Para aquelas que pensam que pedofilia não acontece perto da gente, queria deixar meu depoimento, depoimento de quem passou por esse tipo de situação mais de uma vez na vida… Nunca comentei com ninguém sobre estes fatos, por medo e vergonha, mas acredito que minha experiência possa ajudar a abrir os olhos de outras pessoas. Algumas crianças podem ter inimigos íntimos.
Inimigos íntimos
O cara do bar
Quando criança eu morava em uma pequena cidade de MG. Os tempos eram outros e meus pais permitiam que eu brincasse sozinha na praça que havia em frente à nossa casa, isso com cerca de 6, 7 anos.
Era uma criança muito expansiva, fazia amizade com todo mundo, e acabei começando a conversar com o funcionário de um bar que havia na praça, uma pessoa que era super conhecida e popular na cidade, tido como “gente boa” por todos.
Inicialmente, parecia que essa amizade era inofensiva, que me dava chicletes, picolé e Baconzitos quando eu pedia.
Com o tempo, ele começou a pedir algo em troca dessas guloseimas.
Ele pedia que eu entrasse no banheiro com ele, onde ele me colocava em pé em cima do vaso, abaixava sua calça, colocava o membro para fora e começava a se masturbar, encostado em mim.
Nunca entendi o que ele estava fazendo, não tinha maldade e não fazia a menor ideia do que era aquilo, mas no fundo, sabia que havia alguma coisa errada ali.
Graças a Deus não passou disso, mas poderia facilmente ter passado… Isso aconteceu várias vezes, e até hoje não me esqueço do cheiro daquele banheiro, cheiro daqueles desinfetantes em forma de círculo que são colocados na parte interna do vaso, e que me embrulha o estômago até hoje…
O gerente do clube
Algum tempo depois, nos mudamos para BH, onde meus pais compraram cota em um clube super badalado na época e que ficava próximo à nossa casa.
Quando eu tinha 11 anos, estudava à tarde e tinha o costume de ir de manhã neste clube para nadar, algumas vezes com minha irmã mais velha e outras vezes sozinha.
Nessa época, meu corpo já estava bem desenvolvido para a idade e pelo visto, estava começando a chamar a atenção alheia.
O gerente do clube era sempre muito simpático comigo e vivia puxando conversa.
Sempre antes de ir embora, eu tomava um banho no clube, e algumas vezes, quando eu estava trocando de roupa, esse gerente enfiava a cabeça dentro do banheiro e perguntava se estava tudo bem e se eu estava precisando de alguma coisa.
Achava estranho, mas agradecia, falava que estava tudo bem e ficava por isso mesmo.
No carnaval seguinte, fui à matinê do clube, vestida de havaiana, com um top tomara que caia e uma sainha feita de tirinhas de plástico, que deixava minhas pernas e a parte de baixo do biquíni parcialmente à mostra quando eu me mexia.
Certa hora, fui ao banheiro, e novamente apareceu o gerente, que já devia estar observando meus passos à distância.
Dessa vez ele não enfiou apenas a cabeça, ele entrou no banheiro, que estava vazio.
Me encostou em uma parede e enfiou a mão dentro da minha calcinha, alegando que as tirinhas de plástico da saia estavam entrando dentro da minha roupa íntima e que ele as estava arrumando.
Dei um empurrão e saí correndo do banheiro.
Vergonha
Chamei meu pai pra ir embora e ele não entendeu nada, já que eu estava me divertindo muito até então.
Não comentei com ninguém, estava com vergonha e me sentindo culpada, como se tivesse influenciado de alguma forma o ocorrido, por estar com uma roupa sensual, mesmo sendo uma fantasia de carnaval.
Passei meses sem frequentar o clube e, quando finalmente voltei, o descarado ainda teve a cara de pau de deixar um bilhetinho sobre a pia do banheiro quando eu estava lá dentro, e pediu que eu lesse. Estava escrito
“Me desculpe por ter arrumado sua saia, mas você estava muito bonita!”
Não acreditei no que li.
Fui embora e nunca mais voltei àquele lugar.
Soube que ele foi demitido algum tempo depois (pode ser que eu não tenha sido a primeira vítima e alguém o tenha denunciado).
Guardo na memória até hoje o nome e sobrenome deste indivíduo, e não sei o que faria se o reencontrasse, mesmo tanto tempo depois.
As marcas
Estes episódios, esses inimigos íntimos, deixaram marcas em mim. Não marcas físicas, pois felizmente eles não chegaram às vias de fato, mas marcas psicológicas que carrego até hoje.
A menina expansiva, sociável e amável se tornou uma adolescente fechada, antissocial e desconfiada de tudo e de todos, com reflexos na vida adulta.
Foi muito difícil conseguir me envolver com alguém e me permitir ter uma vida amorosa e sexual normal, pois sempre vinham à minha cabeça as imagens dos dois inimigos íntimos depravados que me abusaram na infância.
Hoje sou casada e sou mãe, mas ainda não consegui me livrar totalmente desses fantasmas que me assombram há tantos anos. Espero que um dia eu consiga, e peço encarecidamente a todos os pais que mantenham sempre os olhos abertos a quaisquer sinais de que algo errado está acontecendo aos seus filhos. O inimigo pode ser simpático, gente boa e legal, e estar mais perto do que imaginamos.
#eucombatoapedofilia
Leia também: