Se você está em busca de praia, sol e calor em um lugar paradisíaco, pode ir para Punta Cana com criança ou sem! Punta Cana fica na República Dominicana.
E a viagem de avião, seis horas de BH até a Cidade do Panamá, quase três horas esperando a conexão, mais duas horas e meia até Punta Cana.
As crianças podem assistir filmes no avião, no resto do tempo passamos inventando brincadeiras à moda antiga! O saquinho pra indisposição da Copa Airlines é de papel e virou um fantoche bacana e cortou a onda de mal humor que se aproximava!
Peguei a única caneta que eu tinha, esferográfica, desenhei olhos, nariz, braços e pernas e comecei a conversar com meu filho como se fosse o fantoche, depois disso não teve saquinho que chegasse, ele pegou a minha caneta e foi desenhando em todos!
A conexão no Panamá demorou umas duas horas, tempo suficiente para fazer umas compras no Freeshop.
Punta Cana com Criança
Duas horas e meia de voo da Cidade do Panamá até Punta Cana na República Dominicana. Paga-se uma taxa de dez dólares por pessoa para entrar no país.
Cuidado, o roubo de passaportes no Aeroporto! Isso tem sido um problema para os Brasileiros, não tire os olhos dos seus documentos!
É interessante pegar o transporte para o hotel e ir mostrando o lugar pra criança. Eles são muito atentos e gostam de ver por onde estão passando ouvindo nossas explicações sobre os lugares.
Ficamos num hotel indicado pela Renata Abijaodi Tropical Princess Beach Resort & Spa, e ela já deu dicas e também já escreveu um texto sobre a viagem para o blog Bebê Pelo Mundo bebe em punta cana onde você pode encontrar muitas dicas legais de viagem.
É possível fazer uns passeios legais fora do hotel. A Renata havia recomendado o mergulho com os golfinhos, mas pra faixa etária do Felipe nós preferimos o mergulho com os tubarões lixa e as arraias.
Só as crianças com mais de sete anos podem realmente nadar com os golfinhos, com quatro anos ele só poderia ficar na beira do tanque e não seria muito divertido.
Mergulho com Tubarões
O passeio para mergulho com os vinte e quatro tubarões lixa seria mais divertido para um menino da idade dele, até porque o catamarã era todo fantasiado de navio pirata! E criança delira com essas fantasias. Não custa nada a gente embarcar na onda deles!
Os tubarões lixa são tranquilos, pacíficos, mas são grandes, podem chegar a quatro metros! Eles ficam bem no fundo da piscina e, quando mergulhamos, os vemos passando por baixo dos nossos pés.
As arraias ficam em uma outra piscina, também são enormes e, como ficamos em contato direto com elas, podemos alimenta-las e fazer carinho, todas elas tiveram seus espinhos venenosos removidos.
Demos muita sorte quando fizemos esse passeio, no barco costumam ficar uma média de cento e cinquenta turistas, mas no dia e horário que escolhemos eram apenas quinze, assim tivemos uma atendimento VIP da simpática tripulação.
Espanhol
Foi divertido ensinar algumas palavras em espanhol pro meu filho, ele passou o Natal aqui desejando “feliz Navidad” para a família, cumprimentando as pessoas com um “Hola! Como estas!” chamando tubarões de “tiburones” e por ai vai.
Dicas:
quando fechar com o hotel ou agência de viagem, confira se existem opções para o “All Inclusive” as vezes você paga um pouquinho a mais, mas tem direito a algumas regalias, bebidas melhores, quarto com antessala. Meu quarto tinha mofo e, como o hotel estava lotado não consegui trocar.
Ar condicionado central que você não consegue desligar ou controlar a temperatura do quarto é o fim da picada. Só era possível desligar o bendito se desligássemos a energia do apartamento, e era o que nós fazíamos quando íamos dormir!
Os estrangeiros não sabem que no Brasil se fala português. Se você já estudou outra língua, vale a pena dar uma desenferrujada antes de viajar pro exterior.
Quando você está indo embarcar no aeroporto de Punta Cana, prestes a deixar o lugar, eles tiram uma foto sua no início da fila do embarque, com uma pessoa vestido trajes típicos do carnaval deles, para tentar tirar seus últimos tostões antes que você parta!
