrações voltam, a cada dez minutos sinto a dor. Às seis da manhã seu pai acorda, eu havia trabalhado até o dia anterior, mas nesse dia não ia dar. Digo ao seu pai: “Não vou trabalhar, estou tendo contrações há horas, mas pode ir porque elas estão acontecendo a cada dez minutos, te aviso quando o intervalo diminuir.”.
Passo a manhã urrando a cada dez minutos, não consigo almoçar, tudo que tinha na barriga já saiu, a natureza é sábia. Às 13 horas o intervalo começa a diminuir, converso com algumas amigas no MSN (quando você tiver idade pra ler esse texto não vai saber o que é MSN, mas era uma forma de conversar com as pessoas digitando via internet). Conto que estou tendo contrações e esperando o intervalo diminuir para ligar pra minha médica. Elas me acham louca por estar esperando, já teriam ligado há muito tempo, mas eu estou tranquila, sei que ainda não é a hora. Ligo quando o intervalo diminui de dez para sete minutos. Seu avô Nando me leva ao consultório para ela confirmar se estava mesmo em trabalho de parto. Ela diz: “Pode passar em casa, tomar um banho, pegar duas coisas e me encontre no Vila da Serra, subo daqui a pouco.”
Ligo pro seu pai e falo pra ele me encontrar em casa
“Felipe vai ahhhhhhhh (contração) nascer! Encontre-me ahhhhhhh (contração) em casa, vou tomar um banho e ahhhhhhhh (contração) pegar as nossas coisas.”.
Chego à maternidade
Sou encaminhada para o pré-parto onde as dores só aumentam. Outras gravidas deitadas, só eu isolada, única em trabalho de parto, única gemendo e se contorcendo, as demais vão fazer cesariana. Uma cortina me separa delas que estão conversando. Um bebê chora. Um bebê nasceu. Eu estou sozinha do lado de lá da cortina ouvindo outras mães conversando. Vou ficando nervosa, ninguém aparece, as contrações estão cada vez mais fortes.
Seu pai chega, o anestesista chega, a anestesia só pega do lado direito. O anestesista sai pra lanchar. O lado esquerdo sente todas as dores pelos dos lados do meu corpo. Iracema chega, rompe a bolsa:
“Ele subiu. Se ele não descer até às 21 horas vamos ter que fazer cesárea”
São 19 horas e 30 minutos. Dói. Seu pai me olha e pergunta se eu tenho certeza que vou esperar, se não prefiro fazer cesárea. Lanço lhe um olhar mortal! Se eu estivesse em condições teria dado uns tapas nele.
“Desde uma da manhã sentindo dor, esse menino vai nascer por onde ele tem que nascer, não vou sentir outras dores amanhã!”
Pré parto
Eu estava realmente determinada a ter parto normal, durante a minha gravidez muita gente disse que eu não daria conta, que era muito magra, muito isso, muito aquilo pra ter parto normal. Queria provar pra mim e pra todo mundo que quando a gente quer a gente consegue.
Mas você não desce. Outro bebê chora. E outro, e mais outro… Vários bebês. As mães chegam, as mães se vão, e eu lá te esperando!
O anestesista volta, me aplica outra dose, as dores passam, as contrações também. Um alívio pela dor, um arrependimento não ter dado conta de ficar sem anestesia e não atrasar o processo. Tia Quequel liga, pede notícias, está no quarto com o vovô Nando nos esperando. Vai embora sem saber o que está acontecendo.
O parto
Mais um bebê chora. Iracema consegue tocar sua cabeça, você desceu, vamos para a sala de parto! Uma musiquinha suave de bebê toca, eu faço força, a Iracema puxa sua cabeça, outro médico empurra minha barriga, seu pai acha que está num açougue!
“Sai daí, menino”, vem logo, quero te ver!”
23 horas e 19 minutos! Vejo seu bumbum. Você está roxinho. Te pegam, te pesam.
Nasceu? Não, não foi essa a palavra que eu usei, você demorou tanto que eu disse:
Saiu! Ele saiu!
Fazem todos aqueles procedimentos e te trazem pra mim. Você não chora, você geme baixinho. Sua cabeça é um cone com sangue na ponta, de tanto aperto pra passar. Um cabeção! Um bebezão! 53 centímetros, 3,505 kg. Perímetro cefálico maior que o máximo da tabela, mesmo tendo feito episiotomia tive laceração.
Meu filhote
Meu bebezão. Meu filhote. Loiro, branco, tão branco. Olho e não acredito, eu esperava um bebê moreninho, você é tão bicho de goiaba que eu nem acredito, mas eu vi você saindo de mim! Te levam pro berçário, mando seu pai ir junto pra não te trocarem.
“Não tire os olhos dele!”
Toda mãe tem esse medo de ter o bebê trocado da maternidade. Eu não corria esse risco, você era muito diferente de todos os outros, mas eu só soube depois.
Fico lá sendo costurada, conversando com a médica, ela disse que, se soubesse o tamanho da sua cabeça teria feito cesariana, mas deu tudo certo. Ela foi embora, eu fiquei sozinha na observação por uma eternidade. Queria te ver, um segundo demorava anos para passar.
Finalmente me levam pro quarto. Você já tomou banho, está na incubadora. Eu no quarto esperando te levarem. Finalmente você chega. Me entregam você. Te pego no colo, te coloco no peito e você mama, pela primeira vez você mama! Meu bezerrinho que adorou mamar. Não durmo, não quero te tirar do meu colo. Passo a noite te olhando, te segurando. Apesar do cansaço quero você comigo. Posso ficar ali te olhando eternamente.
Isso tudo foi agora, acabou de acontecer, mas você já tem mil anos, já é o meu menino, pra sempre. O meu amor.
Arquiteta mineira morando em São Paulo desde 2017. Fundadora da Padecendo no Paraíso, organizadora do livro “Manual da Boa Mãe”, dona de casa, agitadora social, feminista,paciente oncológica (câncer de mama). Antiga aluna do Colégio Loyola.
Casada e mãe de um menino, sempre gostou de se envolver com as questões do universo feminino. Tem grande preocupação com o coletivo e acredita que é necessário unir forças para melhorar o mundo.