Dificuldades alimentares na infância – Cerca 30% de todas as crianças com desenvolvimento típico podem encontrar algum tipo de dificuldade com sua alimentação. Quando as dificuldades aparecem, muitas famílias passam, na hora das refeições, por momentos de preocupações e estresse. Aproximadamente metade dessas crianças com dificuldades vão “superá-las” completamente sem ajuda especializada.
Quais as possíveis dificuldades para a criança ao se alimentar?
- A criança pode comer e não se sentir bem por alterações no sistema gastrointestinal. Assim, ela come e sente desconfortos que muitas vezes não consegue descrever e com sintomas difíceis de serem interpretados como irritação por refluxo gastroesofágico.
- A criança pode não ter as habilidades motoras orais para receber os alimentos. Ela recebe a comida, mas não sabe o que fazer com ela, o que é incômodo. O desenvolvimento motor do corpo deve ser levado em consideração para a evolução da introdução alimentar. Os movimentos orofaciais são desenvolvidos desde o útero e vão se diferenciando à medida que a criança leva mãos, brinquedos e os alimentos à boca.
- A criança pode ter dificuldades em processar as informações sensoriais que a alimentação engloba. Nós usamos todos os nossos sentidos para nos alimentar: paladar, tato, olfato, audição e visão e mais outros dois (vestibular e proprioceptivo). Para algumas crianças, interpretar as informações sensoriais durante as refeições pode ser difícil. Assim, alguns alimentos ficam realmente desconfortáveis dentro da boca ou ao serem tocados até com as mãos.
- A criança pode ter uma tendência ao comportamento mais inflexível e não aceita alimentos que não estejam de acordo com o que ela conhece e gosta. Lembrando que é normal de 2 a 5 anos, as crianças resistirem aos alimentos novos. A exposição repetida aos alimentos sem a pressão para comê-los pode facilitar a passagem por essa fase.
- A criança pode ter passado por vômitos, engasgos, procedimentos e exames invasivos durante internações e ter medo de se alimentar. Dessa forma, ela pode não tem um relacionamento prazeroso com a alimentação.
Desafio
Em muitos casos, vamos encontrar mais de um desafio envolvido nas dificuldades alimentares da criança. O comportamento da criança muitas vezes está dizendo por ela que está difícil ou desagradável ou dolorido para comer. Uma avaliação cuidadosa e ampliada é fundamental para o seguimento de cada caso. Essa avaliação e a identificação das possíveis causas define o(s) profissional(is) que podem auxiliar no tratamento.
Mas, quando saber a hora de procurar ajuda especializada?
Primeiramente, devemos estar atentos ao crescimento e ao ganho de peso. A criança sempre deve ser acompanhada pelo pediatra para acompanhamento clínico. Se há algum problema nessa área, a alimentação deve ser investigada. Existem algumas crianças que estão crescendo de acordo com a curva prevista, mas em determinados aspectos a alimentação está trazendo um desgaste ou uma preocupação para os pais.
Muitas vezes, recebemos mães ou pais que falam que o filho não come, sendo que a criança come, mas apresenta recusas ou dificuldades importantes. E isso impacta muito na qualidade de vida de toda família. Por isso, a queixa deve ser investigada com um olhar ampliado. Quando a criança apresenta seletividade e recusas para todo um grupo de alimentos, por exemplo, carnes ou verduras, é preciso procurar ajuda. Assim, como em casos de aversão total a algumas texturas ou consistências.
E como os pais podem ajudar as crianças com dificuldades alimentares?
- Valorizar e trazer a criança à mesa durante as refeições em família desde cedo.
- Cuidar do ambiente de refeição proporcionando presença, liberdade e nutrição de sentimentos além dos alimentos.
- Diminuir a pressão sobre o quanto a criança come, principalmente no primeiro ano em que a criança deve ter muitas oportunidades de vivências com sabores, cheiros, texturas e consistências diferentes.
- Respeitar e procurar entender as possíveis dificuldades e preferências alimentares.
Além disso, os pais devem estar atentos que o modelo é a lição mais importante para a criança, que estão sempre atentas a tudo que os pais fazem e falam.
O Projeto Fome de Gosto surgiu de uma parceria entre a fonoaudióloga Mariana Pantuso e a terapeuta ocupacional Amanda Dupin, que perceberam na prática clínica que as crianças vêm apresentando cada vez mais dificuldade em ter uma relação sadia com a comida e vivenciar a alimentação de forma prazerosa. Nossa missão é ampliar a abordagem nas desordens alimentares da infância e usar o conhecimento em desenvolvimento infantil, habilidades orais e integração sensorial para construir um plano de ação para ajudar crianças com disfunção alimentar e os pais que estão em busca de uma vida mais saudável. Alimentação é nutrição, mas também um momento de troca, de prazer e compartilhamento. A família e o momento de refeição são aspectos fundamentais desse trabalho.