Viajar pra lugares próximos à linha do equador é garantia de dias de sol e calor. Se você viajar no inverno deles, vai ter um clima bem mais agradável do que se for no verão, ou seja, o inverno deles é bem quente, bem agradável, o verão derrete seus melões!
Em qualquer das situações, beba muito liquido, use filtro solar e leve uma blusa com proteção UV para as crianças e para os adultos!
No avião, aproveite quando estiver sobrevoando países, estados ou mesmo o oceano pra ir mostrando a vista pros filhos, assim eles vão se interessando por Geografia e por História também. Se souber alguma história do lugar as crianças ficam mais interessadas.
Se você esquecer de levar a escova de cabelos ou pentes, relaxe, passei a semana toda penteando os cabelos com os dedos e deu tudo certo!
Arquiteta mineira morando em São Paulo desde 2017. Fundadora da Padecendo no Paraíso, organizadora do livro “Manual da Boa Mãe”, dona de casa, agitadora social, feminista,paciente oncológica (câncer de mama). Antiga aluna do Colégio Loyola.
Casada e mãe de um menino, sempre gostou de se envolver com as questões do universo feminino. Tem grande preocupação com o coletivo e acredita que é necessário unir forças para melhorar o mundo.
Estou arrasada… Devastada… Já não tenho lágrimas. Sinto-me desassistida pela lei, silenciada pelos prazos legais, protocolos, procedimentos, recomendações ministeriais, etc. Fica aqui o desabafo de uma mãe.
Não esperava uma atitude tão absurda do colégio do meu filho! Augusto tem 3 anos e, além do PTC, tem uma síndrome genética e algumas de suas características dificultam seu desempenho pedagógico. Como toda criança com deficiência, ele tem direito a acompanhante na escola para que possa aproveitar melhor das atividades e seja mediadora em seu aprendizado. A necessidade de tal profissional FOI SOLICITADA PELA PRÓPRIA ESCOLA, em reunião de avaliação na época da rematrícula. Foram expostos os pontos em que Augusto se desenvolveu e aqueles em que não avançou e precisa de acompanhamento individual para isso. Naquele momento, como pais concordamos que ele realmente precisa para 2014, mas a questão financeira da contratação se sobrepõe à necessidade da criança!!! Estamos nesse impasse desde outubro do ano passado e a escola alegando que nós precisaríamos contratá-la. Busquei informações na legislação vigente e fizemos denúncia no MP que se pronunciou por meio de uma recomendação ministerial de que o direito ao acompanhante fosse atendido. Em resposta à recomendação, recebi hoje um ofício do colégio afirmando que seu “progresso em termos de socialização e aprendizagem foi ótimo” e que a estrutura de 24 crianças em sala com duas professoras e uma professora de apoio/eventual para atender as necessidades pontuais de cada turma “É SUFICIENTE PARA ATENDER ÀS NECESSIDADES DE TODOS OS ALUNOS DA ESCOLA, DENTRE ELES AS DO AUGUSTO.”
Desabafo de uma mãe
Como assim? Contrariaram a avaliação da equipe da escola que o assistiu em 2013 quando a questão do custo da acompanhante bateu na porta da instituição? Quais profissionais foram consultados para que chegassem agora a essa conclusão? Com base em que a decisão da necessidade foi revisada, contrariando tudo o que foi dito em todas as reuniões, em todas as atividades dele colecionadas no portfolio?
Mas não para por aí. Em ofício entregue ao colégio, solicitei autorização da presença de uma acompanhante CONTRATADA POR NÓS junto ao Augusto até que a questão seja resolvida, justamente para que não iniciasse o ano desassistido. Nesse mesmo documento recebido hoje, respondem afirmando que “não recomendam a presença, dentro das salas de aula, de profissionais alheios ao quadro dos empregados do Colégio, por implicações de ordem trabalhista”.
Como assim2?! Meu filho não pode ter acompanhante porque eles tem preocupação com questões trabalhistas?
