17 de julho de 2013
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Amamentar: dor e culpa

Meu sonho é uma família de capa da revista Crescer. Sabe como é? Papai olhando enlevado enquanto mamãe amamenta um bebê gordinho, gordinho? Pois é, não foi bem assim. Amamentar era sentir dor e culpa, nada dava certo.

O Rafa nasceu na maternidade Santa Fé às 23 horas 42 minutos do dia 02 de março de 2013. Correu tudo bem e ele nasceu de parto normal e super-rápido. Um lindo bebe, todo branquinho, que ficou sambando nas roupas que a mamãe dele levou pra maternidade!

Depois de algum tempo subimos para o quarto e uma enfermeira veio para ajudar a coloca-lo no peito. Já achei estranho porque ela queria que eu amamentasse deitada. Tive muita dificuldade nessa posição e o pequeno não pegou de jeito nenhum!

Amamentar: dor e culpa
por Bárbara Myssior

No dia seguinte foi um desfile de enfermeiras, cada uma orientava de um jeito! Da o peito sentada, deitada, de ladinho! Tava parecendo mais o manual do Kama Sutra!

Moral da história:

Rafa só conseguia mamar pegando o peito errado! As enfermeiras mais desorientaram que orientaram! Além disso me explicaram desastradamente, que a livre demanda consistia em o bebê mamar a hora que quisesse e pelo tempo que quisesse… Receita para o desastre, né?

Chegando em casa estava tudo lindo! Meu Rafa era (e e!) um bebê alegre, calmo e dengoso! E, pensava eu, muito guloso, uma vez que mamava de hora em hora e por uma hora e meia!

No quinto dia de vida dele fomos à pediatra! O bebê que saiu do hospital pesando 2,800 kg já estava com 2,900 kg! E, apesar da pediatra falar que eu estava fazendo errado, que ele tinha que mamar por 15 a 20 min em cada peito, eu decidi continuar do jeito que estava fazendo, pois o bichinho tinha ganhado 100 gramas!

Acontece que meus seios já estavam se ferindo e amamentar foi se tornando cada vez mais doloroso!

Leite, dor e sangue

Quando o Rafa tinha 10 dias a situação se agravou. Na mamada da manhã percebi a boquinha dele suja de sangue, até eu atinar que era o meu sangue! Logo depois de mamar ele regurgitou sangue e pus! De tarde comecei a passar mal e, de noite, pouco antes dele acordar pra mamar, tive uma diarreia e quase desmaiei no banheiro de fraqueza!

Minha mãe me acudiu e na hora que o Rafa acordou pra mamar eu estava de pé. Porém, quando o pequeno pegou o peito eu quase desmaiei de dor! Percebi que o bico do seio tinha acabado de rachar de vez e passei-o pro outro peito.

Foi aí que a vaca foi para o brejo! Foi ele pegar o peito e eu vi estrelas! Como ele percebeu a situação ele ficou muito nervoso e travou a boca no seio. Eu me desesperei de dor e empurrei o Rafa pra longe! Com isso meu bico literalmente partiu no meio! A sorte foi minha mãe estar junto porque senão o Rafa tinha caído no chão.

Meu marido chegou em casa e encontrou a sogra consolando um bebe que estava aos berros e com a boca suja de sangue e uma esposa semi desmaiada de dor! Ele correu na farmácia comprou os protetores de silicone pros mamilos, mamadeira e leite artificial. A situação estava tão complicada que, nem com os protetores, eu consegui amamentar! O sangue jorrava! Demos a mamadeira e o Rafa parou de chorar e apagou!

Calvário

Foi ai que começou meu calvário! Durante toda a madrugada minha mãe e meu marido alimentaram o Rafa. Eu ficava no banheiro chorando, impotente, pois era eu chegar perto dele para ele não querer a mamadeira. Eu não conseguia alimentar meu filho! O horror!

No dia seguinte meus seios estavam ingurgitados e os mamilos tinham inflamado! Fui correndo à minha medica com o firme propósito de secar o leite!

Lá chegando ela ordenhou o leite! Quase morri de dor! Como eu tinha muito leite ela pediu pra eu ir pra casa e pensar melhor. Era pra eu ordenhar e dar o leite pro Rafa no copinho. Mas quem disse que eu conseguia ordenhar? De noite meus seios estavam ingurgitados de novo e eu urrando de dor.

