02 de maio de 2018
Comentário( 0 )

Adoção não é brincadeira

Adoção não é brincadeira, a Junya sabe bem disso. Ela tem duas filhas, uma biológica e uma adotiva e conta pra gente um pouquinho dessa história. (publicado originalmente em 05/11/2014)

Adoção não é brincadeira
Junya Sant Anna

Seu lugar no céu, está garantido! Que atitude mais linda a sua, ao salvar uma vida.”

Oi?

Vamos dissecar um pouco estas palavras e pensamentos.

Não é pretensão, fazer apologia ao politicamente correto e muito menos empurrar a ignorância alheia, goela abaixo. Adoção não é brincadeira e. muito menos, é fácil. Existem várias etapas a cumprir antes de ser concretizada.

A maioria das pessoas que optam pela adoção, o fazem motivados pela frustração de não ter conseguido pelas vias naturais, pela gestação.

Sim, eu faço parte desta estatística.

Passei por muitos momentos de angústia, raiva e o sentimento de que o universo conspirava contra o meu desejo. DEUS, não queria me dar um filho!

Tá certo que demorei muito a decidir por ser mãe. A vontade,despertou em mim, por volta dos 36 anos. E óbvio que ouvi muitas coisas que me jogaram na lona. Fui nocauteada por um médico que me disse que as possibilidades de uma gravidez, aos 36, 38 anos com o histórico de ovários policísticos, estavam BEM reduzidas.

Não desisti, mesmo com o coração na mão e mesmo sabendo que tudo, poderia dar errado.

Tentando engravidar

Me viraram pelo avesso.

  • Exames de sangue,
  • ultrassom,
  • monitoramento da ovulação,
  • Histerossalpingografia (alguém já passou por este exame de tortura?),
  • seguidos de hormônios,
  • injeções caríssimas,
  • ultrassom dia sim, dia não,
  • e o tal do sexo obrigatório, 2 vezes ao dia, durante 1 mês! Este último, bastante animador nos primeiros dias, que teve seus minutos inglórios já por volta do 15º dia.

Ninguém, humanamente sadio, suporta esta maratona sexual (lua de mel é bem legal!). É DE MATAR! Haja tesão com tanta pressão, para que o tal espermatozoide consiga percorrer em velocidade recorde, sobreviva e encontre um óvulo lindo, maduro, perfeito e insinuante, esperando por este encontro mágico!

Engravidar, parece fácil não é? Para a maioria das mulheres, sim! Para as inférteis, NÃO! E olha que ainda há quem consiga um parceiro com baixa taxa de espermatozoides. Acredite! Isto acontece!

Casamento

Foram quase 5 anos tentando e desistindo. Quarto de bebê todo comprado, enxovalzinho feito por mais de 9 meses, sapatinhos… E, entre um tratamento e outro, dava uma pausa para recuperar o fôlego físico, psíquico e financeiro. Tratamento para engravidar não é barato e muito menos fácil. Mexe com o emocional de toda a família! Hoje, depois de ter passado por tudo isto, afirmo com propriedade de que antes de iniciar um tratamento para engravidar, temos que fazer terapia de casal, para que os momentos de frustração não interfiram na relação.

A mulher se sente um lixo quando vê todo o investimento emocional e financeiro indo embora em um absorvente. O marido, embora apoie, fica frustrado também. A família envolvida no processo se decepciona. A não gravidez, resultado de tratamento, é o que existe de pior na vida de uma candidata a ser mãe.  A relação do casal, precisa estar muito fortalecida para dar inicio à maratona do tratamento. Tem que haver cumplicidade, paciência, generosidade, compreensão e não pular etapas.

Parando de sofrer

Depois de quase 5 anos tentando, e sempre com os olhos voltados para o plano B, resolvi parar de sofrer. Em todos os sentidos! Parei de sofrer quando fui ao juizado da infância e dei entrada nos papéis para adoção. Minha angústia começou a se dissipar, quando abri meu coração para esta possibilidade de ser mãe, por outra via. Meu marido era contra a decisão de adoção. Por machismo, ignorância ou por não ver na criança, a tal herança genética. As pessoas dão muito valor à isto. A carga genética de que a criança terá o nariz da mãe, a testa do pai, os olhos dos avós, a inteligência do tio. Ou a personalidade de ambos materializada no filho.

Mesmo assim, com a negativa inconsciente de sua parte, ele deu entrada no processo e participou de todo o processo. Tempos depois, percebi que ele não estava aberto para a decisão que acreditava que tivemos juntos. Entrei para outra estatística: A de casais que se separam por não terem filhos biológicos. Não desisti. Dei continuidade ao processo, solteira, e esperei por quase 3 anos!

Adoção não é brincadeira

Adoção, não é caridade e nem salva ninguém de nada! Quem me salvou de mim mesma, foi a minha filha. Adoção, não deve ser usada para tapar buraco de das frustrações do casamento, da ausência de gravidez e muito menos, brincar de casinha feliz com o pequeno que chega!

É filho! Nem mais, nem menos. Vem por um meio burocrático como tem que ser, longo, amadurecido que pode ser traduzido desta maneira bem simples; É UM FILHO que chega.