Preciso de ajuda! Estamos lutando dentro dos procedimentos do MP, mas, infelizmente, nesse país quem despende tempo e energia é quem precisa exigir seus direitos! Hoje já são 13 de Janeiro, estamos nesse impasse desde Outubro e logo as aulas começarão sem que meu filho seja atendido nas suas necessidades… Temos uma viagem familiar marcada para o próximo domingo que pode até precisar ser cancelada para continuar cumprindo prazos de ofícios, ajuizamentos, etc.
Já liguei para a Promotoria de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que está à frente no processo administrativo do MP. Fui orientada a documentar as necessidades dele DE NOVO! Parei minha vida hoje para tratar disso. Entrei em contato com a neuropediatra solicitando novo relatório explicitando ainda mais as necessidades do Augusto. Talvez, será necessária uma nova consulta para conversarmos a respeito. Consulta PARTICULAR, de encaixe, nem sei se terá como me atender imediatamente como precisamos. Acionei também a Terapeuta Ocupacional que o atende para fazer também o seu parecer. E assim também com a Fonoaudióloga, Fisioterapeuta, Geneticista, etc etc. E quem paga esse ônus? E quem se ocupa da minha louça na pia e das minhas roupas para serem lavadas, estendidas, recolhidas e passadas? Quem se encarregou de cozinhar o lanche ou jantar dele, já que tem alergia alimentar e não pode simplesmente comer um pão da padaria ou algum industrializado que ajudam outras famílias em emergências? Sem contar com o desgaste físico e emocional que um dia desses acarreta na minha vida, e que obviamente atinge o meu marido e inclusive o meu filho.
Me ver chorando aqui já é quase normal. A decepção com a DIREÇÃO de um colégio que se propõe a ensinar VALORES MORAIS acima de tudo me causa lágrimas impossíveis de serem controladas por uma mãe aflita… Augusto já conhece meus olhos mesmo quando choro discretamente, em silêncio, escondida no banheiro.
Para alguém de fora, a questão poderia ter um desfecho simples, apenas retirando-o dessa instituição, onde parece não ser bem vindo, apesar das palavras bajuladoras que encerram o ofício. Mas para nós, há algo a mais na prática de lá que está absolutamente divorciada da condução da questão pela direção e assistência jurídica. Ele é muito querido pelas crianças e professoras que lidam diretamente com ele; a equipe já está treinada para atender suas necessidades decorrente da alergia alimentar e preparados a prestar socorro em caso de choque anafilático; o espaço físico amplo e ambientes, predominantemente externos, são ideais para uma criança alérgica; além de algumas diretrizes específicas da pedagogia aplicada que tem profunda afinidade com a forma como o educamos.
Mas quando vejo um ofício como esse, muitas perguntas se fazem necessárias pelo bem de toda a sociedade! Quando foi que a ética se rebaixou meramente ao cumprimento legal? Daquilo que determina a lei, ou melhor, daquilo que NÃO determina a lei? O que passa na mente dos dirigentes dessa instituição quando usam ofícios, prazos e linguagem jurídica para se safarem da responsabilidade ética de atender às necessidades de uma criança especial que bate à porta da instituição? Hoje minha angústia não se deve à questão legal, mas ao posicionamento absolutamente alheio à moral.
Pensando em números: se atendem do Maternal 2 da Educação Infantil ao 9º ano do Ensino Fundamental, com uma média de 24 alunos por turma, são aproximadamente 336 alunos. Talvez algo em torno de 300 famílias matriculadas lá. Será elas sabem do tratamento dispensado ao meu filho e a outras famílias com crianças deficientes que certamente já procuraram a instituição em seus 25 anos de história? Será que essas 300 famílias consentem com o que esse Colégio está fazendo? É esse exemplo de ética respeito às pessoas com deficiência que queremos ensinar aos nossos filhos? Ou será que esse problema da inclusão só diz respeito à minha família?
Registrei um ofício no Colégio, na terça-feira dia 14/01/14,solicitando cópia das SEIS atas de reunião que comprovam a verdade sobre a real necessidade do Augusto ser acompanhado por uma tutora no ambiente escolar.Entretanto, apesar de finalizado o prazo de 48 horas para as providências, hoje fui surpreendida pela resposta de que não poderiam me oferecer tais cópias já que toda a documentação dele sequer estava mais na escola, estando com o jurídico e não há ninguém que poderia tomar providências durante as férias. Solicitei essa negativa por escrito e, após contato telefônico da recepcionista com a Diretora, foram orientadas que ninguém estava autorizada a responder por escrito ou documentar minha visita.Infelizmente, como todos bem sabem, as aulas começam em fevereiro e precisamos de uma solução, pelo menos temporária, para a questão! Esperar até fevereiro para recebermos as atas e esclarecer as afirmações do Colégio ao MP é absolutamente inaceitável! Não houve outra opção além de solicitar uma viatura para registro de um BO, comprovando que estou tentando solucionar a questão de alguma forma ainda em Janeiro e que a direção do Colégio tem pleno conhecimento de que tais atas são documentos que registram a verdade sobre as necessidades pedagógicas do Augusto, avaliadas pela própria equipe técnica da instituição.Nem preciso descrever o desgaste físico e emocional de sertão constrangida e desrespeitada. Chegar a ser necessário Boletim de Ocorrência policial por algo que poderia simplesmente ser entregue pela direção do Colégio sem maiores transtornos. A decepção por mais essa atitude me entristece, mas não me afasta do propósito de continuar lutando!O analista que encaminha nosso caso no MP me receberá amanhã para registrar tal ocorrido e juntar ao processo, bem como receber os relatórios dos profissionais que atestam concordância quanto à necessidade da acompanhante. Talvez até peçam as tais atas por solicitação do MP, embora, ao que parece, nem a ele há preocupação de informar a verdade! Portanto, amanhã será o dia decisivo. Terei a informação da decisão do promotor sobre como prosseguirá. Torcendo para logo ser ajuizada a ação e feito o pedido de antecipação de tutela, para que eu possa respirar um pouco mais aliviada até o início das aulas!
Os desafios e vitórias da maternidade atípica são inspiração para escrever. Blogueira da Caminho de Pedras e Flores. Colunista da Padecendo no Paraíso e Canguru OnLine. Descobriu na maternidade a maior oportunidade de autoconhecimento e de ajuda mútua para o mundo que queremos.
Uma gravidez planejada, desejada, o PTC e a superação.
“Já que eu tenho um teste aqui, melhor fazer logo. Acabar com essa expectativa e relaxar para aproveitar o feriado. Quem sabe uma caipixi mais tarde…”
Esse foi o pensamento que me despertou para fazer um teste de gravidez às 5 da manhã da terça-feira de carnaval de 2010. Eu ainda estava dormindo, para falar a verdade. Dei uma espiada no teste, e voltei para a cama sem me interessar muito pelo resultado. Cochilei mais um pouco e me dei conta que não adiantava nada fazer e não saber o resultado. Mas o que eu queria mesmo era não perder a primeira urina. Ainda estava dormindo… Mas, e se fosse verdade? Voltei ao banheiro.
Para a minha total felicidade: lá estavam duas linhas.
“O que quer dizer isso mesmo? É sim ou não? Mas está tão fraquinha…”
“É verdade? É verdade… É verdade!”
Repetia para mim mesma, sentindo as mais variadas emoções. Iniciei minha jornada nessa grande aventura que é a maternidade. A missão mais grata e mais difícil que uma mulher pode receber. E assim também comecei a “padecer no paraíso”…
Ninguém vai fazer ultrassom esperando que algo de errado será descoberto. Nunca pensamos que acontecerá exatamente conosco. Eu simplesmente não estava preparada para o que aconteceria naquele dia. Queríamos, apenas, ver nosso bebê de novo, detalhadamente e demoradamente! Todos diziam que ultrassom morfológico é o mais lindo… Nossa experiência foi um pouco diferente.
Juntos no caminho de flores – Superando o PTC (pé torto congênito)
O médico foi cuidadosamente indicado para esse exame. Doutor com excelentes credenciais, experiente em todo tipo de anomalia. Até o momento, um exagero da obstetra ao nos sugerir que fosse feito apenas com ele! Nesse momento, iniciamos nossas comprovações de que nada acontece por acaso.