Ajuda

Minha mãe entrou em contato com a Mariana Rios, enfermeira e especialista em aleitamento. Ela nos orientou em como ordenhar e veio no dia seguinte. Foi um anjo que entrou na minha vida! Ela me ajudou a ordenhar, passar o remédio e me enfaixou, para que eu tivesse um pouco de alivio! Com a ajuda dela eu conseguia ordenhar 60 ml por mamada! O Rafa passou a beber meu leite e mamadeira.

De qualquer forma a hora de mamar era um drama. Eu chorava o tempo inteiro! Meus seios doíam muito e meus mamilos estavam em carne viva! Além disso eu me sentia a pior das mães! Eu não conseguia alimentar meu filho! Era só chegar perto dele que ele tentava alcançar meu seio e desistia da mamadeira!

Minha mãe e minhas tias, tentando me transmitir força, só pioravam a situação! Minha mãe contou que eu quase arranquei o mamilo dela, uma tia contou que teve três mastites e continuou amamentando e a outra me mostrou que o segundo filho arrancou um pedaço do mamilo dela!

Nova tentativa

Só que o dia de tentar dar o peito foi chegando e eu dando pra trás! Era pra tentar em dois dias com o protetor de silicone, mas eu estava tão insegura que estiquei esse prazo pra quatro! Estava apavorada! Meu maior medo era machucar meu filho! Eu tinha certeza de que se sentisse uma dor como aquela de novo eu ia jogar o baixinho longe!

A Mariana veio, conversamos muito e ela segurou minha mão. Colocamos o Rafa pra mamar com o protetor. Doeu pra caramba! E o peito que já estava sarando começou a machucar de novo! Eu surtei! Mas a Mariana foi super legal! Deu o maior apoio e falou pra eu tentar de novo quando os peitos estivessem totalmente sãos e pra começar devagar deixando o bebe 5 min em cada peito e ir aumentando o tempo ate chegar em 15/20 minutos.

Fiquei um pouco mais aliviada, mas estava difícil de aguentar! Por um lado minha sogra que nunca amamentou nenhum dos dois filhos fazendo pressão pra eu secar, do outro minha mãe e tias dando uma de Xena a Rainha Guerreira pra que eu amamentasse a todo custo! Queria amamentar, mas tinha medo de doer muito e eu ficar com raiva e transmitir esse sentimento pro meu bebê!

Expectativa

A família inteira estava na expectativa. Todo dia um perguntava quando eu ia amamentar! Eu cada vez mais inclinada a secar, pois estava morrendo de medo de fracassar! Todo dia eu rezava pra ele não pegar o peito, porque ai a escolha teria sido do Rafa, o que aliviaria a minha culpa! Foram quase 10 dias de puro terror! Até que me cansei! Falei pra mim mesma acabar logo com isso, sair dessa, abrir uma Skol!

Esperei um momento em a ninguém estava prestando atenção em mim, catei o baixinho e entrei no banheiro! Taquei o peito nele e não é que ele mamou! E sem o protetor de silicone não doeu muito… Mas me deu uma aflição horrorosa! Fiquei o tempo todo olhando o relógio pra dar 5 minutos e ele sair dali! Que coisa horrível! Não olhei meu filho, não acalentei meu filho, não curti o baixinho. Fiquei olhando o relógio.

Isso me deixou super mal, mas insisti e consegui. Com dois meses e meio e eu já não olhava mais o relógio. Mas também não curtia. Curtia ele, não o ato. Não gosto que mexam nos meus peitos… Quando ele estava calmo, amamentar era lindo igual propaganda de Doriana! Quando ele estava nervoso ele mordia, beliscava, arranhava, apertava, chorava pra sair do peito, chorava pra voltar pro peito, arrotava, regurgitava, esperneava. E isso o tempo todo! Às vezes ele só queria o peito e cuspia fora a mamadeira e vezes que ele cuspia o peito e só queria a mamadeira! E era essa montanha-russa q me matava!

Dificuldade

A dificuldade foi aumentando. Como ele não estava ganhando muito peso a orientação foi que toda mamada fosse completada com leite artificial. No entanto, como ele ficava muito nervoso no peito, quando ele pegava a mamadeira ele estava exausto e não mamava direito! Quando eu passava o dia dando só mamadeira a coisa fluía, ele mamava tranquilo e a vida continuava.

