Essa é a segunda vez que eu escrevo para as meninas do “Padecendo no Paraíso”.
Quando meu primeiro texto “Dez coisas que toda padecente tem que saber” foi ao ar no portal “Sou BH”, eu li o comentário da padecente Marina Rodrigues e me comovi. Não conheço Marina, nem sequer moramos na mesma cidade e ela declarou que desejava que, quando seu filho fosse para escola, tivesse ele uma diretora como eu.
Claro que fiquei feliz com os outros posts elogiando o texto. Quem não gosta de elogio? Mas o post da Marina Rodrigues, de fato, mexeu comigo. Resolvi então escrever novamente para as padecentes, agora não como mãe, mas como coordenadora de escola.
Sou a diretora acadêmica da maior escola da minha cidade. Sou a responsável por toda equipe pedagógica (desde coordenadores e professores até auxiliares de sala e de pátio). Essa escola tem 2.500 alunos, desde o Ensino Infantil até o Pré-Vestibular. É bastante trabalho. São muitas mães para atender. E, são muitas histórias para contar…
Escolhi alguns temas que, por aqui, são recorrentes. Meu desejo é no mínimo provocar reflexões sobre a sua relação com a escola do seu filho.
A primeira coisa que deve ficar clara é que, mesmo que você ame de paixão a escola do seu filho, você não vai concordar 100% das vezes com os procedimentos adotados. Você pode até acatar, entender, mas nem sempre vai concordar. É nessa relação de amor e ódio que eu quero ajudar. Vamos?
– A escolha da escola.
Antes de tudo, você deve buscar uma escola que partilhe dos valores de sua família. Sua família é evangélica e você escolheu uma escola laica. Não imagine que a escola vai praticar um ensino religioso na sua rotina, pois ela não vai. E mais, a escola não vai mudar porque você é evangélica. Você e seu marido gostariam que seu filho falasse fluentemente inglês desde o Ensino Infantil? Busque uma escola bilíngue. Uma escola tradicional não vai aumentar a carga horária de inglês porque você deseja um ensino bilíngue. E por aí vai… Cada escola é idealizada para uma determinada fatia da comunidade local, busque a sua.
A partir do Ensino Fundamental I, a proposta pedagógica da escola é primordial. Antes disso, o caráter da escola deve ser mais assistencialista (quero dizer, deve cuidar bem do seu filho). Fique atenta no que você busca. Não faz sentido na procura por um berçário para seu bebê, você perguntar como a escola se prepara para o ENEM.
– Dúvidas em qualquer procedimento da escola.
Não entendeu o calendário, não gostou do recado enviado na agenda, discorda do valor do próximo estudo de meio dos alunos e outros. Você tem três caminhos:
1) marque com a coordenadora, vá até a escola e esclareça. Essa é uma das funções da coordenadora. Ela não vai se ofender ou achá-la chata. (muitas mães falam isso: “não quero ser chata…”);
2) junte-se ao grupo de mães que ficam no portão da escola batendo papo e expresse sua dúvida ou insatisfação para o grupo;
3) poste no grupo de mães do whatsapp e crie a discussão.
Qual dos três caminhos você acredita que é realmente efetivo?
– Resolver uma crise.
Seu filho te contou alguma coisa que aconteceu na escola que você não gostou? Você estava passando e viu uma cena no ambiente escolar que você não aprova? Novamente: marque com a coordenadora, vá até a escola e esclareça. A coordenadora e todo o corpo docente estão na escola PELOS alunos e não CONTRA os alunos. Seu filho pode não gostar, você pode concordar com ele, mas se você escolheu aquela escola é porque acredita nos valores dela. No mínimo, você deve ir até a coordenação e entender o que aconteceu. E aqui nesse item há uma coisa primordial: não confira à visão das crianças o peso da visão de um adulto. Crianças, às vezes, falam e fazem coisas sem maldade. Não é justo pensar que elas têm a mesma visão de mundo que nós adultos. Um menininho do Ensino Infantil colocou a mão dentro da calça e mexeu no seu pipi no meio da aula. Sua filhinha viu e te contou. Você não pode ir até a escola e dizer que o menininho fazia obscenidades durante a aula, pode? Então, por favor, não esqueça sempre de tentar conferir o peso da idade da criança para cada situação. Por último, levar a história do menininho no bate papo do portão ou no grupo de whatsapp só vai rotular a pobre criança que pagará por um bom tempo a inconsequência de um bando de adultos.
– Bullying e Cyberbullying.
Este assunto é longo. Primeiro porque a gente tem que definir o que é exatamente bullying. Afinal é NORMAL que crianças tenham conflitos entre elas. É normal que elas busquem a fraqueza do outro. E, o esperado é que o outro aprenda a se fortalecer. Assim é a vida. A gente aprende a lidar e superar nossas fraquezas, não? Outra coisa: tem dia que nosso filho é a vítima, mas tem dia que ele é o bully (na tradução literal, valentão). Quando ele aborrece o colega, você não fala nada, mas quando o colega o aborrece, você vai à escola e diz que seu filho sofre bullying. Isso, realmente, ajuda no desenvolvimento do caráter do seu filho? Não estou dizendo que bullying não ocorre. Ocorre sim. E, quando identificado, deve ser imediatamente reprimido pela coordenação da escola. E quando ocorre e a coordenação identifica, não existe varinha de condão que faça a situação sumir, só porque a coordenação já sabe. Esse é um trabalho lento, que tem que acontecer com a parceria da família da vítima e do bully. Só assim será eficaz.
O cyberbullying é ainda mais complicado, visto que a internet é um ambiente livre no qual a escola não tem nenhum poder de censura. É papel da escola orientar os alunos sobre o bom uso da tecnologia, desde pesquisas escolares no Google, até o mau uso contra colegas. Agora, vamos admitir, durante as aulas, as escolas não permitem o uso de smartphones e tablets (apenas para uso pedagógico). Portanto, em 99% das vezes a postagem inadequada na internet, chamada de cyberbullying, não ocorreu na escola. Na sua opinião, para solucionar o problema, a família deveria assumir sua responsabilidade e agir?
– Lição de casa.
Ela é importante. Ela sedimenta o conhecimento adquirido pelo seu filho durante as aulas. Especialistas são praticamente unânimes em afirmar que ela deve ser diária. Isso posto, VOCÊ deve ver a tarefa como uma coisa importante e legal. Quando você vê a tarefa como um aborrecimento, a criança passa a vê-la como um “castigo”. E, você vai criar um aluno que passará sua vida escolar com problemas para aceitar sua rotina de estudos.
Bom, meninas, no final, por mais histórias que eu conte, a única coisa que posso lhes assegurar com certeza é que a boa educação de seus filhos é resultado de uma afinada PARCERIA da família com a escola. Como em qualquer relacionamento, às vezes a gente concorda e às vezes a gente discorda. O importante é que os dois lados acreditem na mesma coisa.
Para terminar, preciso deixar muito claro: não importa como nos comportemos, com calma ou com histeria, com educação ou aos berros, com sensatez ou insanidade, nós, mães, só temos uma coisa em mente: defender nossos filhos.
Mãe, acredite em mim, a coordenadora da escola sabe disso. Entretanto, nem sempre é fácil conversar com alguém que não é exatamente, mas está naquele momento, completamente pirada…
E, a gente pira mesmo, afinal, ser mãe é Padecer no Paraíso, não é?
Parabéns!
Por um mundo de mães que puxem para si a responsabilidade de educar deixando livre a escola para ensinar.
Perfeito!
Adorei o texto!!!! É exatamente isso! Busco colocar todas essas dicas em prática em meu dia a dia na escola das filhas mas vejo que muita gente se coloca em posição de rival da escola. Enfim, parabéns e que muitas mães possam refletir e aprender com o texto!
Excelente texto! Penso exatamente assim e sou muito feliz por ter escolhido uma escola que possui um excelente diálogo com os pais. São verdadeiros e transparentes. Lá a criança importa, não é só um número. Dá trabalho escolher uma boa escola, mas vale demais o esforço.
Que texto maravilhoso, coerente…
A ponderação deve ser sempre o nosso objetivo em relação a escola e esse sentimento só é possível de ser alcançado quando entendemos que a escola é nossa parceira, que é uma ferramenta importante para o desenvolvimento acadêmico e social dos nossos filhos.
Escolher certo, é apenas uma parte,abraçar a escolha com carinho é o que completa esse relacionamento .
A coordenadora tem sobre nossos pequenos pontuações que são reveladas no ambiente escolar e devem ser levadas em consideração. Conhecer a coordenadora para mim é fundamental na escolha da escola porque a final ela é quem garante que a filosofia linda da escola que escolhemos com amor seja vivenciada de forma ampla e verdadeira.
Odeio fofoca em porta de escola e whatsapp de sala ? nem morta!!!!!!!
Não se pode tratar a escola como uma prestadora de serviços qualquer, a coordenadora não tem o mesmo papel que a atendente da lavanderia onde deixamos o tapete da sala.
Carol Lyra tu é linda por dentro e por fora !!!!!!!!!