Suas mãos ágeis revelavam detalhes mínimos do corpinho de nosso(a) bebê. Uma emoção atrás da outra! Até que ele delicadamente disse que o fato do bebê estar com os pés voltados para baixo prejudicava a visualização. Minucioso e paciente, virou e revirou o instrumento do exame incontáveis vezes sobre os membros inferiores. Não dava para ver com certeza, mas, aparentemente, o bebê apresentava um posicionamento anormal dos pés. Em letras minúsculas, lá no pé de página (como se escrever bem pequenininho e escondidinho minimizasse a força daquela informação):
“Obs. feto em apresentação pélvica condicionando provável pé torto posicional. Reavaliação posterior.”
Só li quando abri o exame no passeio. Apesar de tentar manter a calma, uma onda de mal estar tomou conta de tudo. Faltou fôlego. Um imenso nó na garganta. Eu nem sabia o que aquelas palavras queriam dizer ao certo, mas não era bom. Por mais que tentasse, impossível controlar as lágrimas… Ficamos ali no estacionamento durante alguns minutos, eu e meu marido, abraçados em silêncio. Voltamos para casa e decidimos não contar nada a ninguém. Mas então, o que fazer? Por maior que fosse o nosso esforço, naquele momento, era difícil manter a mente serena e continuar os compromissos diários. Cada um ligou para seu emprego e justificou que naquele dia seria impossível estar presente. Estávamos devastados. Senti com extrema intensidade o que é ser mãe, responsável pela vida iniciada dentro de mim.
Superação
Não deveria ser assim, mas comprovamos que só conhecemos nossa capacidade de superação em momentos extremos. Meu marido ergueu-se primeiro e começou nossa busca:
conhecer,
pesquisar,
investigar,
encontrar ajuda…
A única coisa que eu conseguia fazer era ficar ao seu lado. Repetia internamente sempre que as lágrimas surgiam:
“Não adianta desesperar. O bebê precisa de tranquilidade para se desenvolver. Seja o que for, vamos cuidar dele…”
Muitas vezes, as lágrimas não me obedeciam…
Esse dia foi seguido de muitos outros em que buscamos informações por todos os meios sobre o que significava aquele posicionamento anormal dos pés do nosso bebê. As ultrassonografias seguintes confirmaram que ele era um menino. Seu nome seria Augusto. Nome forte, sugerido pelo papai. Mas também confirmaram que nosso amado filho nasceria com uma deformidade chamada Pé Torto Congênito – PTC (mais informações no anexo 1), e que afetava seus dois pés.
Tudo aquilo parecia ser apenas um sonho ruim… Era muito difícil entender porque, de todos os bebês que conhecíamos, apenas o nosso teria PTC. Os estudos científicos nos diziam que a incidência é de 1 em cada 1.000 nascimentos! A chance de ter uma segunda criança com PTC é aproximadamente 1 em 30! Mesmo sendo recebido com todo o amor e dedicação, o sofrimento pelo que nosso filho viveria ecoava nos meus ouvidos continuamente… Até certo dia.
Naquele ano, eu atuava como professora referência para uma turma de crianças de 4 anos. Liguei o aparelho de som e um CD, que já estava dentro do aparelho, começou a tocar. A atividade das crianças foi sendo realizada e as músicas foram tocando até que a 11ª faixa iniciou.
Aquela música foi como um afago no meu coração…
Ouvi em silêncio, tentando dissimular minha emoção ao ouvir pelas vozes de um coral infantil:
“Meu corpinho é um presente, sobre ele há tanto para aprender… vou crescendo e descobrindo tudo o que ele pode fazer”.
Precisei pedir licença e sair da sala. Chorei intensamente por alguns minutos, sozinha no banheiro, ainda ouvindo a música que tocava meu coração. Senti como a fênix da mitologia grega que, quando morria, entrava em autocombustão. E, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas. Senti-me valente e grata pela oportunidade de me superar nessa experiência e receber um filho que também precisaria superar-se a cada dia… O CD “O Tesouro: músicas para alegrar a infância” acabava de ser lançado e a música “Meu corpinho” se tornou meu hino. Alento para os momentos de angústia e ansiedade, bálsamo para todos os dias…
Em outro dia, ouvi na televisão uma canção, velha conhecida nossa. O trecho transcrito no início desse texto, da canção Vem Andar Comigo, composta por Rogério Flausino, esteve presente no nosso comunicado de casamento.
