Quando a gente conta que teve uma experiência positiva com a amamentação, muita vezes, pessoas que não tiveram a mesma felicidade, se sentem atingidas, julgadas. Outras se sentem na obrigação de se explicar, de contar porque não conseguiram. Amamentação e instinto andaram juntos quando chegou a minha hora.
Quando resolvi escrever sobre a minha experiência, o objetivo foi só mostrar que, para algumas pessoas, isso acaba sendo uma experiência instintiva, que não existe receita. O que eu quero contar aqui é o que eu fiz, e como foi que deu certo pra mim.
Amamentação e instinto
Meu filho nasceu as 23:19 hs de parto normal, foi levado para o berçário enquanto eu me recuperava. Às duas da manhã ele estava no meu colo mamando pela primeira vez.
Me preparei para amamentar, à partir do sexto mês comecei a usar uma pomada nos mamilos diariamente. Também os esfregava com bucha no banho, mas não deu pra ficar tomando sol. Fiz curso de aleitamento, peguei apostilas e tal, mas não fiquei neurando com tudo o que foi falado. Aquele tal de amarrar os peitos no dia que o leite desce mesmo ficou só na teoria.
O fundamental nessas primeiras mamadas é observar se o bebe está pegando corretamente o peito, quando pega errado, o bebê mama menos e o peito dói mais. Nós podemos dar uma ajuda colocando dois dedos, um abaixo e um acima do mamilo comprimindo um pouco.
Peito ou chupeta?
A primeira coisa que eu e o Alexandre aprendemos foi que o Felipe nem sempre queria o peito para mamar, eu já sabia que deixar meu peito ser usado para chupetar não seria legal para nenhum dos dois. Não levamos chupeta para a maternidade acreditando que não precisaria dela. Felizmente me lembrei da dica que li em um dos livros que li durante a gestação: você pode usar seu dedo como chupeta. Deu super certo e eu e Alexandre íamos revezando colo e dedos. Era tirar o dedo da boca do moleque que ele abria um berreiro, e não era mesmo de fome! Saí da maternidade com ele no colo e meu dado na sua boca!
O dedinho mágico foi um sucesso na maternidade, mas não dava pra ficar fazendo isso em casa. Paguei língua pela primeira vez abrindo o pacote de chupeta e esterilizando algumas. Antes da chupeta que o bico do meu peito!
Na noite que o leite desceu, até então era colostro, meus seios pareciam duas pedras em chamas, ficaram duros, muito quentes e doloridos. Mas não usei a tal da faixa. Amamentei bastante e tomei banho frio. Cheguei a ter febre, mas no dia seguinte já estava tudo normal.
Tempo de mamada
A parte chata de amamentar era ter que ficar anotando as mamadas no caderninho (2009 não tinha nenhum app pra isso), cronometrar o tempo de mamada pra mudar de peito e esperar arrotar de madrugada. Meu bezerrinho mamava muito rápido, cinco minutos cada peito já estava satisfeito e não sobrava leite. Mas de uma hora e meia a duas horas depois ele já estava pedindo mais!
Eram mamadas muito rápidas mesmo e a gente não consegue medir a quantidade, mas isso não é motivo para preocupação, basta observar o ganho de peso e ir acompanhando o gráfico peso x idade. Ele ganhava muito peso. As pessoas questionavam sobre o tempo, sobre o intervalo. Amamentação e instinto, eu sabia que estava tudo bem.
Quando Felipe fez 28 dias eu voltei a trabalhar. Eu ia com o Felipe e a enfermeira. Ele ficava no bebê conforto ou no berço. A bancada do banheiro virou trocador. Assim eu trabalhava com o meu filho ao meu lado, amamentava e a enfermeira só colocava para arrotar e trocava as fraldas.
Quando ele estava prestes a completar quatro meses, foi para o berçário onde já estava matriculado desde antes de nascer. Era numa escolinha pequena, cinco minutos a pé do meu trabalho, eu ia lá a cada duas horas para amamenta-lo.
Não vou dizer que não tive um ou outro contratempo, algumas vezes o mamilo doeu sim, mas sempre tive na mesinha ao lado da poltrona de amamentação um
kit de sobrevivência para lactantes:
- Moringa com água (precisamos beber muita água e temos uma sede do tamanho do mundo)
- Lancinoh ou outra pomada de lanolina (usava depois da mamada, antes deixa o mamilo escorregadio)
- Concha protetora, enquanto ele mamava em um seio, o leite ia pingando no outro)
- Relógio para marcar o tempo das mamadas.
- Caderno para marcar o tempo das mamadas (hoje um celular já faz metade dessas coisas)
Meu filho foi teve amamentação exclusiva nos seis primeiros meses de vida e com um ganho de peso maravilhoso. Nasceu pesando 3,505 kg com cinco meses já pesava 7, 550 kg. Assim, eu sabia que tudo ia bem. E enquanto ele ganhava peso eu perdia os 18 quilos que havia ganhado na gravidez comendo muito. Mas deixei de comer tudo que pudesse causar cólicas, mesmo com as pessoas dizendo que não tinha nada a ver. Eu não comia chocolate, não tomava leite, não comia feijão, não comia nada muito condimentado. Ele não teve cólicas. A única vez que se contorceu e fez um cocô bem verde, foi num dia que fui a uma festa e comi feijoada.
Sim! Eu ouvi aquelas perguntas típicas:
_ Será que seu leite está sustentando mesmo?
_ Não é melhor dar um pouco de água?
_Mas ele já tem x meses, você ainda está amamentando?
Um blablablá danado! Recomendo não responder, o olhar certo, nessas horas, vale mais que mil palavras.
Ah, tem uma coisa! Bebês que mamam exclusivamente leite materno, muitas vezes passam dias sem fazer cocô. Isso é normal e aconteceu com o Felipe, quando passavam muitos dias, 5, 7, e eu notava que ele estava incomodado, usava um supositório de glicerina conforme a pediatra havia orientado.
Eu fui feliz unindo amamentação e instinto. Poderia amamentar mais uma dúzia tranquilamente. Meu filho mamou no peito até completar um ano de idade, eu já tinha muito pouco leite e ele desmamou com a mesma facilidade que pegou no peito pela primeira vez. Depois desse tempo, meu mamilos que eram escuros, haviam perdido a cor, ficaram rosa, bem claros. Achei uma boa hora apesar de ter sofrido um pouco com o fim dessa etapa. Não precisei tomar nenhum remédio para secar, foi tudo muito natural.
Filho único
Eu só tenho um filho, foi uma escolha do casal. Embora eu tenha parido e amamentado como manda o figurino, ser mãe é muito mais que isso. Ter um bebê é fácil, criar um filho é um desafio constante. Se a fase da amamentação foi tranquila, várias outras muito desafiadoras vieram depois!