Depois de um longo período de espera, quase três anos, sem entender o porquê de tanta demora, com tantas crianças abrigadas, vivenciei algo extremamente importante para quem passa pelos momentos de perda: O LUTO.

O luto

Precisamos morrer para nascer de novo! Precisamos nos despedir de nossa bagagem adquirida com os sonhos de uma gravidez; barrigão, enjoos, noites mal dormidas, a deliciosa descoberta do sexo do bebê, cheirinho da pele, amamentar, de ver seus primeiros dentinhos nascerem…

Sim! Precisamos de nos despedir disto, com suavidade e amadurecimento. Nada deve ser apressado. Podemos colher frutos desagradáveis no futuro, por não ter isto resolvido internamente. Sem vivenciar o luto, podemos deixar aflorar sentimentos então guardados, e jogá-los inconscientemente no filho que chega. Derramamos sobre ele, em doses homeopáticas ao longo dos anos, as nossas amarguras.

Na minha trajetória como mãe adotiva, assisti, infelizmente ,episódios assim. O luto que não foi vivido pelas perdas ou impossibilidades e cobrados com juros e correção do filho inocente que chega. Mães que desejavam bebês louros de olhos azuis e que adotaram crianças mais velhas e pardas ou negras, que passaram anos pensando em devolver ao abrigo e que não os aceitam as como filhos. É muito doloroso, para todos. Pobre criança!

 

Quer adotar um filho?

Entra na fila. Demora mesmo e você tem tempo de amadurecer tudo com calma e pode declinar o convite para conhecer uma criança, caso não se sinta preparado naquele momento;

  • Por razões psicológicas,
  • financeiras
  • ou outras que possam acontecer.

Mais de 70% das pessoas inscritas em todo o pais, desejam o mesmo perfil;

  • Bebê,
  • menina
  • e branca.

Adianto que esta criança com este perfil, existe e em qualquer lugar do país. Mas prepare-se para esperar anos  por ela.

 

 

Uma pergunta:

– Você tem certeza de que seu parceiro é uma pessoa que não esconde nada de você? Será que ele é um mal caráter, assassino, bandido, psicopata ou se prostitui?

Assim como nossos parceiros, não temos garantias de como serão nossos filhos. Nem adotivos nem biológicos. Por preconceito ou ignorância (digo ignorância por desconhecer e não no sentido pejorativo), acham que filhos adotivos podem matar seus pais, fazer maldades, roubar e não se tornarem pessoas de bem.

Suzane Richthofen matou seus pais e era filha biológica. Seus pais a criaram para isto? Ensinaram a fazer isto? Orientaram para que ela os matasse e ficasse presa por anos? Não! Óbvio que não! Os casais Nardoni e Boldrini, mataram cruelmente seus filhos! Os pais deles, os ensinaram a matar? Creio que também não!

Garantias

Que garantias temos de que nossos filhos biológicos serão perfeitos e pessoas de bem? NENHUMA! Se a sua resposta, sem pestanejar ou questionar de que não temos garantia de nada, mas que faremos o possível para que nossos filhos se tornem pessoas de bem, bom coração, estudiosos, amorosos e preparados para a vida, PARABÉNS! Você está apto para adotar! Apto para dar e receber amor! Você sabe que adoção não é brincadeira.

Assim como nossos filhos biológicos, filhos adotivos são filhos que exigirão de nós, os mesmos esforços. Em maior ou menor intensidade. Só mudam de endereço! Assim como nossos pais, nossos irmãos, esposos e companheiros. O que deve mudar, para que possa acolher em sua vida um filho, é o olhar. É como você irá cuidar deste ser que chega em sua privacidade, sua casa e sua família. De como você está preparado para noites sem dormir porque ele teve febre ou medo, as inseguranças sobre qual a melhor escola e as melhores decisões para o futuro ele. Percebeu alguma coisa de diferente em ter um filho biológico? Não? Claro que não! As passagens, alegrias e preocupações, são as mesmas!

Amo profundamente minhas filhas!

Olho para elas brincando juntas como irmãs e me emociono, pensando que tudo que vem delas, faz a vida valer a pena!

Esta semana, fui dormir com os olhos cheios d’água. Minha filha mais velha chegou para mim e disse:

_Mamãe, você mora dentro do meu coração. Eu te amo muito! Me deu um beijo e foi dormir.

Deu para entender porque eu não tenho meu lugar garantido no céu? Filhos adotivos não saem de nós. ELES ENTRAM em nós!

Me chamo Junya Sant´Anna, tenho 47 anos e sou mãe da Barbara , 5 anos e Gabriela 4 anos.

Quando me perguntam se as duas são minhas filhas eu respondo:

SIM! AS duas! E ainda assim insistem….. As duas? SIM! As duas!

Boa sorte e se precisar de ajuda, pode me chamar!

Leia também:

Amor de mãe por Junya Sant Anna

COMENTE:

Avalie este Fornecedor

Seu endereço de email não será publicado. Todos os campos são obrigatórios

Ivete no Padecendo – ela é uma de nós

1 de maio de 2018

Move Mulher: maternidade e seus desafios

3 de maio de 2018