“Vem, vem meu amor As flores estão no caminho Vem meu amor Vem andar comigo”
Rogério Flausino
Na época do casamento, o trecho da música apenas fazia menção aos cinco anos e meio de relacionamento, longo preparo emocional e material para nos casarmos. A imagem de caminhar sobre um caminho de flores imediatamente fez ainda mais sentido… De fato, nada nesse mundo ocorre ao acaso. Nossa responsabilidade de receber Augusto e seus pezinhos iniciava por preparar a sua chegada da melhor maneira. Buscaríamos todo o conhecimento que fosse possível alcançar durante os meses que faltavam para o grande dia.
Tempo
O tempo de gestação se tornou um valioso período antes de iniciar essa experiência de ter nosso primeiro filho com PTC bilateral. Buscamos sites, blogs, apostilas, cursos, livros, profissionais de referência, famílias que já haviam passado por esse caminho, etc. Visitamos ortopedistas e estudamos técnicas e métodos, apesar de leigos. Escolhemos a que mais nos parecia confiável: tratamento pelo Método de Ponseti (apostila disponível em anexo). Adaptamos o enxoval e nossa casa para recebê-lo com seus gessinhos. O ortopedista já estava eleito e aguardando nosso contato para iniciarmos o tratamento o quanto antes. O início da correção dos pés era indicada para os primeiros dias do recém-nascido. Quanto mais cedo iniciada, aproveitaríamos a flexibilidade do bebê e o posicionaríamos corretamente o quanto antes.
Família PTC
Nesse período, conheci a Família PTC. Mães e pais que trilhavam esse caminho e compartilhavam suas experiências, criando um movimento de ajuda mútua. Percebi que não estava sozinha nessa luta e que unir esforços era fundamental para superar os obstáculos futuros. Criado pela valente e generosa, Danny Leite Netto, o blog Marcelo Pé de Anjo virou meu guia.
A cada post lido, um mito era deposto e crescia a esperança de que nosso filho seria uma criança muito capaz e feliz como o Marcelinho… Conheci também o Grupo Pé Torto Congênito, criado por ela no Yahoo Grupos. Os relatos, dicas, a superação constante de cada família e as palavras de incentivo mudaram a nossa relação com o PTC. A partir daquele momento, senti que a história do nosso filho seria traçada com muito amor, dedicação e perseverança. Era um desafio e uma responsabilidade para a qual é difícil se sentir preparada. Mas, eu tive a certeza que nada passa inadvertido aos olhos do Criador. Se nosso Augusto veio assim, há um motivo. E certamente, seríamos amparados e encontraríamos condições para superar cada etapa de seu tratamento.
Amor
As imagens de casos semelhantes pela internet são devastadoras para o coração de uma mãe. Mas, nenhuma dessas fotografias registrava também o imenso amor que essas crianças podem despertar em nossos corações… Augusto nasceu no dia 15/10/10, lindo e saudável! Por parto cesariano, embora eu tivesse lutado com as dores durante toda a noite, acreditando que um parto normal me deixaria em melhores condições de cuidar do meu bebê. Que ilusão! O que faz uma mãe estar de pé e inteira para cuidar do seu filho é o amor…
Tratamento
Augusto iniciou seu tratamento com 4 dias de vida, usou 6 gessos longos bilaterais que eram trocados semanalmente, após manipulação dos pés e reposicionamento. Gradualmente, seus pés foram sendo corrigidos e mantidos pelos gessos. Nada na natureza se realiza em saltos, certo? Precisávamos viver cada dia e cada semana com serenidade e otimismo. Todo o meu empenho se voltava a encaminhar as energias que poderiam ser perdidas em choro, tristeza e insegurança, transformando-as em iniciativa para estudar, aprender e transmitir segurança para o meu filho, por estarmos oferecendo o melhor que podíamos.
Cultivar a alegria, em qualquer circunstância, sempre gera bons frutos!
