História das padês é uma coluna que dá espaço para essas mães lindas contarem suas histórias, esse post é da Daniella Matta Machado e a história de como encontrou seu filho, Adoção Amor. E ponto final.
Adoção Amor. E ponto final
Eu nunca quis ter filhos… isso até os meus 34 anos quando, apavorada com a rapidez que os anos passavam, resolvi tirar o DIU e ajudar a perpetuar a espécie… Por causa da idade, e por presenciar várias amigas lutando para engravidar, procurei logo um especialista em Reprodução Humana para fazer todos os exames cabíveis.
Já no primeiro, a deliciosa Histerosalpingografia (dá um google pra ver o que é!) veio o diagnóstico: Obstrução tubaria bilateral… Ou seja, trompas entupidas (como se tivesse feito uma ligadura!). Sem chances de engravidar pelo método natural ou inseminação artificial. Só na base da FIV (Fertilização in Vitro – bebê de proveta) mesmo!
Então começou o Show: quantias enormes de dinheiro para bancar doses cavalares de hormônios, injeções, milhões de exames de sangue, ultrassons. E depois, retira óvulo, colhe esperma, transfere embriões (máximo de 4 pela lei brasileira), congela excedentes, espera… E nada!
Sem explicações para o motivo de não engravidar. Mas, não pode desistir de cara… na Terceira sempre dá certo! E recomeça a peleja… e bora encher o coração de expectativa a cada tentativa e a recolher os cacos do coração, da família e do relacionamento a cada fracasso. Até que chegou que dia que eu disse CHEGA!
Não quero mais fazer tratamento.
E ai veio a questão:
eu queria ser mãe ou queria ser grávida?
O maridão queria ter um filho “do sangue”, ou queria ser pai?
Adoção amor
Depois de muita conversa e muito pensar, decidimos: Vamos adotar. Depois disso, os amigos, familiares, conhecidos e desconhecidos começam a contar casos da “amiga da prima da vizinha da irmã do cunhado da colega de trabalho” que não podia engravidar e que, depois que adotou, engravidou logo! Como essa fulana tem conhecidos! Como se adotar fosse desentupir as minhas trompas! Não é bem assim que a coisa funciona. Casos de infertilidade não aparente, pode até ser, mas não é meu caso e não ajuda muito ficar falando isso. (fica a dica!)
Resolução tomada, vamos para a parte prática: efetuar cadastro na comarca de residência – e se sentir horrível ao responder para a Assistente Social que:
“Não, não gostaria de adotar uma criança com doenças congênitas, má formações ou HIV”
Acredito que por opção ninguém quer, mas, para cada um, Deus tem Seus propósitos e sabe o quanto cada um é capaz! – e esperar o dia em que o telefone vai tocar, avisando que nosso filho nasceu.
A minha gravidez durou uns 60 meses… Durante este período, recebemos 5 chamados para buscar uma criança e, a cada vez que fomos chamados respondemos SIM!
Somos católicos. Eu, em particular, tenho uma relação muito legal com Maria, mãe de Jesus. Na primeira vez que nos chamaram para buscar uma criança, uma menina em Manhuaçu MG, eu fiz em “combinado” com Maria. Pedi a Ela que intercedesse junto a Jesus por mim e perguntasse a Ele se era esse o plano Dele para minha família. Se fosse, que Ele conduzisse as coisas da melhor forma, mas, caso não fosse, que Ela tirasse a vontade de ser mãe do meu coração.
Primeiro chamado
E assim foi acontecendo. O primeiro chamado, a menina recém nascida de Manhuaçu, sumiu… alguém levou.
Segundo chamado
Um menino de 18 meses, caçula de 3 irmãos cuja mais velha seria adotada pela madrinha, a do meio pela mãe da madrinha e que ninguém queria (nós quisemos!), a Assistente Social não permitiu que fossem separados. Justo (?), não sei dizer…
Terceiro chamado
O terceiro chamado foi duplo! Gêmeas que a mãe não queria porque já tinha 5 filhos e morava na zona rural de uma cidade pequena. Nós queremos! Desta vez, constituímos advogados e conversamos com o Juiz. Tudo certo. Podíamos ir buscar mas, na última hora a mãe desistiu de entregar as recém-nascidas!
Quarto chamado
O quarto, “a namorada do filho da manicure de uma amiga”, queria entregar a filha em adoção. A menina, de 6 meses, estava no abrigo e a moça não queria ficar com a criança. Lá vamos nós visitar a menina no abrigo. A bebê agarra o dedo do maridão e pronto! É nossa! Arruma berço, compra roupinhas, faz enxoval,… e no dia que ela iria chegar – 12/10/2010, Dia de Nossa Senhora Aparecida – não é que mãe pede dinheiro para entregar criança? Queríamos muito um filho mas, cometer um crime, jamais!
