27 de junho de 2018
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Duas perdas. Duas mulheres.

Dois abortos. Duas perdas. Duas mulheres. Dois pesos. Duas medidas.

Duas mulheres

Ela estava na maca ao meu lado.

Eu tinha 28 anos, casada, engravidei tomando pílula, sem planejar, gravidez tubária, perdi o bebê. Fui operada.

Ela tinha 16, engravidou do primeiro namorado. Tentou abortar em casa.

Eu fui operada às pressas porque a trompa rasgou. Hemorragia interna.

Ela foi operada às pressas porque o cabide que ela usou no momento de desespero perfurou o útero. Hemorragia severa.

Eu tinha minha família me apoiando, meu marido na sala de espera.

Ela tinha um namorado de 19 anos que a ajudou pesquisando como fazer aborto em casa e no procedimento.

Duas perdas

Eu senti a dor de perder um bebê e a dor física de toda a situação.

Ela sentiu desespero, medo, dor, arrependimento, culpa, julgamento e mais dor.

Eu estava tranquila, medicada para a dor física e de roupa limpas.

Ela estava coberta de sangue, pingava da maca. Ela estava desesperada, tentava justificar em meio a lágrimas que achou que o pai ia matá-la, e que ela estava perdida e não pensou direito… Ela implorava por medicamento para dor.

Dois pesos

Eu fui bem tratada durante todo o processo, as enfermeiras me falaram que eu teria outro bebê em breve, uma ficou fazendo carinho no meu cabelo enquanto eu aguardava no pós operatório. Fui muito bem acolhida, me cobriram porque a anestesia me fez sentir frio.

Ela ouviu que colheu o que plantou. Ela foi julgada por todos ali. Ouvi dizerem, para ela ouvir, que ela estava merecendo aquela dor, que deu sorte de não morrer! A enfermeira só levou o cobertor para ela quando eu pedi pelo amor de Deus! Ela tremia muito!

Foram duas perdas. Eu senti a dor dela ali, mais forte que a minha. A dor na alma dela, a dor que vinha junto com mil sentimentos, aos 16! A dor que extrapolava o coração dela e atingia também o meu!! Pude sentir a agonia dela! Chorei pelo meu bebê, e chorei por ela, com ela!

Uma menina, desesperada, achou que não tinha opção! Uma menina ali jogada e sendo julgada por diversas mulheres, que talvez, quando meninas, se tivessem engravidado, fariam o mesmo diante da pressão de um namorado. Ou não. Não importa. O que importa é que não precisa ser como foi!

Ao invés de quase morrer, ela poderia ter tido atendimento, aconselhamento, acolhimento! Talvez ela desistisse do aborto. Talvez ela fosse em frente. Também não importa! O que importa é que não precisa ser como foi!

Descriminalizar é evitar que seja assim para nossas filhas, para qualquer menina, para qualquer mulher!

Muitas outras mulheres sofrem muito mais. A menina tinha plano de saúde e teve assistência, outras milhares sangram até a morte. Mas o rosto dela e seu gemido de agonia estão na minha memória para sempre, por isso quis dividir essa história com vocês!
Empatia é amor!
É o amor que nos une!

Mariana S. L. De Paula

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