Aos poucos, fomos percebendo como os gessos poderiam se tornar adereços para tornar nosso Augusto ainda mais “Augostoso”! Começamos a tirar onda com meias de bichinhos, combinando com as roupas dele, ou colando adesivos e fitas coloridas. Mas, certamente, a melhor criação dessa fase foi o meião branco(gesso) e preto(fita isolante) para acompanhar o uniforme do Atlético em dia de jogo!
Cirurgia
Estávamos transpondo essa etapa, mas ainda era necessário realizar uma cirurgia. Com 45 dias, ele foi internado, após passar por todos os exames pré-operatórios. Foi realizada tenotomia do tendão calcâneo nos dois pés para completar a correção. O procedimento em si foi um sucesso, entretanto me devolveram um bebê com pés completamente corrigidos como eu sonhava, mas com uma terrível ferida. O líquido utilizado para preparar a área da cirurgia se acumulou no bumbum do Augusto e provocou uma queimadura química, por ter permanecido assim durante muito tempo. Por incrível que pareça, as cirurgias dos pés não me deram trabalho nenhum. Ele já saiu do bloco cirúrgico com seus últimos gessinhos, mas precisou ficar sem fralda durante 21 dias para que a queimadura curasse. Manter um bebê de 45 dias, com gessos longos, sem fralda durante esse período não foi moleza… Mas vamos deixar esse capítulo à parte. Foi um acidente.
Aprendizado
Apesar de tudo o que aprendemos previamente e das dicas dos grupos de apoio, cuidar de um bebê com gessos longos não foi tarefa fácil. Aprendemos em todos os minutos com o Augusto. Desenvolvemos novas técnicas e adaptações a cada dificuldade que se colocava em nossas vidas. Tudo isso está descrito detalhadamente no Anexo 2, na esperança que possa ajudar outras famílias também.
Sinteticamente, aprendemos que gessos precisam estar secos para serem confortáveis durante as noites… Aprendemos que “fezes explosivas”, tão comuns em recém-nascidos, são atraídas pelo branco dos gessos, que precisam ser protegidos por plástico filme e fita crepe para permanecerem limpos após tais incidentes… Aprendemos que Funchicórea era nosso melhor amigo durante as trocas de gessos… Aprendemos que banhos de fralda molhada não acalmavam Augusto, então era preciso desenvolver alguma outra forma de banhá-lo…
Os gessos com os pés em hipercorreção precisariam ser mantidos durante 3 semanas e, em seguida, passaríamos para o uso de órtese. Entretanto, quando completamos 14 dias com o gesso, Augusto começou a chorar incessantemente. Foram 30 horas até que o dia clareasse novamente e, em desespero, liguei no celular do ortopedista implorando que ele arrancasse aqueles gessos. Minha sensibilidade àquela altura me advertia que havia algo errado, que ele estava sendo machucado.
Socorro
Fiquei branca. A enfermeira deixou de segurar as pernas dele e veio em minha direção. O tempo parecia congelado enquanto apenas enxergava aquela imagem. Não ouvia nada. Ela veio me amparar, claramente porque teve a impressão de que eu desmaiaria. As pernas de Augusto estavam onduladas, deformadas, brancas, feridas e descamadas. Meu bebê havia pedido meu socorro durante todas aquelas horas… Mas exatamente por aquele momento ser cruelmente real, ele precisava de mim mais do que nunca. Recobrei meus sentidos, busquei forças na parte de Deus que existe dentro de mim e me reergui como a fênix pela segunda vez, após esse momento de abatimento.
Após a retirada desse último gesso, decidimos com o ortopedista que não era uma boa ideia fazer novo gesso para completar as 3 semanas do protocolo após a tenotomia. Nos comprometemos a seguir rigorosamente a próxima etapa, que dependia apenas da nossa disciplina e obediência. Para evitar a recidiva, deveríamos usar a órtese de abdução (consiste de botas abertas na frente, amarradas por fivela e cadarço, e conectadas a uma barra metálica) 23 horas por dia por 3 meses, apenas retirando para um banho. Os dois pés tinham PTC, portanto, as duas botas foram colocadas a 70 graus de rotação externa de cada lado. Consultamos dermatologista, cuidamos das feridas e descamação com todo o nosso empenho.