Só que nesses momentos meus peitos ficavam doendo muito e, por mais que eu ordenhasse não adiantava. Ele começou a rejeitar meu leite e os leites artificiais que usávamos. Chorava de fome, tinha cólicas, gases e prisão de ventre. Até o dia que mudamos de leite! E um dos leites mais baratos e sem frescura foram a salvação da lavoura!

Secar o peito

Só que esse leite é mais docinho, não lembra tanto o leite do peito quanto os outros e então, apesar de mamar com sofreguidão a mamadeira, o Rafa começou a não se interessar tanto pelo peito e eu, que já não estava mais de corpo e alma nessa dança fui deixando pra lá. A desculpa q eu precisava pra parar de amamentar apareceu. O Rafa começou a engordar, eu comecei a produzir menos leite, a equação Rafa+mamãe do Rafa+mamadeira mostrou-se prazerosa. Ele parou de brigar com a comida e eu parei de brigar comigo mesma.

Fui à minha médica e decidi secar o peito. A produção já era pequena. No dia anterior amamentei o baixinho o dia inteiro e o que selou a decisão foi a madrugada. Coloquei-o no peito e a briga foi enorme. Mamou 5 minutos ao todo e me deixou monoteta – um peito meio cheio, um peito meio vazio e os dois doendo horrores! Chorou de fome como se eu estivesse batendo nele e quando finalmente pegou a mamadeira mamou 40 ml e dormiu de exaustão. Depois disso acordou de hora em hora com fome. Com isso fechei a fabrica. Sem dor, sem arrependimento, mas cheia de culpa.

Foto: Bruna Tassis
Foto: Bruna Tassis

Mamadeira

Agora o Rafa mama só mamadeira. Sem briga, sem stress, só chora quando quer mamar e depois reclama quando não quer mais. Mama uma quantidade muito maior e com muito mais calma. Não tem mais cólicas, faz coco todo dia e esta engordando a olhos vistos! Mas na minha cabeça sempre vai ficar a imagem de como poderia ter sido. A verdade é q não dei conta. Psicologicamente não consegui. Sinto-me julgada o tempo todo pela minha família e pelas super mães que amamentam até os filhos terem 15 anos de idade. Continuo achando a se tem dente não tem que mamar, mas na minha cabeça eu ia conseguir amamentar até os seis meses… Meu comercial de Doriana… Não deu. Não consegui. Não me arrependo, mas vou viver pra sempre com um “e se” na cabeça, com a sensação de não ter conseguido ser uma mãe completa.

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22 de julho de 2013
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Vencendo o câncer de mama- Lições de vida

Em agosto de 2012,  poucos dias antes do meu aniversário de 34 anos, recebi o diagnóstico de câncer de mama. Estava no momento que eu avaliava ser o mais feliz da minha vida, fazia pouco tempo que eu estava trabalhando no setor que sempre sonhei estar na empresa, fiz um novo corte de cabelo; minha filha, Rafaela estava com 2 anos e 2 meses, cheia de saúde e ganhara uma linda festa de aniversário; meu marido, Rodrigo, estava trabalhando a todo vapor. Tudo andando conforme o  planejado e de repente, essa notícia. Lições de vida que servem para nos ensinar.

Eu me lembro como se fosse ontem, eu e o Rodrigo estávamos sentados de frente para o Mastologista e ele disse olhando nos meus olhos:

O que você tem é um carcinoma ductal invasor na mama direita.

Eu sabia que aquilo não poderia ser legal, um nome tão feio, mas ainda não tinha entendido e então ele ligou a tecla SAP:

Câncer de mama

Naquele momento, virei Maysa, “Meu mundo caiu”, fiquei sem chão, lidar com o câncer era lidar com a morte e a única coisa que veio na minha cabeça era a Rafaela. Eu queria muito ver minha filha crescer, que pegadinha é essa hein Jesus Cristo? Eu não quero morrer. E junto com isso, milhares de dúvidas:
– Porque? O que eu fiz pra provocar isso?
Passado o susto do diagnóstico, fui pra casa, tinha que dar a notícia pra família toda e a minha mãe era uma grande preocupação que eu tinha, mãe nenhuma gosta de ver filho doente, eu sei, sou mãe, se eu pudesse teria todas as gripes no lugar da Rafa, e foi isso que minha mãe me disse:
“Porque não eu? Porque você? ”
Então eu sacudi a poeira e disse pra ela que eu era muito forte, mas que se ela ficasse muito triste, talvez eu não aguentaria, eu precisava ver esperança nos olhos dela, a minha mãe chorou demais e eu pensei que eu tinha que enfrentar isso tudo e vencer, porque eu tinha muita sorte de ter a família que tenho.

