Maternidade é um negócio que não se vive pela metade. Não se faz mais ou menos. Não tem aula experimental. Não tem um mês grátis para testar e ‘qualquer coisa a gente cancela’. Maternidade é para sempre. Pa-ra sem-pre.
Começa quando te entregam aquele pacotinho melecado que acabou de sair de você e seu coração para por alguns segundos.
Literalmente, ele para. É seu corpo dando boot, pois você está reiniciando com nova configuração.
Uma configuração da qual não é possível mais fugir.
Maternidade é para sempre
Todos os dias, para o resto da sua vida, você vai dormir e acordar mãe, mesmo que seus filhos estejam longe de você.
Mesmo que, durante 10 horas por dia, você seja gerente de marketing, engenheira, pilota de avião, professora, cientista ou garçonete, você continua sendo mãe. Acima de tudo, sempre mãe. Maternidade é para sempre.
Quando bater um ventinho frio, você vai pensar se mandou uma blusinha a mais na mochila da escola.
Quando a colega de trabalho abrir a bolsa e tirar uma maçã, vai lembrar que precisa passar no sacolão na volta para a casa porque as frutas que seu filho gosta estão acabando.
No meio da reunião com o presidente da empresa, vai lembrar de mandar um Whatsapp para a berçarista perguntando se a bebê não teve nenhuma reação à vacina.
E quando ver outro bebê sorrindo na rua, passeando com a mãe que, diferente de você, abriu mão de trabalhar para ficar com o filho dela, você vai sentir um nó na garganta. Vai pensar se seu bebê está sorrindo também. E vai se sentir mal por estar perdendo aquele sorriso.
Eu passei os últimos 140 dias grudada na minha caçula. Não passamos mais de 3 horas longe uma da outra desde quando ela nasceu. Eu sei cada barulhinho que ela faz, conheço cada dobrinha, cada gordurinha. Sei fazê-la rir. Sei fazê-la parar de chorar. Sei do que ela gosta de brincar.
Está chegando a hora
E agora está chegando o dia em que eu terei que entrega-la, para uma pessoa que não sabe nada disso, cuidar dela pra mim enquanto eu vou trabalhar. Enquanto eu vou ser outra coisa diferente de ser mãe.
Porque eu escolhi isso, ser mãe e ser outras coisas ao mesmo tempo. E eu não trocaria essa escolha porque amo o que faço, amo onde faço e amo quem eu sou longe dos meus filhos.
Amo a versão de mim que usa maquiagem e não tem cheiro de leite no cabelo. A que não fala com voz de neném. A que pede para as pessoas fazerem alguma coisa e elas fazem, sem que tenha que dizer
Se eu tiver que repetir mais uma vez vai ficar sem ver desenho hoje
O problema é que eu não consigo desligar a versão mãe para ir ser essa outra versão de mim. A licença maternidade acaba, mas a maternidade não.
A versão mãe vai junto para o trabalho, usando maquiagem, falando com voz de adulto, dando orientações para a equipe, enquanto espreme o maior amor do universo em uma noz, que basicamente é o tamanho que seu coração fica quando vai deixar o seu bebê para trás.
Tudo bem, não é minha primeira vez fazendo isso, eu sei que vou sobreviver. Sei que ela vai ficar bem. E que ela vai guardar muitos sorrisos para mim. E que seremos muito felizes em todos os momentos que tivermos juntas. E que eu vou me lembrar com carinho desses 5 meses em que ficamos grudadas. E que, eventualmente, estar longe dela não vai me fazer sofrer.
Porque de uma coisa, eu tenho certeza: cada minuto que eu passar longe dela, estarei amando-a com cada célula do meu corpo. Estarei sendo sua mãe. Incondicionalmente, e para sempre.