Protocolo de uso da órtese
Nosso desafio agora era cumprir à risca o protocolo de uso da órtese, carinhosamente chamada de “amiguinha órtese”, por ser ela que permite manter os pés corrigidos e funcionais. Os trabalhos científicos apontam que com a utilização inadequada, a recidiva da deformidade ocorre em mais de 80% dos casos. Esse número contrasta com apenas 6% de recidivas em famílias que utilizam a órtese adequadamente. Nem preciso dizer que obediência virou palavra de ordem!
Não há como esquecer as pessoas que olhavam para as pernas “presas” dele. Não há como esquecer quantas vezes ouvimos que ele merecia um tempo maior de “liberdade”. Não há como esquecer a dor e a angústia ao ouvir que “é covardia prender o bebê assim”. Mas a recordação de seus pés ao nascimento e de tudo o que passamos até ali fortaleciam a nossa convicção de que estávamos fazendo o melhor para nosso filho. A 11ª faixa do CD “O Tesouro: músicas para alegrar a infância” nos alentava diariamente… Aprendi a cantar o nosso “hino” do início ao fim. Cantei inúmeras e incansáveis vezes.
Todo o nosso esforço foi recompensado depois de 3 meses, quando recebemos alta do uso de órtese por 23 horas. Passamos para o uso de 12 a 14 horas, à noite e durante a soneca da tarde até 5 anos. Augusto, pela primeira vez, desfilou com um calçado comum, semelhante ao de qualquer bebê de sua idade. Saímos do consultório emocionados, após calçá-lo com um pequeno tênis bege e azul claro, que havia me levado às lágrimas ao recebê-lo de presente no dia de seu nascimento. Um amigo que ainda não sabia do pé torto congênito nos presenteou com aquele tênis, que serviu de estímulo diário. Meu objetivo se cumpriu. Havíamos corrigido os pés de Augusto e ele agora podia usar aquele enfeite tão singelo, mas que era símbolo de nossa vitória! Para mim, os tênis menores que a palma da minha mão se tornaram um troféu e estão guardados até hoje com muito afeto e gratidão.
Tempo
Os meses seguintes guardavam inúmeras oportunidades com nosso filho! Tomar banhos demorados, brincar na banheira sem hora para acabar, sentir a chuverada no colo do papai… Abraçar e aninhá-lo no colo sem gessos ou a barra metálica era uma sensação sem igual! Pura ternura e amor…
Mas o tempo também nos trouxe incontáveis oportunidades de desobedecer ao nosso propósito das 12 a 14 horas de uso da órtese. Foram muitas as tentações, muitos os comentários sugerindo que fôssemos menos “caxias”, muitas festas em que fomos questionados e até considerados rígidos. O que eu tenho a dizer sobre isso? Só quem passou por essa experiência com um filho está em condição de avaliar o esforço necessário para transpor todas as etapas anteriores e como desobedecer, comprometendo o resultado alcançado, não é uma possibilidade!
Seguimos nossa vida alimentando diariamente o pensamento de cumprir o protocolo do uso da órtese. Algumas vezes, adaptamos nossos planos para festas e atividades. Algumas vezes, compensamos o tempo menor à noite com o uso durante o dia, apesar das manifestações contrárias. Mas os primeiros passos dele compensaram tudo o que vivemos anteriormente! Só que isso já é outro capítulo dessa história…
Descrevo nosso caminho de flores, superando o pé torto congênito, como uma oferta de gratidão às oportunidades que recebemos para tratar Augusto da melhor maneira possível. E na esperança de que nosso relato possa iluminar o caminho de outras famílias que tem ou terão seus filhos com Pé Torto Congênito.
Finalizo meu texto voltando à citação do início. Nunca mais fomos os mesmos, vivemos momentos muito maiores do que sonhamos, e o amor sempre esteve presente e cresceu a cada passo do caminho…
Os desafios e vitórias da maternidade atípica são inspiração para escrever. Blogueira da Caminho de Pedras e Flores. Colunista da Padecendo no Paraíso e Canguru OnLine. Descobriu na maternidade a maior oportunidade de autoconhecimento e de ajuda mútua para o mundo que queremos.