Nisso o tempo foi passando e as decepções foram criando um calo no coração. Mas eu continuava confiante no “combinado” que tinha feito com Maria e na certeza de que Deus não demora… Ele capricha!
Quinto chamado
O quinto chamado veio através de uma amiga, Juíza no interior. A criança, um menino de 3 meses havia sido abandonado. Na comarca não havia casais interessados, nós habilitados; ela, como Juíza, deferiria a Guarda Provisória, tudo dentro da lei. Vocês querem? Queremos….OBA! Chegou o grande dia! E lá fomos nós. Enfrentamos 12 horas e estrada, com acidentes e paralisações para buscar o bebe… Cadeirinha no carro e tudo o mais.
Só que, como o Padre Vieira diz:
“um filho biológico se ama porque é filho. Um filho adotivo é filho porque se ama”!
Um filho tem que nascer de algum lugar… uns nascem da barriga da gente, outros nascem do coração!
Tem muita gente que acha que, os casais que querem adotar não têm o direito de “escolher”. Se querem adotar, “peguem o primeiro que aparecer”! Eu ouvi isso muitas e muitas vezes!
Só que não estamos falando de uma “coisa” ou de um “objeto” que pode ser devolvido, caso você não se “adapte” a ele. Estamos falando de um ser humano. De uma criança, de uma pessoa que vai ocupar um espaço na sua vida e no seu coração de uma forma que você jamais acreditou ser possível! Não tem esse de “pegar o que aparecer”. Situações assim, podem acabar em tragédias maiores…
Quando chegamos para ver o tal bebê, ele não nasceu no nosso coração. Não era o nosso filho, não era o nosso Bernardo. Fizemos a viagem de volta mais horrível da nossa vida. O coração dilacerado. Uma dor imensurável. Resolução de não mais passar por essas dores. Não vamos adotar mais!
Cinco meses depois veio o milagre.
Chegou o nosso Bernardo. Na hora que nós o vimos pela primeira vez, no bercinho, com um macacão amarelo, sozinho, quietinho, dormindo, nós dois tivemos a certeza absoluta de que aquele era o nosso filho.
Foi uma explosão dentro de nós… Meu coração batia tão depressa e tão alto que achei que as pessoas do lado estavam ouvindo. Olhamos pra aquele serzinho e descobrimos dentro de nós um sentimento novo, intenso, imenso, que jamais tínhamos experimentado.
Como foi minha gravidez?
Difícil… Foram quase 60 meses de muita ansiedade, permeada por momentos de uma dor profunda e de vontade de desisitir diante do tanto de obstáculos surgidos.
E o parto? Natural ou cesárea?
Por Adoção. E que me desculpem os que afirmam que só é mãe de verdade quem teve Parto Normal.
Não amamentei, meu filho tomou fórmula desde o primeiro dia de vida. E eu não me sinto nem um pouco menos mãe ou culpada por ele não ter passado pela amamentação. Entre nós existe um elo firme, forjado no tanto que ele ouviu meu coração pular de alegria na hora em que o peguei nos braços pela primeira vez!
Ele se sabe amado por nós de forma incondicional. Ocupa todos os cantos da nossa casa, momentos da nossa vida, segundos dos nossos pensamentos.
Digo a ele, todas as noites na hora da história, que lá no Céu, quando Jesus perguntou às crianças: “Quem quer ir ser o filho da “Doutora” (que é como a babá dele me chama) e do “Fofinho” (como eu chamo meu marido), ele levantou a mão e disse: Eu quero!!!. Mas, como não dava para ele nascer da minha barriga, Jesus pediu a uma moça que emprestasse a barriga dela para o BÊ vir, e ela emprestou! (Viu como é importante emprestar as coisas???). Mas, que, desde o Céu, ele já era nosso filho, muito amado por nós. Ah! O nome do tal sentimento intenso que nós jamais havíamos experimentado?
Amor… e ponto final!
Só para dividir uma alegria e encorajar quem ainda está na batalha:
No dia 28/07/2014 saiu a sentença concedendo a adoção do Bê! Agora, juridicamente, ele é nosso, com nosso sobrenome! Ainda que eu nunca tivesse qualquer dúvida sobre isso…
Nada como uma decisão oficial para sossegar o coração de uma mãe!