Preconceitos geralmente não povoam uma mente sozinhos. Eles não nascem como fruto único de uma árvore.
Estudos sobre o pensamento humano deixam rastros bastante evidentes sobre isso. Dificilmente alguém será preconceituoso sobre um tema, sem que o seja sobre temas adjacentes.
Alguém que acredita ser a homossexualidade uma doença, provavelmente terá pensamentos restritivos sobre outras liberdades de escolha. E, com frequência, o preconceituoso não se vê como tal.
É mais fácil acreditar que o problema esteja “no outro”, nunca em “nós mesmos”.
Preconceitos não povoam uma mente sozinhos
Há muito a ser observado sobre a formação do pré-conceito, que pode estar ou não de acordo com a educação que o sujeito teve ou relacionado à capacidade (ou incapacidade) individual de discernimento.
Uma criança com uma formação familiar preconceituosa terá maior propensão a repeti-la, ainda que não o faça sobre o mesmo “tema”. Por exemplo, pais que restringem a liberdade de expressão poderão desenvolver nos filhos intolerâncias diferentes das deles próprios ou diferentes entre os irmãos. Ainda assim, problemas da mesma natureza, a intolerância.
Provavelmente, filhos que tiveram essa estrutura familiar limitadora do pensamento serão preconceituosos sobre outros aspectos. Salvo quando forem conscientes sobre o discernir, o que é característica auto didática incomum.
A natureza do preconceito
Percebam que a questão não é o “tema” do preconceito, mas a natureza dele. A natureza de ser intolerante ao que é diferente, que surge em diversos “temas”.
É comum tratarmos do preconceito em assuntos individuais e não sobre o pensamento generalizado da intolerância. O que dificulta a percepção de indivíduos que não se consideram preconceituosos sobre um assunto, mas são sobre outro.
A característica da intolerância vai se apresentar em algum momento, demonstrando despreparo e dificuldade em se auto-questionar.
Surgem situações interessantes, como indivíduos aparentemente tradicionais mas que convivem com tolerância às escolhas individuais alheias, do outro lado pessoas com visão mais moderna em alguns aspectos, mas intolerantes à temas que consideram inadequados ou irrefutáveis.
Acontece porque o preconceito não é um pressuposto da tradição ou da modernidade, mas da incapacidade de visão do todo. E observá-lo em sua raiz é mais importante do que isoladamente ou de acordo com a polêmica do momento, porque embaça a visão geral do problema.
Intolerância
A razão da intolerância é o medo que a diversidade de pensamentos prevaleça sobre o “nosso” e em última instância, o medo de perdermos as próprias referências.
Há uma forma eficaz de percebermos o próprio preconceito, ele está naquilo que tentamos esconder. O medo gera o preconceito como forma de defesa. Mas o inconsciente humano é poderosíssimo e deixa suas pistas.
Só é possível combater o preconceito individual ou generalizado aceitando a nossa natureza evolutiva, que impõe mudanças às nossas referências. A serenidade sobre a transformação dos próprios paradigmas não só é saudável como demonstra evolução, além de nos tirar o peso das “certezas” antigas.
É importante gostar (e difundir) a ideia do pensamento sistêmico, ou seja, que nunca se encerra em uma conclusão.
Quem se enxerga como constante aprendiz dificilmente abre espaço para a intolerância, seja ela de qual natureza for, porque acredita que nenhuma “certeza” seja mais válida do que uma possibilidade de evolução.
E nesse processo vamos nos tornamos mais criteriosos quanto às definições, para que elas não sejam correntes de aprisionamento.
Quando nos habituamos a questionar, as inúmeras possibilidades de escolhas individuais incomodam menos, porque percebemos que se tivéssemos tido outras vivências, faríamos outras escolhas.
Há diversas formas de enxergar a vida.
Bilhões de seres em diversidades individuais que se unem através de vivências semelhantes, formando grupos ou intercessões.
Aqui, no “Padecendo no Paraíso“, somos um exemplo claro de intercessão comum, somos todas mães, com muitas atitudes diferentes. Isso é o que chamamos de escolhas, bilhões de intercessões, dentro de bilhões de grupos.
E quando tentamos enxergar todo esse esquema em um grande mapa, percebemos que não há sequer dois seres humanos que ocupem sempre as mesmas intercessões.
Em alguma escolha haverá discordância e é isso que nos torna tão interessantes – a nossa multiplicidade.
Aquilo que necessariamente me convém, pode não ser o mais conveniente à maioria, e vice versa.
Esse aprendizado sobre a tolerância está acima do debate de um “tema” isolado do preconceito, mesmo porque não há conceitos isolados, o que existe são costumes em formar opiniões prévias resistentes à mudança.
Apesar disso, é imprescindível abordar preconceitos específicos e lutar contra tabus, mas é ainda mais importante perceber a raiz do problema, crescente em várias direções.
A árvore do preconceito não dá frutos únicos e a certeza sobre uma única escolha já é em si um pré-conceito sobre todas as demais.
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