Vencendo o câncer de mama

Minha vida se transformou por completo. As quimioterapias começaram, foram no total onze medicações e a minha vida não parou, eu tinha contas pra pagar, a Rafaela queria atenção, o Rodrigo também, a casa tinha que funcionar, comida, roupa, etc.
Percebi que eu não poderia deixar o câncer tomar conta da minha vida, eu tinha que educar a minha filha sem que essa doença fosse um peso pra ela. Criança de dois anos de idade, não precisa saber o que é câncer, mas tem que entender as mudanças que a doença trás, porque ela já tem noção de quando as coisas não estão normais.
A ajuda do Rodrigo foi essencial nesse processo, ele me acompanhou nas medicações, cuidou de mim e principalmente da Rafaela quando eu não conseguia levantar da cama.  Senti muito enjoo no começo e ela não percebeu nada, porque a gente sempre dava um jeito de passear com ela ou leva-la pra casa da minha mãe quando eu não estava bem.

A queda do cabelo

A queda do cabelo foi  outra etapa que tive que trabalhar para que a Rafa não sentisse, como eu sabia que ele iria cair, fui cortando de 15 em 15 dias, até que raspei com máquina quatro.
Nesse tempo, fui conversando com ela sobre esse assunto, de maneira bem leve e sempre falando a verdade, meu cabelo iria cair todo, mas iria nascer de novo.
Pra que ela entendesse que isso seria possível, mostrei fotos de quando ela era bebê e era carequinha, então fazia ela olhar no espelho com o cabelinho grande.
Deu tudo certo, ela conviveu com isso de forma natural, passava a mão na minha careca, brincava com a minha peruca, talvez o trabalho que fiz com ela, não tenha sido o motivo dela ter lidado com tanta naturalidade, criança é surpreendente, eles são desprovidos de preconceito e nos ensinam muito.
No Natal, a Rafaela pediu ao papai Noel que me desse cabelo de presente e pra ela uma máquina de lavar de brinquedo.

A medicação

As últimas medicações me fizeram muito mal, tive reações alérgicas  e o meu oncologista decidiu que eu teria que ir para a cirurgia, esse foi o momento mais difícil da minha vida. É muito doloroso pra uma mulher que se preocupava com a aparência perder os cabelos, as unhas e o seio, mas saber que eu ficaria livre do câncer me confortava e mais, me fortalecia.
Por falar em fortalecer, várias pessoas foram muito importantes nesse tratamento, minha família, meus amigos, minha mãe, o Rodrigo e a Rafaela, durante todo o processo recebi muitas mensagens carinhosas, telefonemas, amigos vinham a minha casa pra rezar uma novena pra mim, foram momentos maravilhosos que eu jamais pensaria um dia na vida que seriam proporcionados por uma doença tão agressiva.
Hoje eu faço um tratamento em casa a base de tamoxifeno e me sinto curada, plenamente curada e mais, me sinto grata. Grata por sentir gosto da comida, por andar sem dor, por ver meu cabelo crescer, poder passear com a minha filha, por leva-la na escola. Falando nisso, essa semana estava muito quente e resolvi não colocar peruca ou chapéu para levar a Rafaela no colégio, meu cabelo está muito curto e ela me perguntou:
– Mamãe, você vai na escola careca?
Perguntei se ela queria que eu colocasse o chapéu ou a peruca e ela respondeu:
– Não mamãe, você fica mais linda careca, você é minha princesa.
Não tive mais palavras pra esse momento, senti uma imensa alegria.
Por sete meses fui privada de coisas muito simples e que nos trazem muito conforto, mas jamais fui privada da minha felicidade, porque a maior delas, eu conheci em junho de 2010, mais especificamente dia 14, o dia que vi pela primeira vez o rosto da minha princesa.
O câncer não é atestado de óbito, e se tratado com fé, pode nos ensinar a viver.
Márcia Lins
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