Eu aprendi um montão de coisas sendo mãe, algumas bem práticas, algumas muito subjetivas. Generosidade e paciência são as duas coisas mais importantes de todas as coisas que aprendi.
Sim, antes de ser mãe eu era uma pessoa limitada e egoísta.
Generosidade e paciência
Gente, para que tanta reverencia às mães?
Criar um filho é simples; basta dar comida, levar ao médico, estar atento. Qualquer um pode fazer isso.
Se você tem dinheiro para bancar ajuda de babá, enfermeira e outras coisas, então, mais fácil ainda. Não precisa se preocupar com nada. Mais fácil que isso, só se criança desse em árvore.
Crianças pobres?
Crianças vítimas da guerra?
Existem em todas as partes do mundo, a gente não deve se preocupar com isso, para isso existe o bolsa família, a ONU e, claro, a Angelina Jolie (uma fofa ela).
Claro que se você é bacana e tem consciência social pode, de vez em quando, doar uns dinheirinhos para caridade e, tudo resolvido.
E aí, um dia eu me vi com meu filho no colo!
Um menino lindo saudável que não deu nenhum trabalho, que aprendeu a dormir a noite toda com 45 dias, que mamou no peito até os dois anos, que desfraldei em um piscar de olhos, que não teve “terríveis 2 anos” que aprendeu a andar e falar cedo…Um passeio no campo não era tão lindo como a infância do meu filho.
Eu era uma mãe perfeita e todas as outras um bando de frouxas que não souberam fazer nada direito.
Um belo dia, me vi sentada na sala da diretora da escola com meu menino desconsolado acusado de ter chutado a professora em um ataque de fúria terrível e incontrolável.
Um menino de 6 para 7 anos descontrolado, chorando sendo tirado a força da sala com os colegas apavorados.
Qual foi a primeira reação da escola:
Vocês estão tendo algum problema em casa? Brigam? Ele foi criado pela avó? Pela babá?
Vocês são tão inexperientes… (qual a experiência que pai e mãe têm sobre filhos antes de ter um filho?)
Vocês mimam esse menino demais, ele precisa de disciplina, ele precisa tomar um remédio, ele tem TDAHA (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade e agressividade) ele tem síndrome de Asperger… Ele tem isso, aquilo e aquilo outro.
Eu descobri, a partir de então, como é duro ser julgado, como é difícil ter que se justificar a cada segundo.
Como é difícil provar que você não fez tudo errado, (para você mesma em primeiro lugar), como é assustador enfrentar uma coisa que não depende do seu querer.
Como é triste querer que seu filho não seja “assim” em vez de amá-lo simplesmente como ele é. Como é duro olhar para ele e sentir isso. Como é triste pedir perdão ao seu filho quando dorme por não conseguir ser uma mãe que resolve isso pra ele passando Mertiolate.
Descobri como é desesperador procurar ajuda e ter que esperar resultados de avaliações, ter que ler e entender coisas que não estão no manual da criança “perfeitinha”, no livro de ouro do bebê mais feliz do pedaço…. Como é complicado esperar do mundo uma compreensão para um problema que é apenas nosso.
Aprendi o que é TOD
Transtorno Opositor Desafiador e os sintomas que ele causa (não vou escrever sobre isso, é chato. Procura no Google que tu achas).
Depois de muitas coisas duras, muitas cabeçadas e lágrimas eu aprendi as duas coisas mais lindas de ser mãe: generosidade e paciência.
E daí eu quis mudar o mundo, proteger cada criança carente, cada menino em perigo de qualquer coisa.
Essas duas coisas me fizeram enxergar com outros olhos muitas coisas deste mundo e me fizeram estender a mão para a mãe da criança que dá chilique na rua e perguntar se está tudo bem. Dar o meu brinco que brilha para o menino autista que quase o arrancou da minha orelha e consolar a mãe.
Eu ainda não aprendi tudo que preciso para socorrer meu filho e nosso caminho é árduo.
Tem dias felizes, tem dias de muitas tristezas.
Aprendi a não ter medo de ser julgada, aprendi a não me importar com a mãe perfeita que sabe como criar um filho bem-educado.
Aprendi a confiar no meu coração.
Aprendi que Deus põe pessoas maravilhosas no nosso caminho.
Aprendi que paciência e generosidade vão nos levar a superar essa fase, vamos vencer.
Aprendi que em vez de desejar que meu filho não tenha TOD, devo agradecer porque ele é lindo, saudável, inteligente, carinhoso e amado.
Gabo, eu prometo que sou a melhor mãe que eu posso, mesmo que às vezes as pessoas que nos veem nos nossos piores momentos digam o contrário.
Filho, eu te amo e te agradeço por ter me ensinado as duas coisas mais lindas do mundo depois do amor: generosidade e paciência.
Esse e outras crônicas da Micho você encontra no livro: