Você já parou para pensar nos verdadeiros benefícios de uma alimentação adequada desde o nascimento até a primeira infância?
Benefícios de uma alimentação adequada
Todos sabem que uma alimentação balanceada proporciona um crescimento saudável. O leite materno reúne todas as exigências nutricionais, fornecendo ao bebê a melhor proteção contra as alergias alimentares. Já as frutas e vegetais frescos são excelentes fontes de vitaminas, minerais, fibras e compostos que contribuem para a prevenção de doenças, tanto na infância quanto na vida adulta.
Mas o que poucos imaginam, é que uma alimentação equilibrada e com variações de texturas (que exigem esforço mastigatório), estimulam o adequado crescimento ósseo da face.
O exercício proporcionado pela mastigação engloba estruturas como língua, músculos, dentes, articulações e ossos, que trabalham de maneira conjunta, possibilitando o desenvolvimento harmonioso das estruturas faciais. Estes aspectos fisiológicos associados à estimulação de linguagem, trás o benefício da redução de possíveis desvios fonéticos nas crianças.
Mas como devemos proceder? Como e quando oferecer as variações de texturas alimentares?
Nos primeiros meses de vida do bebê, a amamentação com o leite materno ou com leites industrializados é sucedida pela sucção. A sucção é inata, está presente desde a vida intra-uterina e desempenha papel importante no crescimento crânio facial e no desenvolvimento adequado das funções de respirar, deglutir, mastigar e falar.
Ao sugar a mama, o bebê favorece o crescimento da mandíbula, preparando-se para as próximas etapas do desenvolvimento. Além disso, ele respira pelo nariz durante a amamentação, o que estimula o crescimento facial adequado.
A posição da boca nos mamilos provoca a estimulação de pontos articulados responsáveis pela produção dos fonemas. Toda a musculatura facial é fortalecida durante os intervalos da sucção e as estruturas ligadas a respiração, mastigação, deglutição e fonação dependem da amamentação. Todos os sistemas são interligados.
O uso de mamadeiras e/ou chupetas
A criança pode expressar sua satisfação oral por meio de sucção de chupeta, de dedo e/ou mamadeira. Estes hábitos podem ser abandonados espontaneamente. Quando isso não ocorre, eles devem ser retirados para que não sejam prejudiciais. A orientação é que o uso de mamadeiras e/ou chupetas não ultrapasse os dois anos a dois anos e meio.
A mamadeira e a chupeta promovem um posicionamento incorreto da língua. Esta fica com a ponta baixa e o dorso elevado. Essa má postura lingual por tempo prolongado promoverá uma má oclusão dentária, um padrão respiratório oral (respiração pela boca) e afetará o crescimento facial, ocasionando alterações no sono, concentração e atenção. É necessário que os pais se conscientizem sobre o uso do bico e/ou mamadeira e suas consequências.
É sugerido:
- Utilizar bicos ortodônticos;
- Não aumentar o furo do bico da mamadeira;
- Oferecer a chupeta somente quando a criança esteja necessitando;
- Não oferecer a mamadeira na cama evitando cáries e otites;
- Utilizar o copo de transição;
- Incentivar a retirada definitiva da chupeta até dois anos / dois anos e meio.
Estas medidas irão atenuar ou interceptar os efeitos deletérios sobre as estruturas e funções estomatognáticas.
Alimentação e mastigação
A partir dos seis meses de vida, o aparelho digestivo do bebê já é suficientemente maduro para receber outros alimentos e o pediatra pode aconselhar a diversificar a dieta.
A transição deve ser gradual e o leite materno deve permanecer até os dois anos de idade.
A criança deve aprender desde cedo a comer mastigando muito bem, a variar sabores, consistências, temperaturas, texturas, formas e volumes dos alimentos oferecidos.
Esta experiência promove o treinamento gradativo do aprendizado da mastigação, que estimula os músculos e os movimentos de lateralidade da mandíbula para promover o crescimento craniofacial.
A mastigação é considerada uma das mais importantes funções, interferindo diretamente no crescimento da face. Quando o exercício da mastigação não está bem desenvolvido, pode-se comprometer o crescimento ósseo da face ou gerar um crescimento assimétrico, responsável por problemas ortodônticos futuros.
Uma alimentação pastosa prolongada leva à criança a não mastigar, pois não há esforço muscular. Isto ocasiona um desequilíbrio da musculatura e pode levar a uma flacidez oral. Esta flacidez pode atrasar e/ou alterar a fala, já que esta utiliza o aparelho respiratório e o digestivo para ser executada.
A introdução de novos alimentos deve ser de uma forma divertida e prazerosa e requer paciência e dedicação.
O esforço aplicado hoje certamente refletirá na prevenção de danos futuros no desenvolvimento das estruturas orofaciais. O crescimento inadequado da face afeta também a respiração. Por sua vez, a respiração incorreta prejudica o sono, a memória e a concentração.
Os pais devem estar alertas para:
- Crianças que dormem de boca aberta, roncam e babam;
- crianças que brincam de boca aberta e com a língua para fora;
- crianças que mastigam muito rápido ou usam sempre líquidos para ajudar a engolir ou fazem movimentos de cabeça na deglutição;
- crianças que mastigam de um lado só;
- crianças com alterações na arcada dentária;
- crianças que jogam muito a língua para fora na hora de falar, mastigar e engolir.
Os profissionais envolvidos na correção destas alterações são: otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos, odontopediatras e ortodontistas e eles devem sempre ser procurados pelos pais para um correto diagnóstico e tratamento.
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